Às 22h

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A janela entreaberta traz a brisa do início da primavera até as folhas em cima da mesa, arrastando algumas por cima das outras e bagunçando a ordem em que as coloquei há pouco tempo. Os lápis especiais para desenho também são jogados de um lado para o outro, parando apenas quando encontram as réguas e esquadros aos pés da luminária. Os post-its fixados em volta da tela do computador e nas bordas da mesa digitalizadora ameaçam voar quando uma segunda rajada de vento passa por entre os vidros, atingindo minhas costas em cheio e bagunçando os papéis coloridos com força, meus dedos são mais rápidos, entretanto, correndo até eles e os segurando no lugar com quase nenhuma cautela.

Suspiro desgostosa, meus olhos caindo por toda a pequena bagunça causada e para as folhas em branco de um projeto que eu não faço a mínima ideia como começar. Pedindo por paciência e por uma dose extra de concentração e criatividade, recebo subitamente a terceira lufada de ar nos cabelos, desorganizando ainda mais os papéis em minha frente. Respirando fundo, olho brava por cima de um dos ombros, encontrando Jihu apoiada no parapeito da janela, enquanto os joelhos sobre o sofá a ajudam ter uma visão melhor do apartamento há poucos metros daqui.

Jihu! — Chamo-a, mas ela não faz questão alguma de me responder. — Você poderia, por favor, fechar as janelas?

Oi? — Ela finalmente parece me ouvir, mas ainda mantém sua atenção do outro lado do jardim. — Não posso agora.

— Não sei se você lembra, mas eu estou tentando desenvolver um projeto aqui. — Falo entredentes. — Preciso me concentrar.

— Tudo bem, Subin, — Jihu abana uma das mãos no alto — fique à vontade.

— Eu preciso que você feche a janela! — Minha voz sai alta, desaforada. — Você não precisa dela aberta.

— Mas elas refletem os binóculos! — Rebate, chateada, olhando-me pela primeira vez. O cabelo ondulado moldando o rosto fino e pálido. — E elas não estão limpas o suficiente.

Viro-me para frente de novo, olhando para a imensidão de folhas avulsas, lápis coloridos, réguas, post-its, calculadoras e a droga da cópia do contrato com todas as exigências do cliente da Theodor Bauff. Suspiro alto, desgostosa, fechando os olhos quando sinto outro sopro bater em meus ombros e chacoalhar outra vez as coisas sobre a mesa. Assim que os abro, confiro as horas no relógio perto da cozinha e reafirmo o horário quando miro o do computador.

— Ele ainda não chegou. — Digo alto, virando-me apenas para encontrar Jihu me olhando confusa. — É cedo, ele só chega às dez.

Mas...

— Você pode fechar as janelas agora?

Aish, — ela resmunga, fazendo o que pedi, largando os binóculos no sofá em seguida. Seu corpo escorrega pelo estofado, desanimado, conforme seus olhos me medem com frustração. — Eu não posso ficar até esse horário. O que ele fica fazendo fora até uma hora dessas?

Ergo os ombros, aproveitando a ausência completa de vento para voltar a tentar me concentrar em meu trabalho. Reúno todas as folhas em um único grupo e começo a reorganizá-las, volta e meia pegando alguns lápis perdidos sobre a mesa e os juntando no estojo. Mas antes que eu consiga me afundar por completo nisso, a crescente presença de Jihu ao meu lado me faz parar.

— O que é? — Falo, sem olhá-la, sabendo exatamente que ela está olhando por cima de meu ombro esquerdo. — Não vou conseguir terminar isso nunca se você não deixar.

Subin-ah... — Começa, ignorando por completo minha sentença. — Como você pode não saber onde ele trabalha? Vocês são vizinhos há quase dois anos.

Clair de Lune • TaehyungOnde histórias criam vida. Descubra agora