A Letra S || Stucky

Capítulo Único

     Mais uma vez, Bucky acordara sozinho na enorme cama de casal. Já fazia quase um mês que Steve havia saído para onde quer que tivesse ido, alguma missão urgente, e Bucky aos poucos se tornava mais e mais mal humorado pela falta do melhor amigo. Não era como se esperasse que Steve estivesse à sua disposição o tempo todo, mas... esperava que Steve estivesse à sua disposição o tempo todo. Quer dizer, ao seu lado. Os dois mereciam uma folga após quase um século sem paz, era para isso que estavam em Wakanda. Fora o pequeno detalhe de serem criminosos procurados no mundo inteiro, claro.

     E agora, com o sol nascente batendo na janela do quarto e esquentando a cama, fria onde Steve dormia, Bucky não conseguia evitar a vontade imensa de ver o loiro de novo. Não quando sonhava todas as noites com detalhes do passado que Steve nunca mencionara. Se é que podiam ser chamados assim, não eram meros detalhes, eram parts importantíssimas de suas vidas, de seu relacionamento. Acordava pela manhã com os dedos pousando sobre os lábios, sentindo o fantasma dos beijos de Steve, beijos que haviam sido dados há muito tempo.

     A casa parecia mais gelada agora que Steve não estava ali. A luz do sol entrava por todas as frestas, mas Bucky ainda enrolava seu corpo nu no cobertor grosso ao sair da cama e arrastava-se pela casa sem rumo até surgir um lugar para deitar (geralmente o sofá ou a rede da varanda) e pensar por que raios Steve nunca mencionara que eram um casal antes da Guerra.

     Considerou que talvez fossem apenas desejos de seu "antigo eu", mas o toque era real demais para ser imaginação. Sentia os lábios úmidos, a pressão dos dedos compridos contra sua pele. Bucky se lembrava até da sensação de ter que se esconder, do medo de serem descobertos a qualquer momento. As partes boas sempre vinham com algo ruim atracado como uma âncora, que os pesava para baixo e os prendia.

     Seguiu para a cozinha, as pontas do edredom arrastando pelo chão, porém não conseguia se obrigar a se importar. Precisava de algo doce, para preencher o buraco em formato de Capitão América em seu peito. Felizmente, comida não faltava naquela casa, principalmente doces quando Steve se ausentava por longos períodos de tempo.

     Com uma colher e um pote de algum chocolate cremoso moderno, saiu para a varanda, para se deitar na rede enquanto sentia pena de si mesmo. Balançava devagar, o olhar fixado no sol nascendo no horizonte, porém já não observava mais o presente.

     Ele conseguia encaixar o rosto de Steve no sol se quisesse. Porque Steve, em qualquer ano, qualquer época, era como o sol. E Bucky sabia que Steve diria o mesmo sobre ele, apesar de seu passado. O sorriso de Steve, seus olhos, tudo nele trazia uma paz para a mente de Bucky, não era fácil explicar.

     E agora olhar para o sol o deixava irritado. Qual era a utilidade do amanhecer se não vinha com os beijos e carinho de Steve? Qual era o propósito de um novo dia se o sol não traria sua luz, Steve?

     Por mais dependente que soasse, sentia que merecia um descanso, merecia uma vista grossa por alguns dias. Fazia uma eternidade que não ficava com seu melhor amigo (e amante?), o universo não deixava que tivessem 5 minutos de paz juntos desde 1940 e era tudo que Bucky pedia. Cinco minutos de paz e silêncio.

     Mais tarde, após sse alimentar apenas com qualquer porcaria que encontrasse nos armários, Bucky se deitaria na cama, encarando o teto, o corpo nu semi coberto pelo edredom. Os dias passavam lentos demais sem Steve, mesmo quando tinha alguma coisa para fazer, alguma cabra para lhe fazer companhia. Shuri e T'Challa lidavam com seus próprios problemas, Bucky estava completamente sozinho a maior parte do tempo.

     Virou-se para o lado, afundando seu rosto no travesseiro vazio e gelado de Steve. Todo o dia tentava se impedir de sentir o cheiro do shampoo do loiro, que já era quase imperceptível na fronha. Além de suas roupas, era a única coisa que sobrava na casa que ainda exalava o perfume de Rogers. E aquilo ia mais fundo que o imaginado, fisgava lembranças e mais lembranças na memória de Bucky. Como o primeiro beijo dos dois. Como o primeiro "eu te amo" trocado.

     Como Steve o pedindo em casamento, pouco antes de Bucky partir para uma guerra que nunca terminaria de verdade.

     Fechou os olhos com força, tentando evitar que as lágrimas escorressem. Sentia-se estúpido por estar chorando, por chorar simplesmente porque Steve não estava ali, por sentir saudades de Steve. Mas não era como se alguém estivesse presente para julgá-lo, então era só uma questão de desligar sua própria voz da consciência. 

     E naquela posição, adormecia.

     Até acordar com a brisa leve da madrugada, vindo da porta da varanda que havia esquecido aberta. Não estava mais tão frio, por algum motivo. E Bucky estava em alerta, havia algo diferente na casa.

     Arrastou-se para a sala, com a certeza que estava seguro desarmado e enrolado no cobertor. Ainda não estava totalmente acordado, mas sabia que podia confiar em seus instintos e treinamento para sair de qualquer situação ruim que pudesse acontecer. Wakanda o deixava relaxado demais, não havia perigo.

     E na porta aberta, estava Steve Rogers. Capitão América. Em seu uniforme imundo e com uma barba bem maior que a que esbanjava quando deixara Bucky um mês antes. Ele deu um meio sorriso, como se incerto do que o aguardava, lendo a expressão confusa e chocada de Bucky.

     — Steve? – mal reconheceu o timbre de sua voz ecoando pelas paredes.

     O sorriso de Steve aumentou e Bucky retribuiu, seu peito sendo preenchido por um calor gostoso, um alívio. Sem se importar com o cobertor que segurava, correu até Steve, abraçando-o com força e respirando profundamente em seu pescoço, o cheiro familiar que sentira tanta falta causando borboletas em seu estômago. 

     Sem pensar, afastou-se por um segundo, antes de puxar o rosto de Steve contra o seu com a mão, em um beijo intenso. A surpresa de Rogers foi engolida pela emoção de Bucky, que logo se transformou na emoção de ambas as partes e não apenas do moreno. Suas mãos largas envolveram a cintura nua de Barnes, puxando-o para mais perto, se possível.

     — Eu senti saudades. – Bucky murmurou com os olhos fechados, a testa apoiada contra a de Steve.

     — Eu também.