Você não pode se apaixonar por alguém que mal conhece, não seja ingênua... repetia essa frase em minha cabeça todas as vezes que me permitia pensar sobre Nathan. Deitei-me e dormi rapidamente, meu corpo estava exausto e única forma de não pensar em algo tão improvável era dormindo. No outro dia levantei tarde, era uma sexta com bastante neve "que ótimo" pensei, como vou sair com o clima desse jeito? Bem, parte de mim queria usar a neve com desculpas para não sair de casa, mas outra parte gritava em minha cabeça desesperadamente para que eu me levantasse e fosse vê-lo. O que eu achava bastante patético, mas ninguém poderia escutar meus pensamentos então deixei que eles tomassem conta de minha mente e quando me dei conta já estava no banho.
Não consegui encontrar nenhum uber e era impossível ir de moto até lá, comecei a perder as esperanças quando meu telefone soou e pude ver que era uma notificação, um motorista havia aceito a viagem. Coloquei o cachecol e vesti as luvas, desci as escadas e o esperei na varanda, em poucos minutos um carro preto estacionou, um homem desceu o vidro e chamou pelo meu nome, me aproximei e entrei sentando no banco traseiro.
-Aisha? Belo nome! – Ele sorriu.
-Eu não diria isso – Eu sorri. – É um nome bastante estranho.
-Você tem coragem de sair numa nevasca dessa.
-E você também! Afinal era o único uber que estava disponível...
-Bem, é... –Ele deu um sorriso de canto.
Eu o encarei, era um homem bastante misterioso e peculiarmente familiar, mas talvez fosse apenas coisa da minha cabeça, coloquei meus fones de ouvido e reclinei minha cabeça sobre o vidro, esperei que a viagem acabasse.
-Chegamos! Pude ouvir a voz do motorista. Olhei ao redor e reconheci a casa e o anexo, abri a bolsa e entreguei-lhe o dinheiro.
-Você já me pagou moça, não se preocupe...
-Quando? – O questionei.
-Não se preocupe... – ele destravou a porta e virou-se para frente, abri a porta um tanto confusa, eu não o havia pago em momento algum, mas se ele insistia... então que assim seja, caminhei rapidamente até o anexo e abrindo a porta me livrei do frio congelante lá de fora.
A porta do consultório estava aberta, como estava em cima da hora, entrei.
Nathan estava de costas virado para um quadro enquanto falava no celular.
-Oh, desculpe, sussurrei me afastando devagar.
-Aisha, bem na hora. Ele desligou o telefone e se aproximou. Eu resolvo isso outra hora -E puxando a cadeira para que eu me sentasse sorriu e guardou o celular.
-Bem, eu posso esperar, vi a porta aberta e pensei que estivesse me esperando.
-E estava -Ele disse encarando-me. Um silencio pairou sobre a sala e eu me concentrei em não demonstrar nada.
-Bem, como você está? O que achou da minha sugestão?
-Os cavalos? Bem, creio que você armou tudo, para qual proposito? Isso ainda é um mistério para mim.
-Longe de mim- Ele arqueou uma sobrancelha. O que aconteceu foi apenas ironia do destino.
-Ok Doutor, eu posso fingir que acredito em suas palavras...
-Diga-me - Como realmente se sente? - Seus olhos pareciam penetrar minha alma e me proibiam de mentir.
-Estou como estive ontem, semana passada e todos esses longos anos, estou sobrevivendo, um dia depois do outro, nada de surpreendente, se as condições forem favoráveis eu vou sobreviver.
-Você é realmente diferente. - Ele disse me analisando.
-De quem?
-Das pessoas que eu atendo - Ele disse um pouco nervoso.
-Bem, cada caso é um caso...
-Com certeza - Ele ainda mantinha seu olhar sobre mim como se eu fosse algum cubo indecifrável.
-Não estou acostumado.
-Não esta acostumado com o que?
-Em não conseguir decifrar as pessoas...
-Não sou como as outras pessoas, você mesmo o disse...
-Não, não é mesmo - Ele sussurrou.
A consulta seguiu como qualquer outra, não foi muito longa, ele queria que eu me forçasse a sair mais, experimentar coisas novas, não foi nada diferente do que os outros doutores haviam me recomendado.
-Bem... tente ao menos, mesmo que seja para não mentir descaradamente na minha cara quando eu perguntar o que você fez durante esse tempo.
-Tudo bem... eu vou tentar.
-Gostaria de poder te ver outras vezes... -Ele manteve o olhar.
-Você vai ver Dr. afinal sou sua paciente - Me levantei e sorri caminhando até a porta e batendo-a atrás de mim.
A volta para casa foi tranquila.
Aquela semana foi uma semana de altos e baixos, mas tentei como sempre faço (ok, nem sempre) me manter no alto, fui ao cinema com Eric e aproveitei para contar-lhe sobre tudo o que aconteceu, ouvi varias piadas sobre o ocorrido e como eu tinha sorte de pelo menos um dos meus psiquiatras não serem um tédio, trabalhei toda a semana, mesmo que me forçando alguns dias.
Era sexta a noite e eu caminhava até em casa, vi que a feira da cidade estava cheia e os cheiros de comida e temperos, a musica e os risos me fizeram aproximar-me do lugar. Algumas pessoas tocavam e dançavam no meio do lugar, era realmente uma tradição muito antiga que se mantinha viva até os dias atuais, fui até uma barraca e comprei um chocolate quente, com aquele frio aquele chocolate era como um tesouro. Encostei na fonte que ficava próximo a roda de dança e encarei enquanto as pessoas se divertiam.
A noite pareceu voar e quando me dei conta já era bem tarde, a roda chegava ao seu fim e rapidamente as pessoas foram voltando para suas casas. Pus me a caminhar, não era muito longe, se eu mantivesse o ritmo em 15 minutos estaria em casa. A noite fria me fez desejar um outro chocolate, e o escuro uma companhia.
Escutei um barulho atrás de mim, não consegui enxergar nada, sentia meu coração acelerado, firmei o passo e continuei, o barulho se tornou mais alto e senti uma mão em meu braço. -Por que tanta pressa? -Uma voz estranha sussurrou em meus ouvidos me fazendo estremecer.
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The doctor
RomanceNathan, esse era o nome que ele havia me dito, mas depois de tentas mentiras e tantas descobertas era difícil acreditar em mais alguma coisa. Um novo doutor, uma nova consulta, era para ter sido apenas mais uma tentativa de enfrentar sua doença, ma...