Febre Adolescente (Conto Concluído)

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Ao escutar aquela banda pela primeira vez, soube que jamais deixaria de gostar deles pelo resto de sua vida. A música mais tocada pelos rapazes foi o estopim para que ela se apaixonasse por tudo que envolvesse aquela banda. Era incrível como eles a ligavam a algo que ela nem mesmo conhecia de si mesma.

Em seus 14 anos era normal que ela se viciasse em algum cantor e tornasse aquilo sua obsessão. Espalhou pôsteres pela parede, encapou seu caderno de escola com a foto deles e deu um jeito de comprar todos os CDs. A vida dela movia de acordo com aquela banda, gostaria de saber tudo sobre eles, e se conversava com alguém, isso era seu único assunto. E ela conseguiu até influenciar suas melhores amigas a gostarem da banda e então, as três meninas ficavam o dia todo falando sobre eles e colecionando coisas que tinham os rostos deles.

E foi também a primeira vez que olhou para um rapaz e o achou bonito: Aaron era seu nome.

Aos 16, ainda obcecada com o grupo, recebeu a notícia de que eles viriam ao Brasil, especificamente em sua cidade. O ingresso custava 160 reais e ela sabia que seus pais não teriam o dinheiro para lhe dar. Por isso, ela nem pediu. Só comentou com sua mãe sobre a data do show, mas já sabia que seu sonho não seria possível de realizar. Não culpava seus pais, afinal, ela também achava que 160 reais era muito dinheiro.

O dia do show foi um dos piores dias de sua vida. Enquanto ela pensava na sorte das pessoas que estavam na fila, também fantasiava sobre a banda dar uma volta pelas ruas e acabar perto de sua casa. Mas aquela ideia não passava de uma fantasia de menina. Sentou em frente ao computador e ficou olhando fotos dos integrantes. Aaron, o guitarrista, era seu favorito, sua paixonite aguda. Jogou o nome dele no Google e ficou a observar suas fotos e seus detalhes. E pela primeira vez, teve a súbita vontade de escrever um poema secreto:

Meu sonho distante

Eu gostaria de ser essa corrente prata

jogada sobre a sua pele tatuada do pescoço.

Eu queria tocar seus cabelos sedosos,

prendê-los entre meus dedos e puxá-los

enquanto você sorri,

aproxima-se e me beija.

Queria tocar o couro frio de sua jaqueta

Que acusa o clima gelado lá de fora.

Eu queria sentir como é sua pele longe de telas de computador.

Eu queria que você soubesse que eu existo.

Mas no fim, você é apenas meu sonho distante.

E aquele foi o primeiro e o último show que a banda fez em sua cidade. Dois anos depois, eles deixaram de existir. E seu sonho de um dia ouvir a banda ao vivo, dissipou-se em pedaços.

Giovanna cresceu e se tornou uma moça como qualquer outra, estava com 24 anos, já era formada e tinha um emprego fixo. Ainda gostava daquela banda, mas conseguia se conformar de que agora eles não passavam de caras normais, bonitos ainda, mas quase chegando aos 40.

Foi em outros shows e algumas vezes, uma imaginação rápida passava em sua mente: como seria ver sua banda favorita ao vivo? Eles bem que poderiam voltar. Será que não estavam precisando de dinheiro ainda? Quem sabe uma última turnê mundial com os maiores sucessos cairia bem.

O fato é que alguns anos atrás, o guitarrista montou uma banda meio punk, que fazia parte da cena underground do rock americano. Não tinha tantos fãs, sobraram só aqueles que realmente gostavam, e os shows eram escassos. Talvez um por mês. E todos aconteciam apenas em cidades americanas. Jamais ela poderia viajar ao Estados Unidos e ver um show. Isso era algo que ela nem cogitava em fazer.

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