two

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– Bichinhas como você me irritam, Lee. – Jang cuspiu as palavras na cara de Hoseok.

A situação era a seguinte: Hoseok estava preso por entre os dedos de Jang, um dos seus agressores, que o segurava pela gola da camisa dentro do banheiro masculino enquanto seus dois melhores amigos o assistiam. A pratica agressiva já era conhecida por Hoseok, porquê como dito antes, lidava com eles desde o ensino médio, quando decidiu assumir-se homossexual.

– Eu sei. – Hoseok respondeu simplesmente. Já havia desistido de encontrar forças para resistir.

– Então por que não sai dessa universidade, uh? Está me perseguindo por que? Por acaso é apaixonado por mim secretamente?

– Sabe, eu ainda tenho um pouco de autoestima. – E essa foi a última coisa que Lee conseguiu responder.

Jang empurrou o garoto na parede e desferiu um soco no seu estômago gratuitamente, recebendo risadas dos seus melhores amigos em troca. Hoseok tossiu e fechou os olhos. "Ótimo, mais uma marca para a coleção", pensou ele.

– Você não vai ter mais nenhuma quando eu desfigurar esse seu rostinho de ídolo. – O agressor ironizou e cuspiu no rosto do outro. – Não me provoque mais.

Hoseok foi solto e deixado para tras, tendo consigo mesmo apenas a sua dignidade. Não, minto, ele já não tinha dignidade nenhuma zelar, Jang acabou com todo o estoque. Ele levantou e deu passos arrastados até a pia, onde pudera abrir a torneira e lavar o rosto que estava simplesmente nojento, a nova mistura do momento era de saliva alheia com lágrimas, as mesmas que rolavam frenética e agressivamente pelo rosto.

Ele encarou o próprio reflexo no espelho e riu anasalado da sua própria desgraça. A quem mais queria enganar? Não restava uma só gota de autoestima nesse seu corpo exausto, a única coisa que o prendia consigo mesmo era o fato de que precisava terminar a faculdade para conquistar a merda do seu sonho que tivera desde os 6 anos, ser um médico veterinário. Hoseok pegou um pedaço da toalha de papel e a passou pelo rosto – como se aquilo fizesse com a sua fonte de lágrimas se secasse –, então deixou o banheiro e, em seguida, a instituição que estudava.

Não tinha para onde correr e Hoseok não queria, não achava justo ter que sair de um lugar que ele batalhou tanto para conseguir uma bolsa por conta de outras pessoas, ele não podia simplesmente dar a eles o que eles queriam de mão beijada. A única coisa que ele se perguntava era, de fato, o que havia feito de tão mau para o mundo, qual era o motivo real de ser tão odiado quando ele nunca havia maltratado nem mesmo uma mosca. Ele merecia isso? Ele merecia essa humilhação? Ele merecia as ofensas? Ele merecia, de fato, ser tratado como uma aberração?

Não, ele não merecia.

Chegou em casa por volta das 20h e decidiu que dessa vez tomaria um banho antes de dormir porque, por mais cansado que estivesse, ainda se sentia sujo por ter o DNA de Jang impregnado na sua pele, pele na qual antes ele cuidava com tanto carinho e hoje lavava no máximo com um sabão comum.

Depois de tentar relaxar pelo menos um pouco os músculos do seu corpo debaixo da água quente do chuveiro, vestiu a primeira coisa que encontrou na sua gaveta de pijamas e se jogou na cama, soltando um longo suspiro de alívio.

Ele lembrara da noite anterior, onde havia sonhado com aquele rosto desconhecido em um local exótico, onde jamais havia pisado. Hoseok se perguntara quem era aquele a manhã toda, mas constatou que era apenas uma criação do seu cérebro, afinal, homens tão bonitos assim não se encontram fora do hall da fama.

**

Hoseok abriu os olhos e, pelo cheiro de lírios, sabia que estava naquele mesmo campo verde do dia anterior, porém, dessa vez acordara ao lado de um lago. A água era cristalina e era notável a presença de algumas espécies de peixes que nadavam tranquilamente no local. Lee os assistiu um pouco, sentindo a calmaria que eles passavam alcançar o seu coração.

Ele ouviu passos atrás de si, então virou a cabeça para trás pronto para se colocar em posição defensiva, porém a pessoa que vinha não parecia ser nem um pouco ameaçadora para si. Hoseok sorriu fechado e esperou que ele se aproximasse o suficiente para dizer algo. O garoto pálido com o nome de Hyungwon ainda vestia roupas na mesma tonalidade do dia anterior e seus pés estavam descalços, mostrando total casualidade e conforto com o ambiente.

Oi, Hoseok. – Hyungwon sorriu tão fechado quanto Hoseok.

Oi, Hyungwon. – Hoseok respondeu. – Você está sempre aqui?

– Sim, eu vivo aqui.

Hoseok assentiu e reprimiu suas perguntas, pois parecia mais interessante aproveitar a calmaria do ambiente enquanto ela durava. Eles dois assistiram os peixes nadarem por alguns minutos antes de se entreolharem novamente.

O olhar que Hyungwon tinha era diferente de tudo o que estava acostumado. O garoto alto tinha um olhar puro, livre de julgamentos e críticas, ele transbordava a sinceridade através das suas expressões, fazendo-o parecer que não tinha nada a esconder, livre de inseguranças ou de maldade.

– Quantos anos você tem, Hyungwon? – Hoseok se atreveu a mais uma pergunta.

– Eu tenho dezenove anos. – Ele respondeu. – O que você faz aqui?

Hoseok deu de ombros.

– Eu não sei. É a segunda vez que eu apareço aqui e não faço ideia do porquê.

Hyungwon assentiu e olhou em volta, como se pensasse em algo para preencher o vazio.

– Talvez você esteja aqui porquê precisa de paz.

E foi a última coisa que ouviu sair por entre os lábios carnudos de Hyungwon antes que o cenário se tornasse distante, distante o suficiente para que o rosto do garoto alto se desfizesse diante dos seus olhos. 

dream ↠ hyungwonhoWhere stories live. Discover now