When I look into your eyes

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Rodrigo

Hoje está tão cinza. Finos raios de sol lutam seu caminho através das nuvens, mas dificilmente fazem alguma diferença. Ainda é cinza.

Ontem foi cinza? Eu não consigo me lembrar.

Eu arrasto os pés pelo chão de madeira. Eu olho para baixo e observo que os meus chinelos brancos estão sujos e me pergunto por quanto tempo estou usando-os. Há uma cesta de roupa dobrada em cima de uma cadeira e, enquanto eu não consigo me lembrar quando realmente as lavei, estou aliviado que isso foi feito.

Meias eu geralmente arrumo primeiro, e é o que faço agora. Em seguida, enrolo minhas cuecas e as coloco no espaço vazio perto delas. Uma vez que tudo está certo e em ordem, fecho a gaveta rapidamente, pronto para arrumar alguma outra coisa. A gaveta acaba deslizando muito rápido e antes que eu possa perceber, meu polegar fica preso no móvel.

- Merda! – Eu grito, incapaz de evitar. Meu grito ecoa no quarto vazio com ninguém por perto para ouvir além de mim mesmo.

Eu puxo a gaveta e tiro o meu polegar, chupando enquanto ele pulsa na minha boca. Eu posso sentir o sangue batendo, lembrando-me que, apesar do cinza ao redor de mim, eu ainda estou aqui.

Eu ainda estou vivo.

Às vezes eu preciso desse lembrete... ou eu esqueço.

Uma vez que o pulsar do meu polegar começa a diminuir em um ritmo lento, percebo que tenho mais algumas roupas para arrumar e trabalho perfeitamente para organizar as camisetas.

Há uma revista sobre a mesa e ligo a lâmpada ao meu lado para folheá-la, curioso para saber sobre todas as novidades do verão. Olho para fora mais uma vez, reafirmando a mim mesmo que certamente não é verão, antes de virar a revista e notar a data de publicação.

Junho de 2012

Meus olhos param sobre o calendário da minha cama, que me lembra que é realmente outubro de 2018. Eu franzo a testa, um pouco curioso sobre eu ter uma revista velha por perto, mas continuo a lê-la de qualquer forma. O tempo passa e eu sinto meu estômago roncar. Olho para o relógio e percebo que um tempo se passou.

Quando eu cheguei à porta para sair, fico pensando se esqueci alguma coisa ou não, mas nada brota na minha mente. Um caderno espiral vermelho está situado ao lado da porta. Olho para ele e pego as chaves, ficando próximo a ele antes de decidir que poderia ser uma boa ideia levá-lo comigo. Há uma caneta colocada convenientemente na coluna em espiral e eu seguro os dois perto do meu peito enquanto vou embora.

O corredor parece vazio e o solitário eco dos meus sapatos contra o chão enquanto caminho confirma esse pensamento. Quando eu chego na porta que dá para a saída, uma mulher agradável sorri gentilmente para mim.

- Bom dia, Sr. Simas. – diz ela, sorrindo e movendo-se para permitir que eu saia.

- Bom dia! – lhe resmungo em resposta, não completamente certo que eu sei quem ela é. Eu apenas aceno e dou um sorriso e ando com pressa.

O ar revigorante me bate mais uma vez e o cheiro insuportável de produtos químicos de limpeza se dissipa com o vento. É rapidamente substituído pelo cheiro de grama molhada. Eu tomo uma respiração profunda e permito que os aromas me acalmem, parando um pouco antes de fazer o meu caminho. Meus pés se movem e logo eu me encontro na frente de um café. Eu não o reconheço, mas algo nele me faz me sentir mais feliz, me parece quente e acolhedor.

Eu entro e sou imediatamente atingido com o cheiro familiar de café amargo e doces muito açucarados. Minha boca saliva, instintivamente, quando olho a variedade de bolinhos e pães doces na vitrine. Há um papel para anotar, então vou marcando ali, contemplando o que eu gostaria de pedir. Acho difícil e tento decidir a minha bebida enquanto espero a minha vez.

Noto a mulher de aspecto cansado no balcão, conversando com um cliente na frente dela. Ela parece triste, derrotada, como se estivesse carregando o peso do mundo sobre seus ombros.

Ela também parece incrivelmente familiar.

Seu rosto está franzido de concentração enquanto ela pacientemente explica ao cliente que não há maneira de fazer o pão doce com queijo. Eu quero rir dessa troca ridícula, mas o olhar de dor em seu rosto me para. Ela não pode estar tão chateada por causa de um pão doce com queijo. Acho-me incapaz de desviar os meus olhos para longe dela, e ela deve sentir o meu olhar, porque de repente ela vira a cabeça e olha diretamente para mim.

Ofereço-lhe um sorriso tímido, envergonhado por ter sido pego olhando e desvio meu olhar. Esperando a minha vez, desejo que ela ainda esteja no balcão para me atender.

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