Escolhas

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Carol

A voz dele continha tanto sofrimento, que me senti partir em milhares de pedaços.
Eu já tinha escutado aquele tom angustiado antes e, soube de imediato que algo grave tinha acontecido.

- Marcelo, por favor, me leva para a casa do Caio.- falei assim que desligamos - Ele precisa de mim.
- Ele quer uma carona ? Ok.- respondeu solícito - Mas vamos nos atrasar ...
- Não. Ele não quer uma carona. - interrompi agitada - Eu vou ficar lá com ele...
- O que ?! Como assim ... ficar lá com ele ?! Você enlouqueceu, Carol ?! É a sua festa de formatura !!!- ele despejou sua indignação de uma vez.
- Marcelo, eu sei.- tentei manter a calma - Mas ele precisa de mim ...
- E basta ele ligar para você deixar de lado uma das noites mais importantes da sua vida ?! Só pode ser brincadeira ...
- Olha ele é meu amigo e não está bem !!! Eu vou sim ficar com ele !!! - não permiti que terminasse de falar - Se puder me levar eu agradeço, senão é só parar o carro e eu pego um táxi, ok?!
Ele me encarou por alguns instantes e mudou o rumo, sem dizer mais nada. Porém, a expressão dele era no mínimo, de raiva.

Eu não entendia a reação dele.
O Caio era nosso amigo e se não estava bem, era de se esperar que fossemos apoia- lo.
Inconformada com a cara emburrada dele, decidi ignorar e avisar meus pais do meu novo destino.
Apesar de surpresos, frente à minha determinação, meus pais nem mesmo tentaram me convencer a ir ao baile.

Por fim, chegamos e me virei para perguntar se ele iria descer, contudo apenas destravou a porta e disse gelidamente :
- Está entregue.
- Má, você vai ...
- Anda, Carolina !!! Vai socorrer o seu amigo !!! - me cortou rude.
Bufei irritada e sem olhar para trás, saí do carro, batendo a porta com força.
- Obrigada pela carona. Eu vou sim, ajudar o nosso amigo !!!
Ele me olhou de uma maneira estranha e partiu à toda.

Caramba !!!
O que estava acontecendo com ele ?
Sem perder mais tempo, me virei e segui em direção à casa de Caio.
A mãe dele estava na varanda e veio correndo ao meu encontro, quando me viu.

- Carol !!! O que você está fazendo aqui?! Não devia estar no baile ?
- Ah, tia ... O Caio me ligou. Não parecia bem, então eu vim.- respondi ficando mais aflita ao perceber os sinais de choro no rosto dela.
- Ah, Carol ... que bom que veio. Ele precisa de você.- disse me conduzindo rumo ao interior da casa, que eu conheço tão bem.
A fala dela só corroborou a certo que eu tinha de que algo muito ruim tinha acontecido.
Se aquela azeda tivesse feito algo a ele, irá se ver comigo !!!

Entramos abraçadas e na porta do quarto dele, ela me deu um beijo no rosto e murmurou um obrigada, voltando para a sala.

Bati à porta e ouvi a voz rouca, permitindo minha entrada.
Ao abrir a porta me deparei com ele sentado na cama, ainda com o traje que iria para o baile.
Me aproximei e mesmo impactada diante de tanta beleza, não deixei de notar o ar abatido.
- Oi. Vim o mais rápido que pude ...
Ele me olhava de um jeito diferente e disse, ignorando meu cumprimento:
- Você está linda, Carolina.
Senti um calor me tomar, mas a preocupação com ele falou mais alto.
- O que aconteceu?! - perguntei objetiva.

Imediatamente os olhos dele foram tomados pelas lagrimas e ele virou o rosto, na tentativa falha de esconder.
- Caio ... me diz o que está acontecendo, por favor.- insisti me sentando ao lado dele e segurando suas mãos.
Ele respirou fundo e me abraçou.
- Carol ... Eu ... Ai, Carol dói tanto !!!- uma forte crise de choro o dominou e me fez chorar junto, mesmo sem saber a causa da mesma.

Alguns minutos depois, mais controlado, me afastou e me encarou, nitidamente sem graça.
- Desculpe. Eu ...
- Não precisa se desculpar, pelo amor de Deus !!! Somos amigos.- interrompi afoita - Não há nada que precise esconder de mim.
- Eu sei. - me abraçou novamente e eu desejei me perder nesse abraço - Obrigado.
- Agora me diz o que foi, que te fez ficar assim.
Eu já tinha uma desconfiança, mas queria a confirmação.

SalvationOù les histoires vivent. Découvrez maintenant