O Mistério na Catedral

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      Demorou a levantar-se, a dor em sua perna direita era algo impossível de não ser sentida. Albert agora estava no salão principal da catedral da cidade, a poucos metros da porta da frente. A luz da lua brilhava pelas grandes janelas, e os vitrais retratando Jesus e Maria se tornavam vermelhos como sangue graças a lua escarlate que brilhava no céu da noite.

A liberdade estava próxima, o padre corria mancando em direção a saída, mas a criatura era mais rápida. Em seu interior queimavam as chamas das Trevas, que o fazia mover-se rapidamente, desejando a sua vingança.

Com a cruz na mão direita, Albert olhou nos olhos do demônio e proferiu as palavras:

-Apage est in tenebris.

A besta soltou um rugido alto e tenebroso, abrindo sua boca, seus inúmeros dentes foram revelados, mostrando ao devoto religioso o quão poderoso era o poder das profundezas.

Prostrando-se com as patas no chão, soltou um último urro e caiu.

Albert olhou para o teto da catedral, onde imagens retratando a ira de Deus e o dia do julgamento pareciam mais reais do que nunca. Agradecido, o padre rezou o terço e, virando-se para frente, foi em direção a saída.

As grandes portas de madeira ornamentadas com ouro e pedras preciosas estavam trancadas. Albert pôs a mão no bolso e pegou a argola repleta de chaves. Desesperado testou uma e a porta não se abriu, testou outra e nada, pegou uma terceira e a pôs na fechadura, mas algo inesperado aconteceu.

     Um sopro baixo pairou pelo ar frio da madrugada, e uma voz baixa e tênue, pôde ser ouvida. Começou como um sussurro, lento e opressivo, que aos poucos foi apavorando o velho padre. Olhou em volta e não viu nada, e onde outrora havia o corpo da criatura, apenas o sangue estava ao solo. O sussurro se transformou em risada, uma risada grossa e diabólica, que tomou todo o salão da igreja.Desesperado, o padre começou a rezar o pai nosso e, com as mãos trêmulas,procurou a chave da porta.

O som da gargalhada foi tornando-se mais alto e mais próximo, e Albert percebeu que seu tempo estava acabando. Enfim achou a chave, após diversas tentativas. Encaixou-a na fechadura, e um alto CLICK foi escutado. Respirou fundo e relaxou os ombros, pois sabia que estava livre do inimigo, mas, ao girar a maçaneta, algo gélido e ossudo segurou seu pé, e puxando-o para trás, fez sua cabeça chocar-se com o chão. Em seguida perdeu a consciência.

     Escuridão, isso foi o que Albert viu ao acordar novamente. Tentou mexer-se, mas estava preso, deitado em algo rochoso e com suas mãos amarradas e seus pés atados. Sua perna latejava de dor, onde a fera o havia arranhado. De repente, onde havia escuridão, as trevas se foram e uma fraca luz foi acesa. Olhou ao redor e percebe que estava no porão da igreja, um lugar apertado, com teias de aranhas e um forte cheiro de mofo estava impregnado no ar.

Então o viu. De costas para Albert, um ser, coberto por roupas escuras estava lendo um livro. O padre começou a chorar de medo e desespero, pois sabia que em sua frente encontrava-se o mal encarnado.

A sombra gigante virou-se para o religioso, com seus olhos negros como a noite e sua pele vermelha como o fogo. Em sua cabeça haviam dois chifres grandes e sujos, e entre eles, uma coroa brilhante e luxuosa.

Abriu a boca e sorriu, seus dentes pontiagudos fizeram Albert estremecer. A criatura caminhou em sua direção e mostrou-lhe o livro. Se tratava de um álbum de fotografias, nele contidos os piores pecados do padre. Fotos de crianças nuas e drogadas, sendo molestadas no próprio porão onde se encontravam no momento. O padre reconheceu-se nas fotos, e percebeu que aquele era o momento de pedir perdão para Deus.

Fechou os olhos e começou a rezar, a pedir que o Senhor o libertasse das amarras do demônio. E, logo em seguida, as cordas se afrouxaram e Albert viu-se livre. O ser das trevas olhou em seus olhos, soltou uma risada maléfica, e logo em seguida se dissipou no ar.

Correndo contra o tempo, o padre soltou-se e saiu de cima da mesa, a mesma mesa que abusava das inocentes crianças. Correu até a porta e a abriu, subindo as escadas correndo, estava agora no corredor principal, as paredes estavam manchadas de sangue e blasfêmias estavam escritas. Agora estava numa sala de ensino, um quadro negro estava na sala, e nele vários nomes estavam escritos, inclusive o seu. Sem perder tempo, Albert passou pela sala e chegou ao salão principal, onde em frente à porta, estavam caídas as chaves no chão.

O pobre padre correu desesperado, mas a dor em sua perna ferida o impedia de ser mais veloz, ao pegar as chaves, ouviu algo atrás, virando-se, lá estava o demônio. A criatura envolta em trevas o olhou e sorriu, e, de suas costas, grandes asas negras se abriram, lá estava o anjo caído.

Com lágrimas nos olhos, o religioso abriu a porta e se deparou com algo não esperado. Ao invés de ver as ruas da cidade, ele viu a eternidade a frente, um lago de fogo e enxofre queimava milhões de almas, e ao fundo viu um enorme trono feito de ossos secos. Naquele momento Albert se tocou, ele não havia desmaiado, havia morrido e acordou no sofrimento eterno, o inferno.

Fim









O Mistério na CatedralWhere stories live. Discover now