Wolf- Flaming Reapers 2

Capítulo 5

Chelsea

Eu me olho no espelho e suspiro, fechando os olhos com a visão. Eu não gostava de espelhos... Eram um lembrete de tudo que aconteceu comigo nos últimos quatorze anos, mais ou menos. Minhas cicatrizes estavam espalhadas pelo corpo todo, até mesmo uma pequena na têmpora, mas que era apenas visível se eu afastasse meu cabelo.

Lembro com precisão de cada uma delas. Espaçamentos, chicotadas, alguns arranhões que eu mesma fiz, com a unha, nos dias em que eu adquiri uma coceira insuportável pelo corpo todo, quando tinha ainda dez anos, mas o orfanato apenas me jogou em uma das celas solitárias e me deixou lá até parar.

Balanço a cabeça de um lado para o outro, afastando as memórias, e suspiro. Abro os olhos mas evito o espelho, e saio do banheiro com uma toalha amarrada em volta de meu corpo. Pego uma calça de moletom branca com duas listras rosas bebê verticais nas laterais e uma blusa do mesmo tom de rosa no armário, das roupas que Aqua havia separado para mim.

Seco o cabelo rapidamente com a toalha, boto a roupa e depois penteio os fios ruivos. Pego um daqueles chinelos de uma tira só branco no armário e, quando ia me dirigir a porta, vejo a maçaneta girar e Aqua logo está entrando no quarto.

Eu congelo, mas não volto a minha expressão sem vida. Wolf estava certo, aquilo não estava ajudando em nada. Mas, por mais que eu queira largar todos esses sentimentos e pular nos braços da minha amiga, eu não posso. Porque, por mais que eu entenda, o ressentimento ainda está cravado no meu peito.

"Wolf me disse que estaria descendo..." Ela diz, sua voz parecendo receosa, e parte de mim odeia o abismo entre nós... A outra parte sabe que eu fui a única a criar esse abismo, e está um pouco agradecida por ele. Dizer que eu tinha sentimentos contraditórios é pouco.

"É, bem, esse quarto já está me dando nos nervos." Percebo quando ela sorri que seus olhos estão vermelhos. Me pergunto se é por minha causa ou por outra coisa, mas não falo nada.

"Chel..." Ela começa, mas eu nego com a cabeça, sem conseguir pensar em ter essa conversa ainda. Suspiro e abaixo a cabeça, olhando para meus pés.

"Hoje não, Aqua. Ainda não, tudo bem? Eu sei que temos que conversar sobre tudo isso, mas eu preciso de um pouco de tempo. Preciso me acostumar com a ideia que não estamos mais no orfanato... Sei que você fugir não foi uma coisa ruim, e também sei que não posso ficar chateada por isso... Mas muita coisa aconteceu enquanto você estava aqui. Eu só preciso de um pouco de tempo, está bem?" Pergunto, e quase volto em minhas palavras quando olho novamente para ela e seus olhos enchem de lágrimas.

Aqua sempre teve esse poder de fazer isso comigo. Por mais que ela seja forte, também é muito emotiva. Toda vez que seus olhos se enchiam de lágrimas, pela menor coisa que fosse, eu era capaz de fazer tudo para que aquilo parasse. Hoje não.

"Tudo bem..." Ela sussurra, e eu agradeço que impeça as lágrimas de escorrerem. Sua voz era gentil, como sempre foi. "Eu te amo, sabe disso, não é?" Pergunta, e eu assenti com a cabeça, suavizando um pouco da minha expressão. Aqua me envia um sorriso pequeno e sai do quarto.

Eu suspiro, fechando os olhos por um segundo. Era estranho, essa sensação. Sempre fiz tudo que pude para melhorar a vida de Phoenix, e, depois, quando ela se foi, de Aqua. Afastá-la agora ia contra tudo que eu sempre acreditei, mas eu prefiro pensar que é necessário.

Depois de alguns segundos com os meus pensamentos, eu me forço a sair do quarto, antes que Wolf suba aqui com sua pistola pronto para botar uma bala na minha testa. Me pergunto se isso seria tão ruim assim, e o pensamento me faz soltar uma risadinha. Devo estar perdendo a minha cabeça.

Atravesso o corretor, o barulho alto vindo do clube atinge meus ouvidos, e meu coração acelera. Esse lugar não era como nada que eu já vi antes, e provavelmente vai contra tudo que o orfanato acredita. Isso envia uma confusa dose de medo e satisfação ao meu peito.

Desço as escadas rapidamente e arregalo os olhos quando vejo o que acontece no primeiro andar. Bebida por todo o lugar, mulheres semi nuas, algumas no colo de outros motoqueiros... Outras fazendo... Ai meu deus.

Engoli em seco, mas me forço a não deixar isso me afetar tanto. Apesar do nervosismo, eu estava um pouco curiosa com tudo isso. Tenho que me controlar para não pular de susto quando sinto um toque no meu ombro. Me viro para encontrar dois homens idênticos sorrindo para mim.

"Olá querida..." O que estava tocando meu ombro diz para mim, sua voz rouca. A única diferença entre os dois garotos era que o que falou comigo tinha o cabelo totalmente loiro, enquanto o outro tinha as pontas pintadas de azul.

"Está perdida? Posso te ajudar a se encontrar..." O de cabelo azul murmura, malícia boiando em seus olhos, assim como no outro menino, que eu diria ser obviamente seu gêmeo.

"Gash, Cash... Deixem a menina em paz, pode ser?" Outra voz desconhecida murmura atrás de mim, e eu me viro para ver um menino com uma gravata borboleta engraçada arqueando a sombrancelha para os gêmeos.

"Vamos lá, Ace... É uma das suas ou algo assim?" O cara de cabelo azul, que Ace apontou como sendo Gash, murmura, rolando os olhos.

"Não, cara... Essa é Chelsea... Amiga de Aqua. Se vocês não quiserem Crow, Wolf e, com sorte, eu, chutando seus traseiros, se afastem." O tal Ace murmura, e os dois gêmeos bufam ao mesmo tempo, em uma bizarra sincronia.

Cash pisca para mim enquanto Gash sorri, e os dois se afastam, se juntando a festa. Eu suspiro, e volto meu olhar a Ace, que me encarava com uma diversão no olhar. Aqua já tinha dito algo sobre ele, se eu não me engano.

"Procurando por Wolf?" Ele pergunta, arqueando uma sombrancelha, e eu suspiro.

"Para ser sincera, eu não tenho ideia..." Murmuro, e ele solta uma risada rouca e divertida.

"Bem, então acho que Wolf vai ter que servir... Vamos?" Ace me oferece seu braço de uma forma engraçada e antequada, e eu imediatamente gosto dele. Sorrio um pouco e seguro seu braço.

Andamos juntos no meio da multidão, e eu me pergunto se o mundo lá fora é assim também...

Bem, agora que eu saí da minha prisão, teria que conhecer pedacinho por pedacinho. A pergunta era... Eu teria que conhecer isso sozinha, ou teria alguém para me mostrar.