PARTE I: Zinco

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"Realidade é o pesadelo do mundo dos sonhos"

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"Realidade é o pesadelo do mundo dos sonhos"

Esaú Wendler


7º Setor - Programadores e engenheiros mecânicos

Braço de Órion, Via Láctea

Dezembro de 2179, às 08h13


Zinco. Crômio. Titânio. Cobalto.

Kyungsoo podia sentir o gosto de metais pesados na boca, de sonhos perdidos e de sangue. Seus pés estavam mergulhados em água, tão escura e viscosa que poderia ser confundida com petróleo. A pele formigava a cada passo arrastado, e tudo em que conseguia pensar resumia-se a uma única palavra, de poucas letras e uma pronúncia curta. Dor. A dor era palpável, quase como se pudesse pegá-la no ar, embora não estivesse ali de verdade.

Sua mente, no entanto, dizia-lhe que era real. Cada pontada, cada tontura e cada respiração ofegante. O Underground nunca fora tão real. Tão vivo, embora essa não seja a palavra mais adequada para caracterizar um mundo de sombras e ruínas. O jogo possuía como cenário uma espécie de realidade invertida e obscura, como a versão tenebrosa do local ao qual estava acostumado a chamar de lar. Assim, por mais que Kyungsoo reconhecesse cada zona daquele lugar, ele também parecia extremamente novo.

— Cinquenta e dois metros até o portão principal — sussurrou para si mesmo, tentando manter o que lhe restava de sanidade. E também de memória. O rapaz decorara cada trajeto da Zona 7 até a Zona 6, cada distância entre as paredes, até mesmo os metros entre o chão e o teto, embora agora tudo lhe parecesse diferente. — A temperatura é de aproximadamente 25 graus celsius.

Os corredores ainda tinham feixes de luz azul fluorescentes nas paredes metálicas, visíveis entre vincos e canaletas compridas. Naquela realidade, porém, a energia não parecia estar sendo gerada corretamente, talvez por conta de todos aqueles cabos elétricos pendendo do teto, quase mergulhados na água imunda. Os fios coloridos se moviam e soltavam faíscas, quase como seres vivos, e as lâmpadas azuladas piscavam incessantemente.

Quarenta e oito metros, ele pensou. E aquilo soava como se estivesse fazendo a contagem até sua morte.

Ele quase podia prever o que viria a seguir quando sentiu as paredes tremerem e o corredor ribombando, tão alto que fazia seus ouvidos doerem. Um enorme muro de concreto se ergueu atrás dele, e, como se não bastasse, o ruído já familiar de metal contra metal preencheu o túnel. Kyungsoo tinha duas opções: lutar contra a criatura que vinha cambaleando do outro lado do corredor ou tentar escalar aquela muralha pedregosa e, na melhor das hipóteses, morrer eletrocutado pelos fios que deslizavam por cima dela.

UndergroundWhere stories live. Discover now