II

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Desde os primórdios da sociedade moderna ou até mesmo na época em que uma grande bola de fogo tomou forma e de algum jeito criou o universo, uma coisa é verdade: toda escola tem uma megera.
As pessoas estão acostumadas com a ideia de que seja a líder de torcida a garota má e cruel e com todos os etc. No entanto, após mudar em tantas escolas, eu criei um alerta.
Nem sempre a megera é uma líder de torcida. Às vezes é uma garota muito inteligente que se acha demais, alguma garota rica e mimada ou até mesmo a garota punk da escola. Eu já tinha visto todos os tipos de megeras e poderia até mesmo criar meu álbum pessoal. A figurinha de ouro dele seria a megera número 8: a atual.

kristin Scott: a aspirante a atriz que exigia achocolatados quentes para as assistentes como se fosse a chefe de uma grande empresa multimilionária.

Seria uma bela descrição abaixo da figurinha que, obviamente, na foto seria ela exibindo autógrafos.

Pensava, sentada em uma poltrona longe dos outros alunos que arrumavam o palco. Kristin se localizava no canto mais iluminado retocando sua maquiagem ao mesmo tempo em que uma garota tentava loucamente fazer algum penteado em seu cabelo.

—Vamos com isso logo, Nancy. A professora Sammers já vai chegar e tenho que parecer a Dorothy para esse papel.—Ela esbravejava e a garota soltava um longo suspiro.
Comecei a ouvir passos firmes e rápidos aumentando em direção ao palco. Não me virei, Juliet usava unicamente um par de sapato que soavam arranhando o chão, conhecia de cor o som.
—Desculpa o atraso turma, eu ainda estou meia perdida nesse colégio.— Juliet, ou, a professora Sammers dizia em meio a risinhos enquanto ajeitava seu cabelo.—Venha todos e se sentem na beira do palco.—Ela completou fazendo um gesto com a mão e eu senti seu olhar sobre mim. Era claro que ela não deixaria eu passar em branco, era uma provocação.
Me arrastei até o local entre os alunos e sentei-me ao lado de dois garotos, um branco e relativamente magro e o outro um moreno alto e bem forte. Eles conversavam entre si como se eu nem existisse no meio deles. Era confortável.
—Ora, parece que temos uma aluna novata— Juliet disse olhando diretamente a mim, seus olhos iguais a um gato prestes a pegar seu bichinho.

De repente, os olhares da turma que deveria ter uns 25 alunos voltam-se em mim.


—Como é seu nome, jovem aluna?—Juliet fala e eu vejo o leve sorriso em seus lábios de divertimento.
—Sierra.—Respondo.
—Sobrenome, por favor.—Ela completou e eu lancei um olhar cansativo para ela.
_ Sierra Byrne Parker.—Respondo sem muita animação.
_Byrne?! Que diferente—Ela diz em um tom falsamente animador, como se ela nunca tivesse ouvido falar desse sobrenome.
_É irlandês.—Respondo de modo ríspido tentando acabar com o questionário e com os olhares atentos sobre mim. Sinto o peso dos olhos do garoto branco ao meu lado sob mim. Provavelmente ele deveria estar achando que eu era grossa demais.

Me fixo a olhar o chão, uma madeira escuro e velha, típica dos palcos. Destacando entre eles, vejo gotículas brancas e assusto-me ao notar que estão da minha calça.

Na tarde anterior, eu e Juliet resolvemos que devíamos pintar uma parede do meu quarto que estava muito riscada com os desenhos de alguma criança. Provavelmente eu joguei as roupas próximas a parede que não deveria estar totalmente seca, ou teria respigando em algumas peças enquanto estávamos pintando. Agora não sinto tanta estranheza pela reação de Juliet ao ver minha roupa hoje cedo.

_...E você veio da Irlanda?!- Ela pergunta atraindo minha atenção novamente.
_Não.- Respondo tentando afastar o sotaque.

Minha mãe era órfã em uma pequena cidade na Irlanda e acabou conseguindo uma bolsa de estudos em Nova York onde ela acabou conhecendo Juliet e Thomas, meu pai. Após os estudos, ele acabou voltando com ela para a Irlanda onde eu e minha irmã nascemos e onde vivemos até nossos 6 anos de idade. Quando voltamos aos Estados Unidos.
São poucas as memórias que tenho na Irlanda e, como não tenho família, minha ligação com o país ficou distante. Mesmo assim, Juliet sempre promete que vamos visitar um dia, eu duvido que a renda dela seja suficiente, mas é algo bom de se imaginar. Contudo, momentos em que eu sou obrigada a falar demais ou em um grande público percebo meu sotaque aparecendo e voltando.

Two girlsOnde histórias criam vida. Descubra agora