Silence | 1

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Estava amanhecendo mas eu já estava de pé, aquilo já se fazia natural para mim há quase... Pouco mais de um ano. Respirei fundo olhando a razão que me levara a passar noites sem dormir, nem que fosse o mínimo de seis horas.

"Agora você dorme, não é?". Minha pequena Amy finalmente descansava, não poderia reclamar, era uma menina tranquila em boa parte do tempo. Desde que chegou em minha vida sinto que não era mais a mesma, era como amadurecer anos em meses. Amy tinha dado a mim uma razão para continuar viva, lutando até mesmo por mim.

Caminhei até a cozinha, estava com fome. Olhei o calendário e lembrei daquela data. "Dois anos...", pensei alto. Era incrível como nosso corpo também mudava, agora era uma chorona que até comercial de margarina me fazia encher os olhos em lágrimas, mas acredito que tinha uma boa razão dessa vez. Há dois anos terminei uma relação. Foram os melhores oito meses da minha vida desde que nasceu minha filha. Vivi um amor intenso e secreto com Miranda, sim, minha chefe, a tão temida Miranda Priestly. Ela era tudo o que não sabia que queria ter na minha vida, era como se existissem duas mulheres; essa que todos conhecem e a que estava comigo, eu confesso, adorava as duas versões. Não evitei sorrir em lembrar as vezes que as duas versões se encontravam.

Flashback on

- Andréa... Por favor, você não dorme? — Acordava às seis em pleno domingo e a observava em silêncio desde então.

- Como você sabe que... — Em um impulso ela abre os olhos me abraça dando uma leve mordida no meu pescoço e me fazendo gargalhar.

- Eu já disse que mais além de ver você, eu te sinto.

Flashback off

Voltei minha atenção ao meu café que, com as lembranças, parecia descer como lâmina em minha garganta. Suspirei e ouvi a campainha, enrolei meu robe ao meu corpo, já sabia quem era.

- Veio cedo. — Disse abrindo a porta.

- É que vim direto do aeroporto. Bom dia, Andréa. — Nate entrou em seguida e me acompanhou no café. — E Amy?

- Dormindo, depois de me acordar, claro. — Rimos e eu levantei.

- Vou me arrumar.

Ele assentiu e eu subi direto ao meu banheiro. Depois de passar algum tempo decidindo o que vestir, finalmente terminava todo o ritual e fui olhar a Amy que estava brincando em silêncio com suas mãos. A arrumei e peguei sua bolsa em seguida.

"Olha só quem já está esperando por você, meu amor." — Disse para minha filha e Nate levantou rapidamente indo até Amy pegando-a dos meus braços.

- Está muito bonita. — Falou sem me olhar nos olhos e eu sorri agradecendo. — Serão dois dias, certo?

- Isso. Creio que coloquei exatamente tudo nessas bolsas mas já sabe, a chave da casa estará com você, se precisar de qualquer coisa, não hesite.

- Você está bem? Parece...

- Estou bem. — Suspirei. — Por favor, ligue para o que seja e eu pego o primeiro vôo.

- Por favor, Andréa, não é a primeira vez que fico com a nossa filha, é dezembro! Inclusive você poderia aproveitar e passar em Paris, é perto. Aproveite!
— Imediatamente revirei os olhos ao ouvi-lo.

- Não estou indo a passeio, não seja idiota. — Ele deu de ombros.

Me despedi da minha filha e aquilo parecia doer em mim. Estava agora em um vôo para Bruxelas, iria participar de um jantar em homenagens a jornalistas, grandes escritores e todo o ramo de mídia. Não pude negar a importância daquilo, estávamos vivendo dias sombrios com a imprensa mundial, seja o ramo que fosse, eu não poderia negar o convite.

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