Capítulo 1

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"Eu não sabia que você se sentia assim
Eu pensei que estivesse bem
Por que você teve que esconder?
Eu não queria te deixar triste
Mas a verdade é essa
Estou me matando por dentro
Ao não escutar meu coração."
- Space Between

[...]

O cheiro da fumaça. O cheiro das fábricas. O cheiro de roupa nova. A visão do asfalto. A visão das comidas variadas. A visão das pessoas apressadas enquanto correm na rua, sabe-se lá por que.

Ah, o gosto do capitalismo.

Eu poderia dizer que amo o rumo que as coisas tomaram e que minha vida ficou mais fácil depois das mudanças e inovações que transformaram o mundo. O transporte, a internet e a comunicação.

Mas, sinceramente, no momento a última coisa que eu quero é ter contato com resto do mundo. Eu só queria me esconder. Eu só queria não ter que encarar as consequências das situações que passo. Pelo menos por um dia, eu gostaria de não ser eu.

- Ele é incrível. É a própria perfeição. Apesar de eu não lembrar muito bem como ele é. Mas você vai adorar, eu tenho certeza. - A fala da minha irmãzinha me tira dos meus devaneios. Eu gostaria de dizer que eu sequer lembro-me do que ela estava falando, mas, depois da frequência e quantidade de vezes que a mesma citou o seu Livro, seria impossível me fazer de esquecida. "Unificação do Amor". Mais clichê impossível.

- Olha, eu seriamente acho que você ficou louca de vez, maninha. - Lhe digo minha hipótese enquanto a ajudo a atravessar a rua.

- Por quê? Para de ser chata, você nunca acredita no que eu falo. - Emburrada, ela reclama enquanto tenta acompanhar meus passos.

- Sinto muito, mas não há como. Eu trabalho naquela biblioteca há meses e nunca vi esse livro. - Lhe afirmo. Tudo bem, eu podia ser lerda às vezes, mas eu nunca tive tanta certeza de algo, como tinha de que aquele livro não estava naquela biblioteca.

- Pois você precisa de óculos, eu já o vi e o li. - Lívia diz com convicção.

- Se tem tanta certeza, por que você não lembra? - "Agora eu te peguei pirralha." Pensei.

- Eu só não lembro porque já faiz alguns dias. - Ri por ela ter falado errado. - Ai, para de ser desconfiada, Lia. - Enquanto colocávamos os pés na biblioteca, Lívia insistia em voltar ao assunto.

- Tá bom, se você diz. - Lhe digo para acalmar seus ânimos.

Na verdade é apenas um jeito curto e indireto de manda-la calar a boca.

- Você vai pagar com a língua, você vai ver.

Sem me esperar, Lívia corre em direção a entrada da biblioteca como um tratorzinho.

"Um dia essa menina ainda vai me matar."

- LÍVIA, VOLTA AQUI. - Grito enquanto corro, tentando alcançar a mais nova. - GAROTA SE EU TE PEGO, EU VOU TE DAR TANTA COSQUINHA QUE VOCÊ VAI ATÉ ENGASGAR. - Minhas ameaças em formato de gritos se misturavam com os risos da minha irmã pela biblioteca.

Esses momentos, apesar de maravilhosos, são tão raros.

Lívia é minha irmãzinha mais nova.

Ela é um dos poucos motivos pelo qual eu permaneço aqui. Ela me dá tanto orgulho. Ela me deixa tão feliz. E apesar das nossas brigas, eu sei que eu a amo e que ela me ama. Amor de irmãs é algo tão simples, puro e até mesmo complicado.

Só que, momentos assim são raros, justamente por coisas que impedem que eles aconteçam.

No nosso caso, são pessoas.

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