Capítulo 16 - Mais Detalhes

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   —Espera! - Alissa interrompe a atenção de todos, carregando um semblante confuso, pensativo. —Tem uma coisa que não ficou claro, julgo eu para todo mundo... Mas... Por qual motivo o Peter ficou em Londres? Perder a memória e ser preso aqui simplesmente do nada?
   Era uma ótima pergunta. Me indagava sobre isto, mas meu tempo fora me deixou ofuscar muitos outros detalhes. Estava querendo mais me atualizar sobre se fiz falta do qual o motivo de ter de fazer esta falta. Eu só sumi na minha própria existência, de uma hora para outra na tal noite chuvosa.
   Encarei os dois invasores, que pareciam tão confusos quanto. A boca de Obsidian se encontrava entreaberta, numa passagem de resposta que nunca viria, pelo menos não agora.
Alguns instantes se estendem em silêncio, numa percussão do que ninguém sabia ao certo de mínima dedução.
   Estendo meus dedos em meus joelhos, apertando o tecido áspero da calça. Estávamos à muito tempo nesta conversa, mesmo com tudo passando muito rápido. Respostas concretas formam opniões e informações diretas, e no momento, precisamos disto.
   Mas não temos.
Olhei vagamente pare frente, tendo meu foco agora, apenas mental. O peso dessas coisas, de tudo que agora sei, deveria cair há pouco, mas não. Quanto mais eu pensava, mais motivos se formavam para serem descobertos, numa teia interminável.

Não muito tempo antes...
   Minhas pernas falharam, bambas enquanto eu me levantava sobre o chão molhado. Não sabia onde estava, muito menos quem era, apenas um nome ressoava ao fundo da garganta.
Peter...
Peter! Deve ser o meu nome. Espero que seja.
Algumas pessoas estão me olhando, estranhando o rapaz ruivo ter caído em meio à uma rua silenciosa. Meus braços sangram, assim como minha boca, com um filete carmim descendo delicado pela mandíbula até o pescoço.
Tenho um instinto repentino de olhar para o céu, procurar algo. Centenas e milhares de estrelas brilhavam sobre o breu da noite, e, mesmo com a chuva fina, eram nitidamente vistas.
Uma delas, em específico, chamou minha atenção. Era intensa e brilhava solitária, rodeada de trevas por um espaço considerável, diferente das outras, que tinham pontos parceiros muito próximos.
Senti-me triste, nauseado. Talvez pela queda ou talvez não. Não lembrava de um mínimo detalhe de todos o tempo anterior da minha vivência. Só uma linguagem e um nome, o Peter.

Atual...

Engasguei ao notar algo diferente em minhas lembranças. Na noite que cheguei, ao olhar fixamente para o céu, algo estava faltando, uma coisa que não senti falta por não lembrar que existia.
A segunda estrela à direita. Não estava mais ali. Tinha desaparecido sem rastros, apagado.
Já ouvi dizer que estrelas podem estar no nosso céu, irradiantes, mas ainda assim já estarem mortas. A luz, aparentemente, viaja rápido, mas não o bastante para ser instantânea.
E era possível, claro, que o símbolo de nossa ilha estivesse morto à séculos(mais que isto), mas não é algo fácil de engolir.
   Levantei a mão, devagar, ignorando os burburinhos e ideias trocadas enquanto eu pensava. Todos pararam e olharam para mim, com seus rostos mesclados à crença e a não, de que eu traria uma mínima resposta.
   —A estrela. - Falo, puxando bem do fundo da garganta, ainda assim minha voz saindo rouca.
   Algo parece ascender dentro de Obsidian. Num sobressalto pequeno, suas pálpebras se estendem.
—Isso! Ela desapareceu... Ninguém sabe como, ou por qual motivo... -Ela encara o chão, inclinando a cabeça para o lado. —Um dos garotos até passou grande parte da vida estudando astronomia. Isso com o que podia, fora o pouco conteúdo que minha tribo tinha... Mas ele não pode entender. Mesmo para aquela distancia, era um astro novo, não deveria simplesmente apagar. -Capie grunhiu quando ela mencionou o garoto.

   —Entendo... -Suspiro. O que levaria a uma enorme bola de fusão nuclear, sumir? Claro que, como toda a Terra do Nunca, ela teria algo especial... Mas o quê? -Concordemos que... Nada naquela ilha fazia o total sentido, ou seguia as normas e leis entediantes da física...

    Obsidian parece entender onde quero chegar. —Tínhamos a presença da magia... - Ela se levanta, colocando a mão por dentro da camisa e vasculhando a procura de algo. Depois de alguns instantes um caderno pequeno e fino volta entre seus dedos. A capa era de couro, o que justificaria ele estar imune à anterior roupa molhada. —Eu anotava alguns pontos importantes da pesquisa do Coelho... - A feiticeira se vira para o amigo, receosa, ele apenas assente, nervoso, dando-lhe a deixa para começar a falar. —Coelho era este garoto que estudava astronomia... Você não deve se lembrar muito dele, já que estava por pouco tempo na ilha antes de você... bom, partir.

   —Eu lembro quem ele era. - Interrompo. Não queria me sentir culpado por isso,  mesmo que a cada menção da minha antiga casa, a sensação de ter traído todos os meus garotos se tornasse ainda mais intensa. —O mais ingênuo que pisou naquela terra... -Sorrio, me lembrando dos poucos momentos que tive, apenas para apresentá-lo à ilha. — Imaginei que fosse do tipo explorador.

   Obsidian fica com uma feição confusa, talvez por pena por eu estar tentando provar alguma coisa. —O ponto é que não cogitamos... Que talvez a estrela... - Suspira, desacreditada do próprio ceticismo. —Não existisse. Não nos padrões simples da nossa astronomia. - Seus olhos agora não focavam em nada específico, ela começa a caminhar no espaço livre entre a gente.

    —Hum... - Alissa grunhi. Quando olho para ela, sua seriedade me assusta. —Vocês não entediam exatamente da filosofia do seu próprio pedaço de mundo... - Sua voz carregava receio, um cuidado quase impossível com as palavras para este assunto. —Vocês mesmos disseram que a árvore podia estar doente antes daquele dia, então... Talvez o problema tenha vindo muito antes disso.

   Obsidian despenca no chão, sentada. —Pensamos sim, nisto... Mas ligar uma árvore à uma estrela pareceu loucura até mesmo para a gente... - Pendeu para trás, se deitando. —Agora temos um ponto de partida...

   Certo. Alissa podia ter razão, mas quanto tempo demoraria para percorrermos este tão vago início até o momento onde dois estranhos de uma ilha mágica


TERRA DO NUNCA Where stories live. Discover now