Prólogo

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"Assim como o fogo, queimando tudo no caminho
(...)
Como magia, eu voarei livre
Vou desaparecer quando vierem me pegar
Derrubo o teto, o que você vai dizer?
Ninguém pode ser como eu
Assim como o fogo."
Just like fire - Pink

"Just like fire - Pink

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NAYARA

Eu gostaria de viver outra vida.

Quem nunca pensou assim? Queria a liberdade de um, o dinheiro de outro e a felicidade daqueles que sorriem para o vento. Sonhos são nossa maior rota de fuga, não é o que dizem? E eu gostava de me manter com os pés bem longe do chão.

Garotas de circo são feitas de sonhos. Elas constroem a magia do encantamento para a vida cética da multidão. Elas colocam cor nos olhos das crianças e esperança de algo mais nos corações já cansados de sonhar. Só que, para mim, uma simples garota do circo, a magia e o encantamento, até mesmo a esperança, não existem. São ilusões. São apenas uma corda que as pessoas se seguram para não encarar a triste realidade preto e branco de todo mundo.

Ah, se eles soubessem...

Espiei entre a brecha da cortina vermelha, a excitação no rosto das crianças e a apreensão dos adultos.

Ah, se eles soubessem... que tudo isso não passa de uma farsa.

— Senhoras e senhores, chegou o momento mais esperado da noite! Uma salva de palmas, por favor, para ela: A incrível! A poderosa! Nossa garota dos tecidos! Temos a honra de apresentar nossa magnífica Fênix!

Os gritos exagerados quando as luzes se apagavam era minha deixa. Ao som do meu nome, caminhei até o centro do imenso picadeiro.

A multidão me olhava com atenção, e eu sempre amei os olhares curiosos de todos.

Queixo erguido. Para mostrar confiança.

Coluna reta. Para dizer que sou poderosa.

Sorriso no rosto. Para parecer mais bonita.

Tudo girava em torno da aparência. Da encenação.

O foco de luz pairou sobre mim ao mesmo tempo que a música preenchia o silêncio da plateia. Todos ávidos por mais um espetáculo meu.

Apertei minhas mãos sujas de breu de resina e toquei gentilmente o tecido acrobático, sentindo o atrito. Esse era novo, de um dourado intenso. As duas metades do liganete desciam desde o topo da lona colorida até tocar, suave, o chão.

Lentamente, agarrei as duas partes do lençol e me ergui com a força dos braços.

E quando meus pés não tocavam mais o chão, tudo ficava... mágico.

No ritmo da música, eu subi.

Ali, eu já não era mais a garota intrusa em um circo de família.

Deixa Queimar (Degustação)Where stories live. Discover now