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Ficar brigada com os meus únicos amigos é um saco. Mas ainda estou pensando na conversa com o Vini, e não consigo tirar da minha cabeça que algo está errado com o Renan.

A semana se passou arrastada. Nem Jéssica e muito menos Renan conversaram comigo ao longo dela.

No sábado, o primeiro jogo do intercolegial agita a escola. Estão todos animados e ansiosos. Menos eu, que terei que enfrentar dois dias na casa do meu pai, depois que o jogo acabar.

Vejo Renan e Vinícius de longe e reprimo minha vontade de ir até eles. Quando nossos olhares se cruzam eu aceno, desejando boa sorte. Sigo em direção a arquibancada, para sentar junto com a Duda e a Jéssica, que continua sem falar comigo.

– Quando ia me contar que está namorando o Flávio? – Duda dispara na minha direção.

Eu a encaro preocupada, por muito tempo partilhamos o mesmo interesse pelo Flávio. Jéssica está com a expressão mais cínica que alguém pode fazer.

– Aparentemente ela e meu irmão não namoram. Não sei o que o Flávio diria sobre certos encontros no banheiro.

– Do que vocês estão falando? – Duda pergunta interessada.

– Você sabe que eu não faria isso com você!

Jéssica me fuzila com os olhos, antes de cruzar os braços e voltar a sua atenção para o jogo. Duda decide não perguntar o que está acontecendo, pela segurança dela e a nossa.

Normalmente não prestamos atenção aos jogos. Conversamos, tiramos fotos e implicamos com as legendas umas das outras nas redes sociais, mas não hoje.

O clima não estava ruim só fora do campo, alguma coisa no comportamento do Renan chamou minha atenção. Ele estava muito irritado, brigando com os adversários e colegas do time. Vinícius, que costuma ser mais esquentadinho nos jogos, já pediu para ele pegar leve duas vezes.

– O que está acontecendo? – pergunto para ninguém.

Renan recebe a bola e corre em direção ao gol adversário. Ele para de repente e se curva, apoiando as mãos nos joelhos.

Vinícius é o primeiro no campo a notar que tem algo errado. Ele corre em direção ao Renan, pedindo tempo.

Não sei me que momento eu me levantei e corri para a quadra mas, sou impedida de entrar, enquanto vejo o Vini evitando Renan de cair, como no dia da corrida.

– Se afastem! – o professor de Educação Física pediu – Para trás!

Meus pés estavam plantados. Eu vejo a comoção ao redor do Renan. Vejo uma ambulância estacionar, os paramédicos se aproximarem e um deles fazer massagem cardíaca no meu amigo ainda caído. O vejo ser colocado na maca. Vejo o Vinícius ser impedido de acompanhá-lo. Então Jéssica está no meu campo de visão, não consigo entender o que ela está dizendo, por causa do zumbido que eu não sabia se era dos alunos ao redor ou da minha cabeça, talvez fossem os dois.

– Ana Clara! Pelo amor de Deus, você está me assustando! – ela me chacoalha mais forte.

Volto minha atenção para a quadra e vejo o Vini, com as mãos na cabeça e um olhar desolado. Esquivo-me da Jéssica, para ir até ele.

– Vini – minha voz não passa de um sussurro. – Vinícius, o que aconteceu?

– Clara, eu tenho que ligar para tia Cida. – ele desvia o olhar para longe de mim.

– Tenho certeza de que alguém já fez isso. Por favor, Vinícius – seguro seu braço, para impedi-lo de se afastar. – Por favor.

Ele deixa a cabeça pender para frente e então respira fundo.

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⏰ Last updated: Mar 09, 2019 ⏰

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