Parte 3

341 54 4
                                    

— Uma nota de zero a dez para jogos de fliperama — pergunto, dando continuidade ao padrão da nossa conversa

Estamos no sentados na beira do píer do lago de água cristalina. Acabamos de sair da piscina e passamos aqui antes de nós juntarmos outra vez aos casais.

— Você está brincando? Mil

— Jura? — estou surpresa e animada ao mesmo tempo

— Não há coisa melhor que jogos de fliperama — responde, fazendo um joinha com as mãos, rio por isso

— Posso concordar com cada palavra

— Certo. Uma nota de zero a dez para HQs.

— Hmm — penso por um momento —, oito

— Como ousa? — Gustavo finge revolta, dou de ombros — No mínimo, um dez

— Zero a dez para milk-shake — sorrio ao lembrar da nossa suposta história, ele também

— Nove e meio

— Nove — respondo, com uma expressão pensativa, o encaro outra vez, observando-o cogitar a próxima pergunta

— Zero a dez para a Marvel

— Seria um crime dar menos que dez — ele ri, e anúi, concordando

— Zero a dez para geleia de morango

— Eca. Menos cinco

Abro a boca em choque.

— Você acaba de perder todo o meu respeito — ele gargalha pelo meu drama

— Ei — chama Gustavo, mudando de assunto —, o que vamos fazer amanhã? Quero dizer, hoje era o dia que todos nós ficaríamos juntos e tals, que tivemos os momentos em grupo, mas amanhã estão todos programando passar o dia com sua namorada ou namorado. E nós?

Paro pra pensar sobre isso. Ele está certo. Dou de ombros antes de respondê-lo.

— Eu não sei. Talvez devêssemos esperar até amanhã e vê no que dá

— É. Pode ser

Há um bom momento de silêncio entre nós, não é constrangedor e nem nada. Mas já estava chegando a me incomodar, não gosto de ficar muito tempo calada.

— Por que está tão quieto? — indago, apoiando o meu peso nas minhas mãos, que estão um pouco atrás do meu corpo, me deixando levemente inclinada

Ele dá de ombros antes de responder.

— Eu só... — Gustavo procura palavras que possam explicar o que quer dizer, mas acaba desistindo — Não sei — seu rosto vira na direção do meu e esboço uma careta, fazendo um biquinho ao projetar o lábio inferior para frente e unindo pouco as sobrancelhas, ele ri pela expressão — Você fica fofa assim

Rio fraco também e empurro de leve seu ombro, arrumando a postura para ficar do seu lado.

— Você também é fofo — digo, passando os próximos segundos me decidindo se me arrependi ou não por ter dito o que disse

— Não estou fazendo careta alguma agora — seus olhos fixos no meu enquanto fala

— Eu sei. Mas o seu rosto — friso bem as palavras, deixando claro que me refiro não só a uma careta ou um momento, mas ele em si — é fofo naturalmente, e... Bonito

Seus olhos caem para as suas pernas, não deixo de encarar seu rosto nem por um segundo, mantenho-me com um sorriso nos lábios, ele ergue ambas as sombrancelha e ri consigo mesmo, seu rosto se ergue mas não para em mim, ele sob sua vista ao céu.

— Você está evitando me olhar? — rindo, eu pergunto, mesmo que já saiba da resposta

— É óbvio que não — seu tom mais grosseiro não condiz com a suavidade que passa no pequeno sorriso presente no rosto

— Ah é? — provoco — Pois olhe pra mim, Gustavo Almeida — peço, ele me encara, por pouco tempo, acho não não dura nem mesmo um minuto, seu olhar cai para as minhas mãos no colo, estou um pouco de lado para conversar melhor — ! Está com vergonha — brinco

Ahhh! — grita, não tão alto, e ri, o acompanho e nossas risadas se misturam — Você falando disso só está piorando a situação — o observo por alguns segundos, ele realmente é lindo, e a paisagem a nossa volta, o verde, as pedras de vários níveis e o lago logo a frente parecem contribuir ainda mais para sua beleza

— Falar sobre o que? Que está envergonhado porque disse que é bonito? Ah é, também disse que é fofo — instigo, rindo alto pela sua falta de jeito

Para me confrontar, o moreno me encarar outra vez, agora, o tempo dura mais que da última vez, mas ainda assim ele tenta quebrar o contato visual. Não deixo. Levo a mão ao seu rosto.

É surpreendente qualquer atitude minha desse tipo. Não tenho essa coragem. Mas por alguma razão estou sem qualquer inibição.

Impossível é contar o tempo em que nos perdemos um no outro, tudo o que eu consigo é aproveitar a sensação boa dentro de mim e sentir o momento que sua boca encontra a minha.

Seus lábios eram macios e eu podia sentir um frescor delicioso de menta. Em toda a minha pouca experiência de vida, nunca troquei um beijo como esse. O seu toque inicial, hesitante, ganha confiança e o garoto enlaça minha cintura com um dos braços enquanto sua outra mão enlaça meus fios castanhos. Aproveitando essa abertura, puxo levemente seus cabelos e passo a brincar de passar minhas unhas na sua nuca.

Quando nos afastamos gradativamente, fui parando para pensar e entender o que está acontecendo. E então, como uma reação ao choque de realidade que acaba de dar um tapa na minha cara, um sorriso largo se alastra pelo meu rosto. Ele também sorri e encosta sua testa a minha, se mantendo próximo, tão próximo que as vezes seu nariz toca o meu.

Sabíamos que precisávamos ir. Combinamos a noite da pizza com meus amigos. Mas mesmo conscientes disso, nenhum de nós parecia interessado em sair dali. Contudo, uma hora ou outra iria que acontecer, mas isso não significa que teria que ser agora.

Tanto que só voltamos ao chalé quando o sol estava se pondo e as estrelas aparecendo. Porque no fim das contas, aquela seria a última noite em grupo da viagem, deveria ser aproveitada. Amanhã era já era o dia dos namorados, e tinha a sensação de que teria muito tempo para aproveitar com Gustavo.







( 989 palavras )

Dois Dias Para Amar |✓Where stories live. Discover now