Amoela

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— Cara, como você pode amar ela? Você nem a conhece direito? — Um dia eu perguntei isso para meu amigo Marilon, enquanto ele derramava goela abaixo mais outro copo de cerveja.

— Mas eu amo ela, cara. Eu sei. Como ela pode fazer isso? — Marilon disse visivelmente tentando conter as lágrimas.

— Cara, vocês só ficaram algumas vezes. Não dá para amar assim tão rápido. Isso é amor de verão. É que nem virose. Daqui a pouco passa. — Eu disse sorrindo porque nessa época eu tava muito de tranquilo com meu coração. Na verdade, fazia muito tempo que eu não sentia nada por ninguém. Sempre evitei me apaixonar. Esse troço vira nosso mundo de cabeça para baixo e eu tenho coisas mais importantes para me preocupar do que ficar chorando e correndo atrás de mulher por aí. — Cara, desencana. Ela não era pra você.

— Eu sei mano, mas ela é tão linda. Eu não acredito que ela tá com aquele cara tosco. Só de imaginar ela beijando ele... — Ele disse isso enquanto uma lágrima corria pelo seu rosto para depois explodir na sua calça jeans. Ele estava detonado mesmo, pensei. O que eu poderia fazer para ajudar aquela alma? Nada. Nesses casos só o tempo, a cerveja e outro amor cura essa virose. Eu tenho que dizer que me sentia levemente superior por não cair nessas armadilhazinhas do coração que nos desviam dos nossos objetivos.

Depois de muita conversa, cervejas, lágrimas e gracinhas para tentar alegrar meu parça, pagamos a conta e fomos para casa. Durante o caminho perguntei: — Mano, desculpa se eu pareço insensível ou coisa parecida mas o que exatamente você viu nela? O que ela tem que as outras não poderiam ter? — Ele pensou brevemente e respondeu:

— Não sei. Acho que o formato dos olhos dela que combina com o formato da boca. — Puta que pariu eu pensei. O cara tá locão mesmo. Eu não conseguia entender aquilo mas tava suave porque ele tava até sorrindo novamente. Ele estava justamente sorrindo quando essa calmaria no coração do meu amigo foi interrompida pela prometida dele passando no outro lado da rua com o novo namorado ou sei lá o que. A expressão de Marilon mudou na hora. Segurando novamente as lágrimas ele apertou o passo sem rumo sem direção. Guiei aquela alma perdida em direção a sua casa e depois que o vi entrar em segurança em seu lar peguei o rumo em direção a minha humilde moradia. No caminho acendi um cigarro e fui pensando que deus me dibre disso. Ficar que nem um otário chorando. Louco igual a um mané por causa de buceta. Tinha tantas por aí porque ficar preso a uma só? E o pior era a rapidez com que ele se apaixonou hahaha. Coitado, eu pensei rindo sozinho na rua naquele momento.

Uma semana depois nós estávamos fumando do lado de fora da sala esperando a aula começar. Marilon estava de um ótimo astral. Rindo e contando as piadas de tio do pavê sem graça de novo. Eu tava feliz por ele. Fomos para a sala pois o professor já tinha começado a falar. Me sentei na carteira e olhei de relance a porta. Nesse instante meu coração parou. Quem era aquela mina? Meus olhos ficaram vidrados nela por um tempo que eu não consegui mensurar. Eu tentava disfarçar, mas meus olhos já não me pertenciam. Nada mais em mim me pertencia. Eu tinha me traído que nem música do Raul. Naquele momento eu compreendi totalmente meu amigo Marilon. Alguma coisa no modo que ela sorria me chamava a atenção. Acho que era aquele nariz meio africanizado ou será o jeito que ela fala meio sussurrado? Cara, o que aconteceu comigo? Meu coração batia forte, forte, forte. Duas horas depois eu já tinha imaginado os filhos dos nossos filhos e saí da sala pisando em nuvens imaginando alguma forma de puxar assunto. E depois do óbvio ululante acontecer e eu queimar minha língua na língua dela. Eu só conseguia pensar que eu amo ela eu amo eu amo ela. Amo o pescoço os pezinho com as unhas tão bem feitas. As mãos, seu cheiro, sua cor e tudo mais que houver nela.


AmoelaWhere stories live. Discover now