O Dançarino das Espadas

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A MUITO TEMPO ATRAS, Havia um deserto... Onde? Oras eu sei lá, tinha um deserto, e no meio do deserto tinha um oásis, e em volta do oasis tinha uma cidade com um monte de tendas e pessoas, e essas coisas que tem em todo deserto. Um deserto, com bastante areia, e tudo o que tem direito, cobras, lagartos, bandidos e gente com pouca roupa.

Essa cidade era tipo um grande mercado, se vendia de tudo lá. Tecidos, para as pessoas com poucas roupas, especiarias, comidas e bebidas e a galera vinha de tudo quanto era lugar, porque o comércio ali fervia. Dinheiro ou serviços, escambo ou qualquer outra coisa que você possa pensar, tudo ali virava moeda.

Como toda boa "cidade-mercado de deserto", tinha um monte de artista. Dançarinas, músicos, malabaristas, circo de pulgas e casamento de anão. E é aí que o nosso cara se encontra:  chegando na cidade-mercado-deserto (que não está desértica), com uma trouxa nos ombros e um sorriso no rosto. Apesar de ser uma cidade mercado no meio do deserto, ela era cercada, e tinha portões, no qual o jovem passou e comprimentou os guardas da guarita. Sabe, não é muito legal você chegar do nada e não fazer amizade com os guardinha da guarita. Eles não ficam bem com isso...

Bom, o lance todo é que ele nunca tinha estado ali antes, e sabia que o melhor era causar uma boa impressão. Então ele deu uma volta básica pelo lugar, olhou um pouquinho aqui, um pouquinho ali, escolheu um lugar que parecia estar vazio, e ali foi montar o seu picadeiro.

Da trouxa que carregava, ele tirou 4 estacas que marcou o lugar. Eram 4 bandeirolas que falavam: "Olha, é melhor você não passar daqui...". Depois colocou com cuidado no chão um pacote de couro, e daquele embrulho tirou 2 espadas. O jovem podia ser pobre, mas aquelas espadas eram muito ricas. Brilhavam a luz do sol como se tivessem acabado de sair da forja. Seus cabos eram trabalhados em madeira e marfim e não condiziam com as calças sujas e costuradas daquele homem. As lâminas de aço reluzente, poderiam facilmente contar tantas histórias quanto as cicatrizes nos braços daquele cara, mas ainda assim pareciam itens que não combinavam em nada com ele.

O povo, acostumado com esse tipo de coisa, foi se amontoando ali para ver o que era aquele show. Ninguém deu bola quando apenas mais um cara passava nas alamedas do mercado, mas aquelas espadas, elas certamente chamaram a atenção.

Então quando tinha gente o bastante para ele se mostrar, ele ajoelhou no chão, segurou as pontas do embrulho de couro, e sacudiu, jogando as espadas de qualquer jeito para o alto. Parace coisa que contam em histórias, mas elas giraram e refletiram a luz do sol daquela tarde, e eu não sei dizer que mágica ele usou, mas seus punhos pousaram calmamente nas mãos habilidosas daquele cara. Ele cruzou elas no peito, fez uma reverência para o público e começou a sua dança. Porque era um Dançarino oras, e não qualquer dançarino, mas "O dançarino das espadas".

Seus passos, eram muito elegantes. Seus movimentos eram suaves. Ele cortava o ar com graça e com beleza, mas quem já viu alguma arma na vida, sabia que chegar perto dele poderia ser fatal. As crianças estavam boquiabertas, os guerreiros e soldados com aquela expressão de aprovação no rosto, como quem diz: "Esse mano manja", e obviamente as mulheres cochichavam e davam risinhos enquanto olhavam para os braços fortes que se moviam com velocidade. Era realmente impressionante o que aquele cara fazia.

Então uma música começou a preencher o ar. Ele não sabia de onde vinha, mas podia escutar algo se aproximando ao longe. Encerrou os movimentos como quem termina o primeiro ato da apresentação. Olhou por cima das cabeças e não viu nada. E quando menos percebeu, tinha uma garota atrás dele, tocando uma citara.

Se você nunca viu uma cítara na vida, saiba: aquela era mais estranha ainda. Geralmente elas são grandes e com muitas cordas e difícil de manejar, mas aquela garota fazia as leis da gravidade não se aplicarem aquele instrumento.

Ela tocou um acorde, e não falou nada. Tocou uma segunda nota e deu um sorriso desafiador. Da terceira vez que ela tocou, ele pescou a referência, e começou a se mover. Sabia que aquilo era um desafio. Ela era a única pessoa que invadiu o seu espaço sagrado, e não tinha sido retalhada pelas lâminas do rapaz.

A moça morena de cabelos ondulados tocava, e o dançarino atacava. Ela dava ritmo aos paços dele, e ele tentava com sua dança acertar o corpo dela que se movia tão rápido quanto as notas musicais, e apesar de agressivo, aquilo era belo demais. A música era por vezes um lamento, outras uma ação, a música ditava as emoções da platéia e o dançarino materializava aquele ritmo, performando uma história sem protagonistas ou coadjuvantes. Era uma luta entre dois mestres com certeza. E eles faziam aquilo parecer tão fácil, tão simples, mas quem assistia sabia, que havia uma conexão ali.

O Sol ja estava no horizonte, quando a melodia calmamente ficou lenta, pareciam dois amantes olhando um nos olhos do outro, as espadas girando no ar, e a cítara tocando uma melodia triste e melancólica. As laminas do homem pareciam abraçar carinhosamente cada cifra. E os acordes daquele instrumento pareciam acariciar de forma terna aquelas armas letais. E em um movimento sincronizado, terminaram ambos juntos.

Com suor escorrendo das têmporas, eles pararam um de costas para o outro, corpo a corpo. Fizeram uma reverência para a platéia e sorriram. Ficaram ali parados por alguns segundos, esperando a multidão aplaudir e lhes arremessar algumas moedas. E quando o rapaz olhou para a sua desafiante, ela já estava sumindo na multidão que se dispersava.

"Só pode ser uma fada..." Ele pensou. Ninguém faz isso e sai andando no meio da multidão como se nada tivesse acontecido. Ele riu da própria sorte, recolheu as espadas de volta no embrulho de couro, desfez o seu picadeiro, e depois de tudo aquilo, foi encher a cara numa das tendas de comida. Pensando se algum dia encontraria ela novamente.

SwordDancerWhere stories live. Discover now