Can I Be Him?

1º Capítulo: You Walked Into the Room.

Abri meus olhos ao som insistente do meu celular vibrando sobre a mesa. Tentei ignora-lo, mas o barulho não me deixava voltar ao sono gostoso que estava antes. Quem eu queria enganar? Não estava tendo um sono gostoso, não conseguia dormir bem já faziam dois meses e tudo por causa dela! Como pude ser tão estúpido? Mas agora não era hora de voltar a remoer o que aconteceu, precisa fazer esse maldito celular parar de vibrar! Olhei para o visor, meus olhos ainda ardendo com a luminosidade logo avistaram o número mais do que conhecido. Não, não vou te atender Ian, pela vigésima vez nessa semana.

Mas ele pareceu ignorar minhas ordens e continuou insistindo, agora por mensagens. Ok, vou ler só para saber o que não quero responder. "Vamos no Irish Pub, aquele que abriu perto da sua casa, comemorar a gravidez da Jenny!". Comemorar a gravidez? Como se fosse novidade, já era o terceiro filho deles! E por que escolheram um Irish Pub? Isso é mais do que traição aos negócios da família. Mas por que estava preocupado com isso? Não iria mesmo, não queria ter que ver minha irmã me olhando com cara de culpada e evitando a qualquer custo falar o nome dela. Jenny se sentia culpada, ela que insistiu para a chamar para sair, ela que insistiu que seria bom pra mim um relacionamento, mas sabia que nada era culpa dela, nem do Ian, nem de ninguém...a não ser minha, eu que fui tolo de me apaixonar e me jogar de cabeça achando que ela era a mulher da minha vida. Não culpava minha família, mas não estava preparado para os encarar, não estava preparado para encarar qualquer pessoa que não fosse o meu trabalho, e esse ainda estava fazendo muito porcamente diretamente da minha casa.

Ignorei as mensagens de Ian com os detalhes da noite e liguei a tv. Um jogo de rugby estava passando, ok, não era minha atração favorita no momento, mas nada mais era. Me contentei eu ouvir os sons dos jogadores dando, literalmente, o sangue no jogo para me acomodar embaixo da coberta novamente e tentar dormir. Provavelmente algumas horas se passaram, pois quando abri os olhos minha casa estava escura novamente, realmente havia dormido o dia todo? A resposta veio pelo ronco do meu estômago. Uma coisa tinha que ficar feliz, com tudo isso que havia acontecido na minha vida, a única coisa que não havia perdido era o apetite! Levantei da cama me espreguiçando e fui para a cozinha.

Enquanto olhava para minha geladeira praticamente vazia e decidindo se escolhia uma pizza do dia anterior ou a comida chinesa do começo da semana, a campainha tocou. Não, isso não pode estar acontecendo! Fechei a porta da geladeira com força porque já sabia quem era, as únicas pessoas que conseguiam entrar no meu prédio sem avisar o porteiro, as pessoas que eram donas do meu apartamento. Abri a porta e dei de cara com Jenny e Ian sorridentes:

- O que estão fazendo aqui? – perguntei de forma ríspida. Sabia que estava sendo rude, mas cortesia era a última coisa que passava em minha cabeça naquele momento.

- Você não atendeu o telefone e nem respondeu as mensagens, resolvemos ver se tinha acontecido algo! – Ian respondeu enquanto olhava para Jenny, como se quisesse me mostrar que a ideia não tinha sido dele.

- Eu não tenho atendido e nem respondido vocês por semanas, por que só agora algo estaria errado? E vocês sabem o que aconteceu!

- Sabemos, meu querido irmão, mas já se passaram mais de dois meses! Respeitei sua fase de luto, mas agora chega! Precisa sair um pouco dessa casa, respirar, ver gente! E passar um tempo com quem realmente se preocupa com você! – Jenny começou seu discurso de forma brava, como sempre fez quando queria me dar bronca por alguma besteira que havia feito, mas terminou de uma forma quase que suplicante.

Respirei fundo. Não gostava de ver minha irmã assim, sabia que não estava sendo justo com eles, só queriam o meu bem e eu estava sendo totalmente grosso com quem não merecia. E sabia que se eu era teimoso, Jenny podia ser mais, não iria conseguir me livrar deles e se não fosse ao Pub com eles, passaria a noite inteira com companhias infelizes na minha casa.

- Ok. Eu vou com vocês, mas não prometo ficar muito tempo. Vou me arrumar.

Tentei expressar um meio sorriso ao ver a felicidade no rosto da minha irmã, mas não consegui. Ao invés disso apenas olhei para Ian e acenei com a cabeça quando ele fez o mesmo. Tomei um banho e coloquei a primeira roupa que vi, nossa, como fazia tempo que não vestia uma calça ou ao menos arrumava meu cabelo. Me olhei no espelho e até que parecia normal, ainda tinha uma olheira funda das noites mal dormidas, mas quem iria se importar com elas? Iria ficar apenas algumas horas com eles e voltaria pra casa.

- Nosso pai iria ficar muito bravo ao saber que está comemorando sua gravidez num Pub e ainda mais um Irlandês! - falei para Jenny enquanto entrávamos no bar.

- Não iria ficar não, porque somos ótimos com vendas e acabamos de fechar uma parceria com esse lugar! – ela me respondeu satisfeita.

- Eles compraram nosso uísque? Esse bar parece pior do que imaginei, que Irish Pub vende uísque escocês? E o melhor e mais tradicional das terras altas?

- Por isso que somos melhores que eles! – Ian riu. Não pude conter o sorriso que se formou no canto da minha boca.

Sentamos numa mesa perto do palco. Não gostei, geralmente bandas ou cantores ruins animavam a noite de sábado e não conseguia conversar com quem estava na mesa, mas no fundo pensei que seria melhor não conseguir falar muito, queria evitar questionamentos sobre a minha vida e sabia que Jenny faria exatamente isso. Ian logo chegou com as nossas bebidas, nós dois ficaríamos no uísque enquanto Jenny se contentava com um drink sem álcool. Brindamos ao meu terceiro sobrinho, ou sobrinha, ainda não sabiam o sexo do bebê e provavelmente não saberiam até o nascimento, Ian e Jenny gostavam do mistério, faziam até apostas na família para ver quem acertava o sexo, eu sempre acertei, mas naquela noite não estava animado para tentar um palpite.

Sabia que Ian e Jenny queriam falar comigo, queriam saber se estava melhor, queriam que eu voltasse a ser o Jamie de sempre, que gostava de conversar, contar histórias e dar risada. Mas eu estava longe disso e não queria que me pressionassem, então mantive meu olhar no copo de uísque sobre a mesa a maior parte do tempo. Só que sabia que Jenny não iria me deixar em paz por muito tempo, e estava certíssimo sobre isso, ela puxou o copo da minha mão, queria que eu olhasse pra ela, mas na mesma hora as luzes do bar se apagaram e o palco a nossa frente se iluminou.

Minha atenção se voltou para o que iria acontecer, não estava interessado na atração musical da noite, mas queria desviar meu olhar de Jenny. Só não esperava o que estava por vir, não esperava mesmo! A primeira coisa que vi foi o cabelo, pareciam castanhos, mas sob a luz do palco algumas mechas ficaram em tons de vermelho. E os cachos? Eram muitos e todos se agitavam conforme ela andava até o centro do palco. Quando ela se sentou no banco e pegou seu violão, meu coração parou por um segundo, o que eram aqueles olhos? Brilhavam intensamente sob a luz e não pude deixar de comparar a cor deles com a bebida em minha mão, eles eram exatamente iguais. Se isso bastava para me deixar totalmente desconcertado, ela começou a cantar e aí pareceu que tudo ao meu redor ficou em silêncio e só a voz dela existia. Senti um arrepio por todo meu corpo e pela primeira vez em meses meu coração voltou a bater.

You walked into the room
And now my heart has been stolen
You took me back in time to when I was unbroken
Now you're all I want
And I knew it from the very first moment
'Cause a light came on when I heard that song
And I want you to sing it again

Você entrou no cômodo
E agora meu coração foi roubado
Você me levou de volta no tempo quando eu era inteiro
Agora você é tudo que eu quero
E eu soube isso desde o primeiro momento
Porque uma luz se acendeu quando ouvi aquela música
E eu quero que você a cante de novo