Prólogo

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   Sabe quando nossa memória seleciona apenas algumas coisas e simplesmente deleta? Pois bem, eu não conseguia me lembrar nem se quer os traços daquele que me apunhalou pelas costas há alguns anos, não me lembrava nem mesmo do rosto de minha mãe, aquele rosto pálido na qual carregava lábios finos pintados de vermelho e olhos num tom de azul profundo, não me lembrava também do quanto à sua voz era rouca e seu cabelo claro que tinha um cheiro absurdo de camomila. 

-Marjorie, depois de quase dez anos? Qual o motivo da sua volta?
-comprei o chalé que eu dizia que iria comprar, não se lembra?
-sim, eu me lembro mas pensei que você também iria se lembrar de como essa cidade é! e que ela não te quer aqui!
-eu me lembro somente do porque você não me quer aqui mãe.
-você não tem vergonha de dizer algo assim Marjorie?
-eu tenho vergonha mãe! Na verdade eu morro de vergonha mas é de você que foi capaz de isolar a própria filha durante tanto tempo pra esconder a verdadeira paternidade!-falei em um tom carregado de raiva-ou você pensa que seu marido nunca desconfiou? Pois foi ele quem frequêntou aquela clínica onde você me internou! e foi ele que me apresentou meu pai biológico-nesse momento não me contive e dei um leve sorriso lateral-enquanto você estava aqui nessa cidade horrível cuidando da sua reputação de merda!
-ele não faria isso por trás de mim!
-ele fez! Eu tive dois pais que nem se tentasse ser uma boa mãe você superaria.
-nunca mais repita isso!-disse ela levando a mão até meu rosto com um tapa pesado.
-pra que? A única pessoa que precisava ouvir era você Leonora, você veio atrás de respostas e eu te dei, então por favor pode sair da minha propriedade.

    Porém a mente vai muito além e do mesmo jeito que excluiu algumas coisas eu também tinha lembranças que estavam vivas como se tempo algum tivesse passado e eu me lembrava bem do cheiro daquela noite, a lua nova que brilhava no céu, lembro de como fugi pela janela ralando o cotovelo e de como ardeu durante horas, me lembrava bem de como um assassinato havia ocorrido e que apesar de pagar o preço eu também sabia que eu não era a culpada e melhor do que eu minha mãe também sabia, Quanto ao ralado, ele parou de arder com algumas horas, deu casquinha e cicatrizou eu só me lembro da sensação, porém o maior ferimento daquela noite nunca se fechou e eu podia senti-lo dia após dia como um espinho no pé e eu estava disposta a removê-lo a qualquer custo. A única sombra daquela noite era Perter, meu melhor amigo na época ele estava quando tudo aconteceu e se uniu a minha mãe para que eu fosse internada e carregasse o fardo de um crime que não era meu. O que eu não esperava era que ele descesse do carro naquele momento, que aquele rosto tomasse forma novamente em minhas lembranças, aqueles olhos estupidamente arregalados e negros, um cabelo enrolado e a pele pálida que gelava até a alma, naquele momento montei meu alvo eu sabia que estava começando uma guerra e estava ali para ganhar.

O sétimo segredo Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang