Epílogo

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Quando Niall acordou no dia seguinte, a dor da perda ainda estava lá. Mas, de alguma forma ele não se sentia deprimido. Estava triste, mas não abatido. Era a compreensão de que o pior havia passado e seja lá para onde Louis tenha ido, havia no fundo uma certeza seu amigo estar muito melhor agora. Se perguntassem, ele não saberia como comprovar essa certeza, ele apenas sabia que tudo estava melhor. Bem, agora ele teria de lidar com a saudade e procurar saber que fim levou o seu melhor amigo Harry.

Ao se levantar, sentia um leve peso nos ombros. Seguiu sua rotina matinal, antes de ir ao trabalho, com menos animo que de costume. Na verdade, uma parte dele queria mesmo passar o resto do dia deitado na cama olhando para o teto. Do dia? Talvez uma semana inteira seria suficiente para descansar os ossos de tanto desgaste emocional. Era muito complicado lidar com tristeza e aceitação ao mesmo tempo e ele nunca havia perdido alguém a qual se apegou com tanta força ao ponto de sentir-se daquela forma. Não tinha um comparativo para compreender a amplitude daquele sentimento. Talvez Harry entenderia. Quando se olhou no espelho, Niall viu a expressão melancólica que tinha no rosto e deu um triste riso ao mentalmente se comparar ao amigo de cabelos cacheados.

Quando chegou ao cômodo sala/cozinha, uma mudança na organização do lugar chamou-lhe atenção. Uma carta. Ali no chão, perto da porta. Arrastando os chinelos, Niall caminhou até ela e a tirou do chão. Um envelope de papel reciclado com a ponta presa com um selo vermelho e um H gravado no meio. Ao se sentar no banco e apoiar os braços no balcão, Niall rompeu o selo, abriu o envelope, achando dentro dele uma carta bem dobrada. Ao abri-la, reconheceu a letra de imediato.

“Querido amigo,

Acredito que te devo algumas explicações e pedidos de desculpa além de milhares de agradecimentos. Começo me desculpando por escrever esta carta, ao invés de vir pessoalmente até você. A verdade é que como você sabe, não sou muito bom com palavras ditas, prefiro escrever. Lembra quando era eu quem fazia os trabalhos escritos e você os apresentava? Aí estão coisas que nunca mudam. Gostaria de te dar um ultimo abraço, mas desde que decidi perdoar e abrir mão de tudo em prol de Louis, as coisas ficaram corridas e o destino simplesmente não deixou ser da forma que eu queria. Sim, meu amigo, seu trabalho não foi em vão. Pode tomar para si todo o mérito de ter salvado a mim e ao meu pequeno, se não fosse por você, meu espírito teria para sempre essa mancha do passado. Para dizer a verdade, eu nunca fui muito bom em perdoar. Desde que conversamos, todas as noites fui visitado por sonhos que me lembravam os momentos em que tive de perdoar e raríssimas vezes eu o fiz. Falo de outras vidas e desta também, afinal sempre existirão, em qualquer época, pessoas para nos magoarem, às vezes nem por querer. Ter uma alma gêmea não me faz melhor do que ninguém; eu ainda sou um espírito, que como qualquer outro, busca a perfeição. Então eu apenas percebi que tudo o que aconteceu estava escrito. Tinha de ser assim. Eu era um cara egoísta. Só porque estava disposto a me sacrificar por qualquer um, só porque conseguia aceitar todo o tipo de dor e enfrentar qualquer batalha exigia que todos fossem assim. Qualquer um que agisse diferente, não merecia minha consideração.

Engraçado que só depois de conversar com você e pensar muito, comecei a me dar conta do tempo que perdi achando que eu era o único injustiçado. A verdade é que se colocar no lugar do outro não significa projetar as suas atitudes na pessoa e sim compreender a dor e fragilidade dela, mesmo que não seja a sua. Meu Louis sofreu a mais inimaginável dor em vida e outra ainda maior na morte; e tudo o que pensei foi na minha dor. No sacrifício que estive disposto a fazer e que foi em vão quando o vi agonizar até a morte em meus braços. E quem pode ter a pretensão de medir o que é dor para alguém? E quem pode ter a ousadia de julgar como se deve lidar com a ela? Ah meu amigo, eu estive tão errado. Por muitas vidas eu carreguei uma angustia dentro de mim, um ressentimento dantes desconhecido, mas agora eu entendo. Todo esse mal, essa melancolia e solidão eram frutos de um orgulho velado. Nunca saberei quantas chances me foram dadas para melhorar e não as agarrei. Porém, mesmo que nós sejamos imperfeitos, existe uma força acima de nós que nunca falha e ainda que não estejamos dispostos a dar uma segunda chance, recebemos milhares delas todos os dias. Alguns de nós ainda temos a sorte de ganhar novas vidas para tentar tudo de novo.

Onde almas perdidas se reencontram (GHOST!LOUIS)Where stories live. Discover now