Encontro com a Andorinha Escarlate

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Dentro do cinema a escuridão tomava conta de tudo. Freja acende a sua varinha com uma pequena chama e eles adentram mais fundo. Passando pela sala em que viram aquele roedor estranho e indo em direção à uma estranha porta que começa a se materializar através da escuridão.

Freja vai na frente e toca a porta que começa a brilhar, vários símbolos se acendem em vermelho e a porta ganha vida se abrindo no ar. O que havia através daquela porta não podia ser visto de onde os três estavam. Eles se entreolham e Herasim atravessa na frente.

- Mas o quê... ! -Exclama o meio-leão ao passar pela porta.

Aquilo era mais que surpreendente. Através da porta uma grande selva se estendia. O musgo das árvores pendia de trepadeiras. Várias flores de diversos tamanhos e cores e formas circulavam todos os lados. A luz ali era forte, quase como se o sol estivesse ao meio dia, mas, quando Geb olha para o céu tudo que vê são a lua e as estrelas brilhando tão perto que parecia irreal. Geb temia o que o esperava no fim daquele desafio. Eles ouvem uma batida alta e quando olham para trás, a porta por onde entraram já não existia mais.

Algo sobrevoa o local, deixando sua sombra na memória de Geb. A sombra fora tão rápido quanto chegara e era enorme.

- O que foi aquilo? - Pergunta Geb aos seus companheiros.

- Aquilo, meu caro, é o seu desafio. - responde Freja sibilando. - Guarde suas armas, não precisaremos delas aqui, as criaturas que aqui vivem já sabem de nossa presença e por que estamos aqui.

Geb faz como o ordenado por sua veterana, Herasim acopla seu grande machado nas costas e Freja guarda sua varinha dentro da manga da camisa. Assim que começam a andar as plantas rasteiras começam a emitir um brilho avermelhado.

- Não tema a natureza, este é o seu desafio. - Herasim fala com calma em sua voz ressoante. - Logo encontraremos o guardião e seu desafio será finalmente revelado. Portanto, anime-se. - O grande leosh põe a mão direita sobre o braço esquerdo ressaltando seus músculos e dando umas palmadinhas enquanto piscava com seu olho direito para Geb. Freja dá de ombros e balança a cabeça algumas vezes.

- Vocêsss, homenss... Sssempre com esssse jeito...

- O que você queria? Eu sou assim pelo menos. Forte e altivo, sempre pronto para uma boa luta! - reclama Herasim.

- É por issso que não achou sua leoazinha ainda. Uhuhuhu. - Freja se diverte provocando o grande leão ao seu lado. Herasim fica vermelho e fecha a cara com um biquinho que não parecia natural para ele.

Geb assiste àquilo meio incerto. Ainda estavam andando por aquela selva verde que parecia ter saído de um globo de neve. Enquanto andavam ele notava que as estrelas iam mudando de direção, a posição da lua também. Vez ou outro ele avistava um planeta ou uma nebulosa. Mas não tinha conhecimento o suficiente para identificá-las.

Finalmente chegaram em um ponto de bifurcação. À frente deles, duas rotas, não havia sinalização, apenas cores sustentavam as entradas. Em uma delas folhas mais escuras e uma estranha falta de luz marcavam o chão e as árvores, na outra parecia que o sol havia ficado mais forte. Freja usa sua varinha para retirar um pouco do orvalho das folhas mais próximas da bifurcação e, manipulando a água ela retira algumas informações que precisava e retorna para o grupo.

- Pelo vissssto não tem chovido muito por esssas áreas, a maioria das folhas do lado claro essstão sssecasss demaisss e asss do lado escuro já essstão cheias de fungos, mas este é o seu teste, meu garoto, você deve escolher qual lado devemos seguir...

Geb estava intrigado pela maneira em que Freja manipulou as gotas de orvalho, mas decide deixar para perguntar depois.

- Bom, creio que possamos ir pelo lado iluminado. Concordam? - Geb estava confiante, os dois companheiros apenas acenaram com a cabeça e seguiram o desafiante pelo lado iluminado.

Eles andaram por muitos metros até chegarem em uma pequena fonte. Ali as plantas davam espaço à uma visão de encher os olhos. Ao redor da pequena fonte haviam alguns pequenos animais se refrescando. Alguns, que pareciam pequenos felinos, tentavam pescar os peixes que circulavam a fonte de um lado para o outro, suas cores vivas indicando que eram saudáveis. Da fonte o caminho se abria em uma grande clareira por onde a luz refletida da lua tocava um grande espelho oval sem bordas, apenas flutuando no ar. Geb e seus companheiros circulam a fonte enquanto os animais que ali se refrescavam se escondiam em arbustos por perto e ficavam observando.

Geb olha para dentro do espelho e vê que ele não era refletido ali, nem mesmo Herasim ou Freja podiam ser vistos, mas ele via os animais que ali viviam e a natureza exuberante daquele lugar. De repente os três ouvem um farfalhar de grandes asas e, ao olharem para cima, veem um grande pássaro vermelho descendo. Ele tinha as feições de uma andorinha bastante crescida e de longe era maior que Herasim, o maior dos três. Ela pousa em cima do espelho apenas observando os três visitantes. Herasim e Freja se ajoelham perante o Guardião do Desafio e Geb os imita, mesmo que alguns segundos atrasado.

- O que possa fazer por vocês? - pergunta o Guardião dentro da cabeça dos três telepaticamente, a voz que usava era a de uma mulher já adulta na casa de seus 50 anos e exaltava sabedoria e conhecimento. - Creio que já saiba a resposta, mas não saberei se falarão o que realmente quero ouvir.

- Grande Guardião Escarlate, estamos aqui para desafiar a porta que fora erguida dentro da Árvore Milenar à qual a sua presença guarda com zelo e á qual fomos enviados pelo Grande Sábio e Zelador dos Segredos. - Responde Herasim prontamente mantendo a reverência.

- Muito bem. - comenta a grande ave na cabeça de Geb e, agora somente dentro de sua cabeça. - Você é o novato prodígio do qual ouvi falar. Fez bem em escolher o caminho iluminado, mas saiba que há coisas que só poderá descobrir se encarar as sombras.

A grande Andorinha Escarlate solta um assovio alto e os animais que estavam escondidos começam a sair detrás dos arbustos e de suas tocas. Muitos lembravam felinos e caninos, alguns, os maiores, possuíam galhadas como as dos grandes cervos das florestas. Geb prontamente faz a reverência aos recém chegados e se levanta.

- O que devo fazer para concluir o desafio do Grande Guardião? - Ele fala em voz alta. A ave farfalha suas grandes asas de tom rubi e fala em sua cabeça:

- Primeiro, deve voltar pelo caminho que veio e, quando chegar na bifurcação novamente, entre pelo caminho de sombras. A partir dali cabe a você fazer as escolhas. Seus companheiros que o guiaram até aqui não poderão ir convosco. Apenas sozinho poderá enfrentar meu desafio.

- Tudo bem. Aceito seu desafio, Ó Grande Guardião. - Vocaliza Geb abertamente e depois baixinho para seus companheiros. - Terei que ir sozinho, tudo bem pra vocês?

- Sim, imaginei que teria que enfrentar o desafio sozinho. - responde Herasim - Mas não se precipite. Este é só o primeiro e, teoricamente o mais fácil, mas não quer dizer que será fácil a ponto de passar com tranquilidade.

- Todoss osss guardiõesss tem sseuss próprios jeitoss de avaliar seus desafiantesss. Mantenha a calma e enfrente com tudo que tiver. - fala Freja o abraçando logo em seguida. - Contamos contigo.

Após isso, Geb dá as costas à fonte e se encaminha para o caminho de sombras.

A Árvore dos SegredosWhere stories live. Discover now