Sangue frio!

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Após o cabeça do grupo assassinar a senhora Rosa Mangdala na frente de todos e com seu marido no telefone, ele pediu para que seus capangas arrastassem o corpo até uma área mais escondida, deixando apenas o rastro de sangue por onde seu cadáver passava. Aquela demonstração fria de poder deixou os reféns aterrorizados e fez com que os policiais botassem mais fé em suas ameaças e ele sabia disso, por isso o fez.

01 passou os olhos pelo amontoado de cabeças baixas e chorosas para assegurar-se de que estava tudo sob controle. Era fato que depois dessa demonstração de poder, os policiais iriam trabalhar a todo vapor para concluir a fase de planejamento e partir para a invasão. Em relação a isso, não havia nada que ele pudesse fazer. Entretanto, ele podia adiantar sua vida dentro do hipermercado e retardar a missão dos tiras do lado de fora. Por sorte e dedicação, sua experiência neste ramo de roubos era vasta e em função disso ele conseguia prever e sair das piores situações que poderia vir a surgir. Aquele era o tipo de assalto que ele não gostava: grande, polêmico e estava em uma desvantagem discrepante. Por isso seus passos deviam ser os mais simples possíveis, seguindo tópicos básicos de seu roteiro, como: infiltrar, entrar, render, localizar o pacote, neutralizar e sair. Seguindo o roteiro, eles ainda precisavam neutralizar, sendo que os policiais poderiam arranjar uma forma de adentrar ali a qualquer momento e para completar ainda tinham o bando de adolescentes que resolveram dar uma de heróis. 01 mal via a hora de acabar com a felicidade deles.

- Quero dois comigo. - Diz em voz alta. - Levem um refém. - Levou o rádio até a boca e apertou o botão. - Indo pros países baixos. Me encontrem lá pra fazer a cobertura. - Recebeu uma confirmação de alguns de seus capangas e retornou o rádio para o bolso.

Alguns minutos depois...

A refém era uma jovem adulta de cabelos castanhos longos e pele clara. Seu semblante era de puro terror e seu corpo tremia involuntariamente. Sua respiração estava acelerada, seus olhos lacrimejavam e seus gemidos eram abafados pela fita que os bandidos haviam selado em seus lábios antes deles seguirem para os "países baixos" do hipermercado. Naquele momento, se encontravam encarando o elevador de serviço, que estava demorando muito por sinal. Talvez os seguranças tivessem desabilitado na hora da confusão. Subitamente uma luz amarelo-alaranjado preencheu um símbolo no topo acima da porta do elevador, chamando a atenção de todos, acompanhada de um barulho enfraquecido de sino um pouco antes das portas se abrirem.

03 agarrou a refém pelo pescoço e pressionou uma faca tática ao lado de sua garganta, deixando a mulher em pânico. Os outros dois bandidos apressaram-se para as laterais da porta e preparam a arma em suas mãos, enquanto 01 permaneceu de frente, com sua mesma aparência sarcástica e assustadora de sempre, segurando a pistola cromada .50. 

Um segurança estava dentro e levou um susto com a presença do criminoso em sua frente, ficando paralisado por alguns instantes que custaram a sua vida.

- Bu. - Disse 01 erguendo a pistola e cravando uma bala um pouco acima da sobrancelha do pobre guarda, que foi jogado para trás e sentou o dedo no gatilho de sua submetralhadora, fazendo-a disparar descontroladamente do centro até o teto. Foi necessário 01 e 03 se jogarem no chão para desviar dos projéteis, que atingiu apenas a refém.

- Merda... - Resmungou 03 olhando desesperado para os olhos quase sem vida. O sangue rapidamente tomava conta da região de seu peito até a barriga, manchando toda a blusa rosé. Ele encarou o líder, que a observava de maneira fria e depois para o cadáver do guarda no piso gelado do elevador.

- Vamos indo. Não há nada que a gente que possa fazer. Esse lixo já chamou muita atenção. - Demandou 01 entrando no elevador, ignorando totalmente a presença do morto.

- Mas ela ainda tá viva. - Retruca 03.

- Não. Ela já tava morta há muito tempo. Nós dois sabemos disso, 03. - Assim que todos se reagruparam, ele apertou o botão e foi para o subsolo.

O Liqui&Compras era gigante por cima, mas pequeno abaixo do chão. No subsolo ficava uma única sala que concentrava todo o dinheiro que a rede faturava. Contudo, ela era bem protegida e precisava se familiarizar com os túneis que ligavam do elevador até ela. Por sorte, um arquiteto que trabalhava na prefeitura guardava nos arquivos de seu computador a planta daquele complexo e um sistema de segurança tosco o suficiente para que o firewall não detectasse o acesso do cracker de sua equipe.  Graças a isso, os bandidos têm um conhecimento considerável de onde estavam e exatamente como chegar no objetivo. O problema é que os federais também.

- Tudo bem, depois dessa demonstração inútil de poder, nós não podemos mais esperar. - Diz Wilson Markov vestindo a jaqueta verde escuro sobre o colete à prova de balas e ajeitando sua MP5. Carlos lançou-o um olhar inexpressivo, porém concordava, de certa forma, com o agente. - Padilla, eu preciso saber se você tá comigo nessa.

Carlos pôs as mãos na cintura, encarando o outro homem. Fitou a tela do notebook com as últimas informações, para os seus colegas de campo e, por fim, para Lena.

- Tá. Claro que ele tá. - Responde ela, intrometendo-se e balançando a cabeça, atraindo a atenção dos dois para si. - Que foi? Minha filha tá ali dentro. Vocês são policiais.

Wilson lançou um olhar de desaprovação para a mulher e em seguida voltou a focar no policial. - Você está sob o meu comando e vai fazer exatamente o que eu mandar. Entendido?

- Entendido. - Responde Carlos.

- Nós vamos seguir conforme o plano. - Começa o agente Markov, quando todo o time de assalto estava reunido. - Entraremos pelo bueiro e seguimos pelo esgoto até a lateral do complexo, onde faremos um buraco na parede sudoeste de um dos túneis. A sala forte fica a 50 metros. Se os elementos já não estiverem lá, eles estarão em breve. Precisamos agir com rapidez e discrição.

- Qual vai ser a ordem, senhor? - Indaga um dos agentes de campo.

- Livre para matar. Os suspeitos estão armados e são perigosos. Não hesitem caso uma troca de tiros comece. - Responde Wilson num tom imperativo.

- Acho melhor nos dividirmos em duas equipes. - Sugere Carlos Padilla, atraindo a atenção para si. Notou a expressão de repugnância de Markov, mas ignorou. - Eles não são amadores. Provavelmente já previram os nossos passos. Entrar pela principal seria suicídio. Logo nos sobra os túneis e vai ser que eles vão estar nos esperando. Pode ser uma emboscada e não podemos arriscar.

- E qual seria sua sugestão, oficial? - Questiona Wilson encarando-o dentro dos olhos.

- Pelo telhado. Existe um compartimento para os dutos de ar e nos deixaria dentro de um dos depósitos. É o melhor que temos. - Responde o policial de Bulbras.

- Negativo, oficial. - Fala o comandante da operação. - Demora muito e o plano já tá montado. Sairemos em 90 segundos. Se preparem. 

Num local mais afastados, mas não menos movimentado, um homem magro, de aparência saudável e mauricinho dava passos apressados até a grade de contenção, esbarrando em outros pessoas que estavam paradas ali, excitadas para assistir o decorrer da história.

- Com licença. - Falou o homem na direção de um agente federal branco de cabelo alaranjado. - Com licença, senhor, minha filha é uma das reféns e a minha esposa veio pra cá. Provavelmente você deve ter escutado algum grito ou visto um escândalo dela. Consegue me ajudar?

O agente fitou Pedro Martins ainda com um semblante desconfiado, analisando-o de cima a baixo, de braços cruzados, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, Lena brotou por detrás acompanhada de Padilla.

- Finalmente você chegou. Eu falei pro Carlos da nossa situação. Ele é um amigo meu e nos deixou acompanhar de perto. - Falou a mulher de maneira acelerada e com um sorriso no rosto.

Pedro encarou Carlos e estendeu sua mão, porém o policial apenas deu um tapa leve em seu ombro e pediu para o homem entrar, já que em poucos segundos ele tinha que partir com o grupo para a missão. O casal voltou para a mesa de planejamento e ficaram abraçados, enquanto Padilla se reuniu com o time.

Operação Mom's GiftWhere stories live. Discover now