Vazio Sem Você - pjm + jjk

Capítulo Único.

As vezes eu me questiono em que momento estraguei tudo entre nós. Quando fui apodrecido e transformado nesse monstro que sou?

Depois de muito tempo gasto tentando encontrar um motivo ou uma única razão para tanta merda, cheguei a conclusão de que foi a soma de toda a péssima bagagem que carrego: minhas desprezíveis experiências amorosas; meus pais; meu trabalho e, principalmente, um pouco da minha própria natureza. Esses e mais outros infinitos motivos espantaram você, mesmo contra a nossa vontade.

Mas era melhor assim. Foi melhor assim.

Durante todo esse tempo de relacionamento, nós ficamos ligados por uma fina e sensível corda que me fez viver todos os dias apavorado, aguardando que ela se partisse. Eu só não esperava que fosse daquele jeito.

Hoje, neste apartamento que parece cada dia mais vazio sem você, eu me pego pensando em tudo que eu te disse, tudo que deixei de dizer e o que precisava verbalizar e falhei.

Hoje, neste apartamento que parece cada vez mais vazio sem você, eu me arrependo. Me arrependo de não ter sido o melhor como havia prometido, me arrependo de nunca ter te provado que eu poderia sentir amor da forma mais pura possível. Eu queria mostrar que poderia mudar por você e por mim, mas como sempre, as coisas nunca acontecem como gostaríamos.

Esses são os únicos motivos pelos quais estou aqui neste momento: a falta de capacidade de mudar minha vida e a covardia no momento de colocar um fim nela alguns meses atrás. Porém, eu confesso que não estou tão no fundo do poço quanto antes, pelo menos há uma luz. Pequena, mas existe.

Cada passo, cada objeto e cômodo dessa casa me lembram você, no entanto, preciso ser forte ou todo o meu esforço até aqui não terá valido nada.

Abro essa geladeira que compramos juntos e nela há uma enorme quantia de doces, todos os que você amava. Meu rosto se ilumina com a lembrança do seu sorriso sempre que voltava para casa trazendo esses pequenos bolos e tortas. O tamanho de sua alegria quase não cabia em seu rosto pequeno e fofo.

Agarro um pote com pudim e volto a me sentar no chão da sala, utilizando o sofá de encosto. Várias lembranças preenchem minha mente assim que arrasto meus dedos pelo tapete felpudo. Você o amava demais, nem sei porque deixou comigo. Provavelmente queria se livrar de tudo que lembrasse de mim, o contrário do que eu fiz.

Todos os dias, me agarro à qualquer detalhe que traga a sensação de quando estávamos juntos, por menor que seja.

Quando levo a primeira colherada cheia de doce à boca, fecho os olhos e uma lágrima solitária desliza pelo meu rosto, sem nenhum aviso prévio. Um pudim nunca foi tão doce e tão amargo ao mesmo tempo.

Não consegui perceber por quanto tempo fiquei ali, mas deve ter sido algumas horas porque o sol já parece querer se esconder. Suspiro pesado e decido por me levantar. Não posso ficar aqui para sempre, não depois de tudo.

Mas não tenho vontade alguma para isso.

Era isso que você sempre foi para mim, a motivação para me erguer e tentar ser alguém melhor. Mesmo que falhasse todos os dias, eu ainda tentava.

Você era a mais pura definição de confusão e sossego; paz e agonia, o mais prazeroso e intenso caos que já tive a oportunidade de ser atirado.

Mas nunca foi uma bagunça desconfortável, pelo contrário, a reviravolta que causou em minha vida foi quase como assistir à um acolhedor pôr do sol: bonito, singelo e quentinho. No entanto, para mim não estava nem perto de ser o suficiente, apenas serviu para me deixar sedento, louco, apaixonado.

Para você, eu acho que nossas tardes foram mais do que suficientes para me odiar.

No final, eles estavam certos sobre tudo.