antes do inicio...

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O sangue se espalhava pela areia a margem do rio, brilhando em tons de ouro e carmim. Sangue divino, meu sangue. Deitado e machucado sob um céu negro, mal conseguia me mexer e lutar contra as duas formas negras e altivas que se aproximavam, eu sabia o que eles queriam. Não deveria ter ignorado meus instintos, mas já era tarde, o encanto havia me atingido e me atraído para essa armadilha. Como fui tolo! Como pude ser derrotado assim? Como deixei isso acontecer? Assim que as figuras chegaram perto o bastante para serem distinguidas eu não pude acreditar no que via, meu irmão Taurus e minha irmã tefilys. Eles haviam feito a armadilha para me destruir! Eles que me queriam morto e o mundo também! Como não percebi antes? Então foi aí que liguei os pontos, eu era o primogênito e carregava os poderes da terra, eles carregavam o caos e o sofrimento. Eles queriam os meus poderes! A inveja e o ódio nos olhos deles era evidente.

Os dois eram idênticos: cabelos cor de ébano; cacheados e volumosos, pele pálida como a neve, olhos com íris brancas peroladas como qualquer olho divino deveria ser, e aqueles sorrisos falsos desde o nascimento, a sua única diferença entre eles era a altura; taurus era mais alto. Eu não era muito fã deles e mantinha distância da dupla desde pequeno mas nunca pensei que eles seriam capazes de tramar a minha morte e a destruição do mundo. Eles se agacharam junto ao meu rosto me deram um de seus sorrisos frios e sarcásticos sem um pingo de calor neles. Se eu tivesse forças e não estivesse sangrando eu faria migalhas daqueles sorrisos. Taurus é o primeiro a falar em seu típico ar frio e falso, fingindo pena:

- Não acho que irá sair dessa tão fácil como sempre faz, maninho.

Tefilys começa rir ironicamente, um som frio e rico ao mesmo tempo, típico dos deuses do caos e do sofrimento. Logo em seguida fala:

-Pobre gebedian. Pobre deus da terra, ainda não percebeu o que está prestes a acontecer? O ritual já está sendo feito e logo, logo o mundo irá ser destruído assim como você.

Em espanto eu arregalo os olhos, como eles conseguiram fazer isso tão rápido? Rituais como esses demoram dias para acontecer... a menos que eu tivesse dormido não por horas e sim por dias. Eles então se afastam dizendo para aproveitar os últimos minutos da minha vida miserável. Eles não deveriam ter virado as costas para mim coitados. Com as ultimas forças que me restam me ponho de joelhos para entoar o encanto que a muito tempo me foi ensinado para emergências como essa um encanto do qual vou me arrepender de usar.

Tentando me manter estável sobre meus joelhos, começo a desenhar na areia com o sangue de umas de minhas feridas, um círculo em volta de mim e um triangulo com três pequenos montes de terra em cada uma das suas extremidades. Então me levanto um pouco tonto por causa da perda de sangue, e invoco o poder da terra e controlo os pequenos montes de terra para construir uma cúpula em torno de mim. Os irmãos, percebendo o que estava prestes a acontecer se lançam contra mim pare me impedir, mas eles não foram rápidos o suficiente para me impedir de dizer as palavras, com toda a força que me restava eu disse a plenos pulmões:

- Sou gebedian! Deus da terra e por meio deste encanto selo meu destino e escondo meu coração até o dia em que o escolhido nasça e me desperte de meu sono e me devolva o coração! Até que este dia chegue mundo irá perecer, e a guerra entre as raças dominará! HUMANS, SILIS, ELFIS! TORNUM AQUY DITENTIS!!!

A cúpula de terra se desmancha em uma tempestade de areia e sangue divino que começa a girar em torno de mim, mostrando que o encanto deu certo , e sob meus pés o chão começa a se abrir, pouco a pouco o mundo ao meu redor perde o foco e sinto um puxão em meu peito e vejo um feixe de luz sair e se condensar diante dos meus olhos, formando uma pequena joia em forma de montanha após uma nevasca, incrustada de esmeraldas e perolas. Ao olhar para cima vejo os olhos branco-perolados de meus irmãos cheios de ira, e um sonolento e débil sorriso e espalha pelos meus lábios. Eles tentaram atravessar a tempestade de areia, mas a barreira que ela forma entre nós não permite eles se aproximarem, então gritam em uníssono:

- Isso não acabou! Nos iremos te vencer gebedian custe o que custar!!! MALDIOS, TORNUM ITETIS! VENTUS NUT DELFIS!

Meu débil sorriso se esvai, e um profundo vazio me invadi assim que compreendo o significado da maldição. O destino mais cruel que se pode imaginar. Além da morte, e que nenhum mortal seria capaz de dar. Antes que eu pudesse reverter a maldição, uma terrível escuridão toma conta do meu ser me levando para o meu sono profundo. Que o destino tenha piedade do escolhido.

A escolhida da terraWhere stories live. Discover now