Fascínio - capítulo - VIII

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      Quatro meses depois, Júlia já exibia sua gravidez com orgulho. A tristeza pela falta de Nathan era amenizada quando sentia os tímidos movimentos do bebê, numa maravilhosa comprovação de que seu amado não havia lhe deixado completamente só. Ela passava os dias imaginando, pedindo a Deus para que cada vez que olhasse para seu bebê, conseguisse ver refletidos nele, os traços de Nathan.

      Mesmo tendo a atenção voltada quase que exclusivamente à gravidez, Júlia não podia deixar de perceber certa harmonia em sua família. Imaginou que, quando seu pai soubesse de seu estado, no mínimo arremessaria frases sarcásticas; mas, estranhamente, notava-o destituído, não só do olhar rancoroso, como também das palavras agressivas. Mantinham certa distância onde, cada qual, respeitava o espaço do outro.

    Na manhã de um domingo ensolarado, Júlia encontrava-se sentada em uma das espreguiçadeiras que havia em volta da piscina. Olhava fixamente para as páginas de um livro sem, no entanto, ler uma só palavra. Sabia que as letras estavam ali, esperando por serem lidas e absorvidas, mas a sua mente apenas vagava, flutuava no compasso da melodia que soava em seus ouvidos. Era a quinta vez que ouvia a mesma música. Esta, falava da dor de uma pessoa que se sentia perdida; totalmente só, temerosa, e que pedia a proteção, o aconchego, a segurança dos braços de um anjo, um anjo que a guiasse por caminhos repletos de luz e paz; e que a cada passo que desse fosse abandonando, desatando as algemas que a prendiam aos medos e incertezas, de modo que a dor do amor perdido se dissolvesse por completo, transformando-se em uma doce e inofensiva lembrança.

     _ Deus. _ sussurrou, quando uma lágrima bateu de encontro ao papel.

     _ Júlia.

    Olhou para trás ao ouvir o chamado do pai. Rapidamente passou a mão pela face, tentando apagar as marcas da profunda tristeza que a abatia naquele instante.

     Osmar sentou-se na beirada da espreguiçadeira posicionada próxima.

    _ Faz algum tempo que venho ensaiando uma maneira de... precisamos ter uma conversa. Pode me ouvir agora, filha?

    Júlia sentiu um aperto no coração. Aquele à sua frente, não era mais a pessoa repressora, o homem que fazia questão de demonstrar desprezo no olhar. Naquele exato instante viu seu “pai!” Sim, aquela expressão era de afeto e preocupação.

     _ Se você não quiser conversar, tudo bem. _ começava a se levantar, quando a voz dela soou.

   _ É claro que podemos conversar; você está com algum problema? Posso ajudar em alguma coisa? _ viu um esboço de um sorriso amargo, antes de ouvir:

     _ Você tem bom coração, é uma pessoa muito especial.

     _ Por que está dizendo isso? Tenho notado que você anda diferente.

     _ Filha, será que algum dia você poderá me perdoar?

     _ Pai...

    _ Por favor, deixe-me falar _ puxou o ar profundamente _ Até o fim de meus dias não terei paz, devido a tudo que a fiz passar. Só quero que saiba que estou muito arrependido; Eu te amo, filha _ Osmar não conseguiu conter as lágrimas. _ Entenderei se nunca conseguir o seu perdão.

     Júlia sentia a emoção tomando conta de si.

     _ Pai, quem pensa que eu sou para perdoar ou não alguém? Eu também não tenho sido uma filha exemplar.

     _ Só não foi exemplar porque eu a instiguei. Se "eu" tivesse sido um bom pai _ Osmar voltou a puxar o ar com angústia para então continuar seu desabafo: _ Sinto muito por Nathan. Ele era um bom homem; sei o quanto você sofre por ele.

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