Capítulo 12

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Luke

Não acredito que, depois de tudo, a cena se voltou a repetir. Nós já tínhamos virado a página, seguido em frente. Eu sei o quanto errei, mas já levei os sermões de toda a gente quanto a isso, e ela já me tinha perdoado, e tudo já se estava a recompor. E agora parece que voltámos ao início.

Eu sei que ela não tem culpa, e sei que no fundo Bradley fez o que tinha de ser feito (apesar de lhe ter dado um gozo enorme, de certeza), mas eu não queria que isto acontecesse e foi por isso que não lhe disse nada mas, pelos vistos, devia ter dito. No fundo sabia que o devia ter dito, mas estava com medo de a perder, o que acabou por acontecer de qualquer das formas.

- Luke, já queres comer alguma coisa?

- Não, deixa-me estar aqui em paz. - agarrei-me à almofada e pus os fones, ouvindo as músicas que antes ouvia com ela no quarto dela aos altos dos berros, o que nos fez ter várias visitas de vizinhos chateados.

Tudo no meu quarto me lembrava ela: a parede com fotografias nossas, as coisas que ela me dava, as gavetas com roupa dela, e até as almofadas tinham o seu cheiro. Estava tudo a deixar-me paranóico. Ela neste momento estaria provavelmente a dormir com o James ou, quem sabe, mesmo com o Bradley. Só de pensar nisso começava a crescer raiva dentro de mim. Nunca tinha gostado daquele rapaz, provavelmente por saber que ele sempre teve segundas intenções com ela e atirava-me sempre à cara que ela antes de ser minha já era dele desde que nascera. Às vezes faz-me impressão pensar em como ele consegue estar apaixonado pela própria prima, mas desde que conheço a Mafalda que percebo que ela também sempre teve um grande carinho pelo primo e, apesar de tudo, nunca a privei de falar com ele. Eu quando quero sou estúpido, mas tudo o que faço é para a proteger. Nós já estávamos chateados por eu lhe ter dito que eu era a única pessoa que ela tinha e que ela não sabia nada do amor e, para ajudar, agora ela tinha descoberto o que eu andava a esconder. Juro que a única coisa que queria era o bem dela, sei bem a porcaria que fiz mas estou arrependido e não acho que mereça tanto desprezo por algo que já passou.

Agarrei numa fotografia nossa de uns dias antes do acidente, na praia. Ela estava sorridente e olhava para mim com o seu brilho nos olhos que só a ela pertence. Pergunto-me se voltarei a ver aquele olhar e aquele sorriso dirigidos a mim da mesma maneira que via antes, enquanto lágrimas escorriam pelo meu rosto. Gostava que tudo voltasse ao que era antes, quando a conheci e começámos a sair. Lembro-me de cada detalhe da primeira vez que falámos, como lhe contei a ela. Lembro-me dela me entornar um sumo para cima e de me fazer sorrir com isso. Vi logo que não era a santinha que parecia, era dura e difícil, e achei-lhe logo piada. Comecei a sentar-me a seu lado nas aulas, o que ela detestava. Adorava vê-la irritada, adorava ver que ela me detestava e ao mesmo tempo me achava piada. Pus-me a pensar na primeira vez que a pedi para sair comigo.

- Hoje vai estrear um filme muito fixe no cinema. - disse-lhe enquanto a seguia até ao seu cacifo.

Ela pôs os livros lá dentro, tirando os que precisava, sem olhar para mim.

- Que bom para ti. Detesto cinemas.

- Vá lá, vem comigo.

- Estás-me a convidar para sair? - ela ergueu a sobrancelha olhando finalmente para mim.

Sorri-lhe com ar sugestivo.

- Estou a obrigar-te a sair comigo.

- Uma novidade para ti: não vou contigo a lado nenhum. - fechou o cacifo e virou-me costas, mas eu agarrei-lhe no braço.

- Dá-me uma oportunidade de te demonstrar que não sou como tu pensas.

- Como penso o quê? Sabes lá o que eu penso. - e largou-se da minha mão, ficando numa pose defensiva, cruzando os braços com os livros ao peito.

Amnesia {portuguese}Where stories live. Discover now