Cap VI

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Você não pode se apaixonar por alguém que mal conhece, não seja ingênua... repetia essa frase em minha cabeça todas as vezes que me permitia pensar sobre Nathan. Deitei-me e dormi rapidamente, meu corpo estava exausto e única forma de não pensar em algo tão improvável era dormindo. No outro dia levantei tarde, era uma sexta com bastante neve "que ótimo" pensei, como vou sair com o clima desse jeito? Bem, parte de mim queria usar a neve com desculpas para não sair de casa, mas outra parte gritava em minha cabeça desesperadamente para que eu me levantasse e fosse vê-lo. O que eu achava bastante patético, mas ninguém poderia escutar meus pensamentos então deixei que eles tomassem conta de minha mente e quando me dei conta já estava no banho.

Não consegui encontrar nenhum uber e era impossível ir de moto até lá, comecei a perder as esperanças quando meu telefone soou e pude ver que era uma notificação, um motorista havia aceito a viagem. Coloquei o cachecol e vesti as luvas, desci as escadas e o esperei na varanda, em poucos minutos um carro preto estacionou, um homem desceu o vidro e chamou pelo meu nome, me aproximei e entrei sentando no banco traseiro.

-Aisha? Belo nome! – Ele sorriu.

-Eu não diria isso – Eu sorri. – É um nome bastante estranho.

-Você tem coragem de sair numa nevasca dessa.

-E você também! Afinal era o único uber que estava disponível...

-Bem, é... –Ele deu um sorriso de canto.

Eu o encarei, era um homem bastante misterioso e peculiarmente familiar, mas talvez fosse apenas coisa da minha cabeça, coloquei meus fones de ouvido e reclinei minha cabeça sobre o vidro, esperei que a viagem acabasse.

-Chegamos! Pude ouvir a voz do motorista. Olhei ao redor e reconheci a casa e o anexo, abri a bolsa e entreguei-lhe o dinheiro.

-Você já me pagou moça, não se preocupe...


-Quando? – O questionei.

-Não se preocupe... – ele destravou a porta e virou-se para frente, abri a porta um tanto confusa, eu não o havia pago em momento algum, mas se ele insistia... então que assim seja, caminhei rapidamente até o anexo e abrindo a porta me livrei do frio congelante lá de fora.

A porta do consultório estava aberta, como estava em cima da hora, entrei.

Nathan estava de costas virado para um quadro enquanto falava no celular.

-Oh, desculpe, sussurrei me afastando devagar.

-Aisha, bem na hora. Ele desligou o telefone e se aproximou. Eu resolvo isso outra hora -E puxando a cadeira para que eu me sentasse sorriu e guardou o celular.

-Bem, eu posso esperar, vi a porta aberta e pensei que estivesse me esperando.

-E estava -Ele disse encarando-me. Um silencio pairou sobre a sala e eu me concentrei em não demonstrar nada.

-Bem, como você está? O que achou da minha sugestão?

-Os cavalos? Bem, creio que você armou tudo, para qual proposito? Isso ainda é um mistério para mim.

-Longe de mim- Ele arqueou uma sobrancelha. O que aconteceu foi apenas ironia do destino.

-Ok Doutor, eu posso fingir que acredito em suas palavras...

-Diga-me - Como realmente se sente? - Seus olhos pareciam penetrar minha alma e me proibiam de mentir.

-Estou como estive ontem, semana passada e todos esses longos anos, estou sobrevivendo, um dia depois do outro, nada de surpreendente, se as condições forem favoráveis eu vou sobreviver.

-Você é realmente diferente. - Ele disse me analisando.

-De quem?

-Das pessoas que eu atendo - Ele disse um pouco nervoso.

-Bem, cada caso é um caso...

-Com certeza - Ele ainda mantinha seu olhar sobre mim como se eu fosse algum cubo indecifrável.

-Não estou acostumado.

-Não esta acostumado com o que?

-Em não conseguir decifrar as pessoas...

-Não sou como as outras pessoas, você mesmo o disse...

-Não, não é mesmo - Ele sussurrou.

A consulta seguiu como qualquer outra, não foi muito longa, ele queria que eu me forçasse a sair mais, experimentar coisas novas, não foi nada diferente do que os outros doutores haviam me recomendado.

-Bem... tente ao menos, mesmo que seja para não mentir descaradamente na minha cara quando eu perguntar o que você fez durante esse tempo.

-Tudo bem... eu vou tentar.

-Gostaria de poder te ver outras vezes... -Ele manteve o olhar.

-Você vai ver Dr. afinal sou sua paciente - Me levantei e sorri caminhando até a porta e batendo-a atrás de mim.

A volta para casa foi tranquila.

Aquela semana foi uma semana de altos e baixos, mas tentei como sempre faço (ok, nem sempre) me manter no alto, fui ao cinema com Eric e aproveitei para contar-lhe sobre tudo o que aconteceu, ouvi varias piadas sobre o ocorrido e como eu tinha sorte de pelo menos um dos meus psiquiatras não serem um tédio, trabalhei toda a semana, mesmo que me forçando alguns dias.

Era sexta a noite e eu caminhava até em casa, vi que a feira da cidade estava cheia e os cheiros de comida e temperos, a musica e os risos me fizeram aproximar-me do lugar. Algumas pessoas tocavam e dançavam no meio do lugar, era realmente uma tradição muito antiga que se mantinha viva até os dias atuais, fui até uma barraca e comprei um chocolate quente, com aquele frio aquele chocolate era como um tesouro. Encostei na fonte que ficava próximo a roda de dança e encarei enquanto as pessoas se divertiam.

A noite pareceu voar e quando me dei conta já era bem tarde, a roda chegava ao seu fim e rapidamente as pessoas foram voltando para suas casas. Pus me a caminhar, não era muito longe, se eu mantivesse o ritmo em 15 minutos estaria em casa. A noite fria me fez desejar um outro chocolate, e o escuro uma companhia.

Escutei um barulho atrás de mim, não consegui enxergar nada, sentia meu coração acelerado, firmei o passo e continuei, o barulho se tornou mais alto e senti uma mão em meu braço. -Por que tanta pressa? -Uma voz estranha sussurrou em meus ouvidos me fazendo estremecer.

The doctorOnde histórias criam vida. Descubra agora