Confiança

123 20 2
                                    


Pude respirar normalmente apenas quando coloquei os pés em casa. Guiei Taehyung, que mais parecia uma estátua agora, até o sofá e o sentei ali.

- Vou fazer um chá. Talvez isso ajude. - estava prestes a sair, quando o senti abraçar a minha cintura.

- Fica comigo. Por favor...

Senti lágrimas quentes molharem a minha camisa. Taehyung nunca chorou na minha frente. Me sentia horrível por vê-lo daquele jeito.

- Eu prometo que vou ficar. Confie em mim.

Ele parou de chorar, como se estivesse pensando sobre o que eu havia dito. Então me soltou, permitindo que eu fosse até a cozinha.

Assim que fechei a porta atrás de mim, deslizei até o chão, tentando colocar meus pensamentos no lugar. O que tinha acontecido? Meu dia havia começado normalmente e há poucos minutos eu fugi de um bêbado louco. Que sábado agitado.

Mas nada disso importava agora. Me levantei, pensando em quão egoísta eu estava sendo. Não era eu quem precisava de respostas, muito menos de apoio emocional. Se eu estava daquele jeito, Taehyung devia estar muito pior. Eu precisava ser o que ele precisava agora: uma amiga.

Levei duas xícaras de chá até a sala. Taehyung continuava na mesma posição, mas parecia mais calmo. O entreguei uma das xícaras, esperando pelo momento certo de falar. Depois de um breve silêncio, ele começou:

- Sinto muito por você ter visto aquilo. - ele virou a xícara, dando uma última golada no chá.

- Não se importe comigo. Eu quero saber como você está.

- O que você fez foi arriscado, ele poderia ter te machucado.

- Mas eu estou bem, não estou?

Ele sorriu de lado, tocando minha bochecha com uma das mãos.

- Teimosa e muito corajosa. - ele começou um carinho. - Você me deixa louco de preocupação.

Senti meu coração apertar dentro do meu peito. Como ele podia estar pensando em mim num momento como aquele?

- Eu é quem devia estar preocupada com você. Os mais velhos tem que cuidar dos mais novos, você sabe.

- Você já cuida de mim, noona. Obrigado.

- Me agradecendo do nada... Isso é estranho.

Ele riu.

- Só você para me fazer rir num momento como esse.

O silêncio veio a tona, enquanto nós dois ainda trocávamos olhares. Ele continuava a acariciar minha bochecha, como se não soubesse o tipo de sensação que isso me causava. Estava nervosa de novo.

- Sabe... - comprimi os lábios por um segundo, pensando se devia mesmo falar. - Não precisa me dizer o que aconteceu.

Ele engoliu em seco, afastando a mão do meu rosto. Estraguei tudo de novo.

- Ele é meu pai.

Arregalei os olhos, sem acreditar no que estava ouvindo. Taehyung esperou que eu digerisse aquela informação e então continuou.

- Minha mãe foi embora de casa quando eu tinha 13 anos. Hanna tinha 9. Até hoje não sei o porquê ela fez isso, mas meu pai caiu num abismo depois que ela se foi. Começou com jogos de azar, depois passou para a bebida. Ele ainda chama muitos amigos para jogar, mas o negócio dele é beber. E ele fica agressivo quando bebe...

Ele parou de falar, cerrando os punhos. Cobri minha boca com as mãos, em completo choque. A mancha roxa...

- Taehyung, não me diga que ele te bateu.

Rain and Asphalt (KTH)Where stories live. Discover now