Restos - Parte IV

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– Cael, não é? – perguntou Botild. Vendo-a de perto, Hati tinha certeza de quem ela era: uma mercenária que seu pai contratava para fazer alguns dos serviços mais desagradáveis. Ela própria se intitulava uma "aventureira", e ninguém ousava questioná-la. – Quer um pouco de água? Eu sei como fica a garganta depois de ser sufocado. Sei muito bem.

Ele pigarreou e virou a cabeça para o lado. Sua cabeça doía como se tivesse sido martelada, e os cantos de sua visão estavam escuros. Botild era somente um vulto em sua visão periférica, e todo o resto – as árvores e a grama alta, as rochas atrás das quais se escondiam e, talvez, os outros mercenários que a acompanhavam – eram pouco mais do que sombras difusas.

– Se me prometer que não vai gritar, eu lhe dou água. – Disse ela, sentando-se imediatamente na frente dele. Hati sentiu o cheiro de suor que emanava da guerreira, vestida com uma armadura de malha de aço e couro curtido, protegendo-a dos pés ao pescoço. Botild sorveu um gole d'água e estendeu-lhe o cantil. – O que me diz?

Ele assentiu devagar. Botild removeu sua mordaça e o deixou se acomodar antes de colocar o cantil em sua boca. Ele bebeu avidamente, ficando até mesmo sem fôlego. Respirando profundamente, aproveitou para olhar de volta. Para sua surpresa, não havia sinal dos outros três mercenários. Deveria aproveitar a oportunidade. Assim que Botild afastou-se um passo, Hati gritou a plenos pulmões:

– Socorro! Estou aq... – um soco no seu nariz o calou de vez. A luva de couro de Botild tinha cravos de ferro nos nós dos dedos, e ele sentiu cada um deles rasgando sua pele onde a atingiram.

A mordaça logo foi forçada para dentro de sua boca novamente, e ele foi empurrado de lado, contra uma rocha inclinada na sua direção. Com os braços amarrados nas costas, não conseguiu proteger o rosto.

Apagou novamente.

Quando acordou, ouvia passos agitados, de um lado para o outro. Algo caiu ao seu lado, enterrando-se no chão. Hati abriu os olhos e viu o próprio reflexo em uma lâmina de espada.

– Eu vou levá-lo comigo não importa quantos dos seus amigos tenha que matar entendeu? Se não quiser vê-los morrer diante dos seus olhos, é melhor ficar de bico calado. Agora levante.

Botild o puxou por um braço e o fez ficar em pé. A cabeça de Hati latejava, seu cérebro parecia chocar-se contra o crânio a cada movimento brusco que ela o obrigava a fazer. Sua captora fez uma careta ao olhar seu rosto.

– Você está com uma cara bastante feia. Eu poderia limpá-la, se você tivesse colaborado, Cael, mas não temos tempo. Ande, por aqui.

Ela o empurrou na direção da floresta, saindo da pequena clareira. A luz da lua não penetrava sob a copa das árvores, e Hati tropeçava a cada passo. Botild segurava as costas de sua camisa, conduzindo-o por um caminho do qual ela parecia certa mesmo na escuridão. Aos poucos, Hati começou a discernir formas e escutar o som de água. Aproximavam-se do Lago Calenhad.

Mais alguns passos e deixaram o bosque para trás. A grama os cobria até a cintura, escondendo o real formato do terreno. Ele sabia, por ter explorado mais cedo, que as margens do lago tinham uma leve inclinação, mas também poderia haver buracos nos quais cair.

– Certo, agora abaixe. – falou Botild quando estavam a meros dois passos das águas espelhadas do Calenhad. – Vamos esperar. Está vendo a estrada?

Ela apontava para uma faixa branca que contrastava com o céu escuro. Hati sabia o que ela procurava, e estreitou os olhos, tentando enxergar também.

– Se seus amigos aparecerem por aqui, não vão nos ver, a não ser que você chame sua atenção. Se o fizer e somente um deles vier, seja o templário ou a maga, eu o mato, não importa quem seja. – Ela puxou a espada de dentro da bainha, deixando Hati dar uma boa olhada na lâmina afiada. – Se todos eles vierem, eu afogo você no Lago e vou embora nadando até a outra margem. Ninguém nunca ficará sabendo, nem seu pai. E aí, gostou dos meus planos?

Hati a encarava sem piscar. Botild parecia ser alguém que cumpria o que prometia.

– Ah, veja quem apareceu. – ela sussurrou, distraindo-o de seus temores.

Sir Maron cavalgava rápido no alto da Estrada Imperial. Ele parou a menos de trinta metros de onde estavam escondidos, erguendo-se sobre a sela de Mordred para observar mais longe.

Hati quis chamá-lo. Estava amordaçado, mas podia fazer barulho suficiente para chamar sua atenção. Ele baixou o olhar para Botild. Ela ainda não guardara a espada, e observava Sir Maron não com apreensão, mas com expectativa. Ela queria lutar com o templário, afinal, e isso o fez ter medo. O cavaleiro se afastou em sua cavalgada, retornando por onde viera, deixando Hati e sua captora sozinhos diante do espelho d'água.

***

Olá, leitores o/

O que acharam deste capítulo? Hati está em maus lençóis, como acham que ele vai sair dessa?

Se gostaram, deixem seu voto e um comentário, e até a próxima semana :)

Ossos Quebrados [Dragon Age] [Completo]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora