Capítulo 29 - O baile

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A seda acetinada roçava no chão, enquanto Emanuelle seguia atrás do guarda. Os seus olhos de esmeralda devoravam cada canto por que passavam, brilhando como verdadeiras pedras preciosas por debaixo da máscara negra. E ela ainda nem tinha chegado ao salão de baile.

Killian viu os colegas, que ladeavam a porta dupla cerrada do salão, se endireitarem de súbito, e não seria certamente pela sua presença. Já era a décima moça que este acompanhava e com as nove anteriores os guardas apenas levantaram os olhos e pouco mais. Talvez com uma tenham sorrido, mas por mero reflexo. Não haveriam de deixar a jovem a sorrir sozinha. Killian não precisou de voltar a olhar na direção de Emanuelle, para perceber o motivo de tal raridade.

Os guardas já nem sabiam onde colocar as mãos, ao ver a silhueta bem delineada pelo vestido justo, exatamente nos lugares certos. Enquanto o da esquerda pendurava os olhos no peito decotado, o da direita seguia o movimento hipnotizante das ancas da moça. Elle passou a mão sobre o ventre para endireitar o tecido, que estava impecável. Um gesto sedutor, que convidava os homens a admirar um pouco mais a sua beleza.

Aquela reação era para Emanuelle uma confirmação óbvia da sua inteligência na altura de escolher o vestido. Quando as costureiras entraram em sua casa para lhe tirar as medidas, a garota usara de todo o seu poder de persuasão para ser ela a encomendar um vestido. Elle não queria um tecido aleatório que não combinasse com a sua personalidade, nem cortes que lhe escondessem os atributos que tanto agradavam ao gênero masculino. Queria ir vestida para "matar"! Não de forma literal, claro. Apesar do tom vermelho que escolhera, sangue algum teria de ser derramado para que o príncipe reparasse nela. Pelo menos, ela estava convicta disso.

Parando no centro das duas portas, Killian olhou para trás.

− Pronta? – perguntou ele, sem muita dúvida de qual seria a resposta. A garota transbordava de segurança evidente.

Emmanuelle trouxe os cabelos soltos a emoldurarem-lhe apenas o lado direito do rosto, expondo a clavícula saliente e desnuda.

− Eu nasci para este momento – respondeu, por fim. Mas a tensão no pescoço da moça não passou despercebida ao jovem guarda.

Killian soube, nesse momento, que Elle não era a mulher de ferro que transparecia ser. De qualquer forma, ele abriu as portas, pouco interessado nas fragilidades ou intenções ocultas da convidada. O seu trabalho era antever possíveis ameaças à segurança da família real, e ele duvidava que aquela garota estivesse sequer perto disso. É apenas uma deslumbrada que acha que tem alguma hipótese de vir a atrair as atenções do príncipe, pensou Killian, revirando os olhos quando Emanuelle espetou a bunda para fora, ao trespassar a entrada para o salão.

Por alguns segundos, a vizinha de Liberty deixou-se levar pela a emoção e o histerismo de estar num salão tão ricamente decorado. Tal como todas as outras jovens que entraram antes dela. As flores garridas, os quadros requintados, os focos de luz brilhantes, os alimentos diversos sobre as mesas, de que nunca sequer ouvira falar... O seu sorriso agigantou-se ainda mais, quase tocando nas bordas redondas da simples máscara negra, quando percebeu a coincidência do tom do seu vestido a combinar com as paredes de todo aquele espaço. Quase como se fosse o destino a dizer-lhe que aquele era o lugar dela.

Desfilando sedutoramente, por entre alguns aglomerados de jovens de identidades ocultas pelas máscaras, Elle fez questão de se posicionar quase colada à parede para que o príncipe também compreendesse aquela mensagem do destino, tão óbvia para ela.

Em posição, a garota começou a procurar pelo seu alvo a meio da multidão de vestidos dançantes, já que sentados no trono apenas se encontravam o rei e a rainha e nenhuma viva alma circulava a menos de 5 metros deles. Dois guardas entroncados cercavam uma porta inexistente, para garantir que aquele espaço não era invadido. Pareciam dois grossos e imponentes pilares, implantados no meio do nada.

A Bela RedomaWhere stories live. Discover now