|| • RITMO QUENTE • ||

Capítulo 7: Vizinho prestativo.

Eu deveria me manter longe dele.

Todos os átomos do meu corpo me instruem a evitá-lo e me afastar, mas eu não consigo.

Sua voz melodiosa, seu cheiro de perfume e cigarro me deixam inebriada.

Sei de seus atos, sendo eles em grande parte crimes imperdoáveis. Tanto na terra como no céu.

Mas eu não me importo.

Não mais.

Observo enquanto Evans fala ao telefone, tomando o cuidado de se certificar que eu não ouça sua conversa.

Sua postura ereta e sua expressão fria me dizem que há algo de ruim prestes a acontecer.

Sei quem será a próxima vítima.

Eu deveria ir a delegacia e lhes dizer o que meu pai fez. Deveria ter feito um boletim de ocorrência contra ele, e me certificando de que o bendito não pudesse chegar 1km perto de mim.

Eu não o fiz.

Ao invés disso, confiei minha aflição a Evans, que agora parece estar se preparando para colocar em prática seu novo plano de... Vingança? É, acho que podemos chamar assim.

- Tudo bem então, eu te retorno depois - ele diz em voz alta ao telefone.

Arqueio a sobrancelha, e ele vem em minha direção com um sorriso discreto.

- Vai ficar tudo bem, você não precisará se preocupar com nada - ele me garante, seus olhos estreitos me fitando com intensidade.

- O que você vai fazer? - pergunto desconfiada.

- O que os olhos não vêem o coração não sente - responde simplesmente.

- Você não vai...? - entro em pânico. A última coisa que eu quero é ver meu pai morto, por mais que ele tenha me feito mal.

- Não se preocupe. Já está tudo combinado.

O olho desconfiada, então viro meu rosto para o lado.

Mais uma vez ele está bem próximo de mim, e posso ver que ele quer isso tanto quanto eu.

Seu beijo mexeu comigo, de certa forma. Não esperava que meu primeiro beijo fosse ser com alguém do tipo dele.

Somos completamente diferentes.

Sempre fui tímida e reservada, minha personalidade sendo descrita como introvertida. Tudo bem que já "fantasiei" algumas situações em minha cabeça, e já até brinquei comigo mesma, mas... Pele com pele, carne com carne? Nunca. Nunquinha.

Diante o meu silêncio Evans se aproxima mais de mim, e dessa vez nossos rostos estão quase se tocando de tão próximos. Ele passa sua mão quente em meu braço, o acariciando com delicadeza. Minha respiração fica  irregular, e tento não me descontrolar.

Ele havia me dito que não conseguia ficar longe de mim. Da mesma forma que anteriormente ele havia dito que eu deveria ser "mais esperta" e prestar atenção nos detalhes.

Agora sei o porquê.

Nunca fui escoltada, mas sim protegida. Quando ele apareceu em meu quarto, irritado por achar que eu o havia entregado, na verdade estava apenas me vigiando de perto. Não por medo, mas sim por interesse.

Vejo em seus olhos o quão louco ele é, e do que seria capaz para conseguir o que quer.

Mas quem é ele? De onde ele vem?

- Você sabe tanto sobre mim - digo em voz baixa, meus olhos fitando minhas próprias mãos. - Quem é você, Evans?

Ele me olha surpreso, e entendo que ele não esperava por esse tipo de pergunta.