Capítulo 1 - O Show

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Olá, eu me chamo Camila.

Este livro é um comprometimento que fiz comigo mesma quando tinha vinte e nove anos, na primavera de 2023. Ele pode ser lido de várias formas, sob várias perspectivas, talvez seja complicado igual a pessoa que o escreveu.

Eu não pretendo me apresentar, porque detesto discursos decorados e sei que em algum momento alguém irá se identificar e me autodefinir. Sou uma pessoa pragmática, gosto de música e acredito que isso já basta para um primeiro contato. Não tenho paciência para defender minhas opiniões, não sei falar "não". Sou contraditória, por isso não irei me apresentar, deixarei isso para vocês, enquanto eu conto como tudo começou.

Então voltemos aonde tudo começou. Voltemos ao ponta pé que deu origem a esta história. Ao dia 23 de setembro de 2023, noite em que eu cogitei ter me encontrado pela primeira vez em vinte e nove anos de vida, foi logo após ter imprevisivelmente me esbarrado nos olhos verdes daquela mulher insistentemente chata, que dividia de um senso crítico, de uma liberdade tão grande, que eu fui obrigada a parar tudo o que eu estava fazendo apenas para tentar decifrá-la.

Seu nome era Lauren, mas soava e sempre soará como outra coisa aos meus ouvidos. Eu nunca soube distinguir muito bem se ela era corajosa porque sabia que era bonita, ou se era bonita por ser uma mulher corajosa. Lauren, esse simples nome de seis letras me causou tanto, tanto na primeira vez que eu o ouvi, que eu precisei escrever um livro sobre você e por isso essa história é um comprometimento que fiz comigo mesma quando tinha vinte e nove anos, na primavera de 2023, porque foi onde eu te conheci e a minha vida mudou... por causa de um cubo mágico.

23 de setembro de 2023

São Paulo - SP

Era sábado, nove horas da noite, tinha show do Jorge e Mateus, uma dupla sertaneja famosa brasileira, e eu já estava de saco cheio, querendo voltar para o meu apartamento após um longo dia de trabalho no meu escritório. Mas veja bem, eu adorava a dupla, sempre tive um fraco por cantores sertanejos dado o meu histórico de filha de mãe mineira e pai goiano, mas hoje não era um bom dia e eu faria questão de contá-lo para cada pessoa que viesse me aborrecer na mesa, implorando para eu me levantar, beber um pouco ou talvez... sorrir.

— Mas está um clima tão bacana, Karla, não entendo o porquê desse bico enorme. Já já o Jorge e Mateus sobem no palco e se você recepcionar eles assim, tenho certeza que eles nunca mais voltarão a fazer um show aqui.

Estávamos na Penha, zona leste de São Paulo, Arena Sertaneja.

— Gustavo, não vou dançar com você. Apenas me deixe quietinha aqui. — não pareceu suficiente, pois ele sequer piscou os olhos e aquilo me assustou. — Relaxe, não vou embora antes de ninguém. Vou assistir o show daqui. Nossa vista é privilegiada, camarote, vou ter uma ótima experiência, acredite em mim.

— Uma cerveja pelo menos? Para animar um pouco, poxa! — me pediu com os olhos fixados no meu rosto. Eu adorava a tentativa mais do que falha de meus melhores amigos tentarem reverter essa situação complicada. Digo, hoje eu e Gabriel, meu ex-noivo, completaríamos sete anos e nove meses de relacionamento. E não que isso signifique muita coisa, mas era um evento de casal. Na época, em março, compramos para assistirmos juntos, fazendo aquilo que sabíamos de melhor: dançar e cantar as canções antigas do Jorge e Mateus. — Você viajou de novo, não viajou, Camila?

Hoje tudo que eu mais queria era conhecer alguém que me fizesse esquecer do Gabriel.

— Desculpe, Gu. Eu... — continuava me olhando, preocupado. — Eu acho que sim. — e esse maldito garotinho de vinte e dois anos, loiro, de olhos castanhos claros tinha os mesmos traços do irmão dele. Infelizmente.

Cubo MágicoWhere stories live. Discover now