lipe, história

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Entrei no quarto sozinho, sem o Marcus, queria ver como a Sofia estava.
Quando abri a porta a vi deitada no colchão fino que fica no canto escuro do quarto, ela dormia encolhida, como se fizesse um casulo em volta de si mesma. O ambiente ali era frio e úmido. Não quis acorda-la.
Depois de duas horas Marcus chegou em casa, ele tem fixação por futebol e o time dele havia perdido, sempre que isso acontece ele extravasa na bebida, por esse motivo chegou em casa indignado. Sinceramente eu tenho o dom de exercer controle sobre as pessoas, de influencia-las, mas no estado que ele estava nem eu mesmo conseguiria controla-lo.
Minha tia Bia sempre dizia que eu era frio, mas inteligente, já meu irmão tinha um coração bom, era inocente, mas explosivo. Ela tinha razão.
Foi ela que nos criou, mas quando eu tinha 21 anos e meu irmão 18, nossa Tia morreu, o marido dela, o tio Beto, era ciumento, ela teimosa... Essa combinação não poderia acabar de forma diferente. Não achava certo ele bater nela, mas às vezes ele mandava ela tirar o batom e ela não obedecia, debochava da cara dele, ria dos seus ciúmes, não o respeitava. Ela só ficava quieta quando ele a batia. De certa maneira o tio Beto sabia das coisas, sempre foi como um pai pra mim. Já meu irmão tinha mais apreço pela tia, mas também entendeu a morte dela.
As mulheres são todas iguais, aprendi muito com meu tio e aplico isso na Sofia, apesar que minha tia era mais esperta, tinha um pensamento forte, já essa em menos de um mês já não tem mais suas opiniões tão convictas assim.
Foi assim que herdamos essa casa, essas paredes têm a história da nossa família, algumas boas, outras nem tanto. Quando éramos mais novos meus tios brigavam muito, o Beto tentava controlar a tia, mas ela sempre o respondia, nunca deixava se calar, sempre cuidava de nós. Mas com o passar dos anos ela começou a gritar descontroladamente em momentos aleatórios, chutava nosso tio, tentava fugir. Mas ela não entendia que não estava presa, que o Beto era bom pra todos, que só queria educa-la. Foi nessa época que o tio explicou que ela estava doida, que era perigosa, e a proibiu de sair. Eu tinha uns 13 anos e meu tio começou a cuidar mais da gente, nos levava pra pescar e pra atirar. A partir disso, tivemos menos contato com Bia, pois ela ficava no quarto que hoje em dia fica a Sofia, e só saia dele pra fazer nossa comida e arrumar a casa, tudo isso quando o tio estava.
Quando minha tia morreu o Beto, que já bebia muito, começou a usar mais álcool ainda, então depois de alguns meses morreu também devido a uma cirrose.



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