31. the game

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narradora on

sexta-feira, setembro.

Mais um dia chuvoso para a lista. Era um dia feio, e aquilo deixava Millie triste. Sempre que chovia, parecia que seu coração despedaçava e ela ficava toda nostálgica com sua cidade natal e relembrava toda sua infância. E o afastamento de Finn com ela piorava ainda mais a frieza de Millie. Ao invés dos sentimentos sumirem, eles ficavam cada vez mais forte e faziam Millie chorar toda noite pensando no garoto.

O mesmo com Finn. Ver Millie todos os dias era horrível. Não do modo “ruim”, mas sempre que a garota o lançava um olhar triste e aparentava estar distante dos amigos, ele tinha vontade de reconfortá-la. Nos dias chuvosos, ele já ia preparado sabendo que Millie estaria triste, e sabia que aquilo iria quebrar o coração. Foi o que fez naquele dia.

Com o canto dos olhos, Finn conseguia ver Millie sentada no canto da sala ouvindo música em um fone, e sozinha. Reparou até que Sadie e Noah, apesar de não estarem junto a ela, cuidavam da menina mesmo de longe.

Era legal encarar Millie. A garota nunca percebia e então, Finn podia gravar todos os detalhes de Mills para que nunca de esquecesse deles. Da forma que ela sorri, de como o nariz dela é empinadinho e de como ela franze as sobrancelhas sempre que está nervosa.

A professora de filosofia adentrou a sala, ignorando a baderna e o barulho da classe, que logo se calou quando ela colocou os livros com força sobre a mesa. Ela sorriu para a turma que estava assustada com o estondro e até Millie tirou o fone para saber o que estava acontecendo. Os garotos pararam de andar pela sala e voltaram aos seus lugares, Iris finalmente (finalmente!) desviou sua atenção de Finn para a professora. Sem que a namorada visse, ele suspirou aliviado.

— Hoje vamos fazer um jogo. Não quero barulhos. Não me interrompam. Caso façam, irei dar uma prova escrita valendo a nota do semestre inteiro. — A turma toda se calou tão mortalmente que não se ouvia nem o barulho da respiração dos alunos presentes. A professora, chamada Sra. Carter, sorriu satisfeita e voltou a falar: — Como estudamos em sala, a parte mais importante de um ser humano é o caráter. Sabemos que uma pessoa tem um coração bom, quando mesmo que ela fosse rica, ou pobre, continuaria tendo o mesmo caráter de sempre.

Os alunos estavam olhando atentamente a professora e até os funcionários que passavam se assustavam, já que a sala era conhecida pelo barulho infernal.

— Ajudar o próximo é o que faz nossa alma. Fazer o bem, sem olhar a quem. Uma pessoa que ajuda outra, pensando em algo em troca, não tem um caráter bom. Ela é ambiciosa e isso é um dos sete pecados.

Por um momento, Finn pensou ter visto a professora dirigir seu olhar até Iris, no exato momento em que falou de ambição.

— O jogo é o seguinte: vou perguntar a qualquer um da sala sobre uma pessoa que conheçam que tem o coração mais puro e quero que me respondam o porquê. — Ouviram-se resmungos e burburinhos, provavelmente irritados com o jogo. Esperavam algo a mais daquilo. — Não reclamem do jogo. Vocês vão ver: é muito difícil achar uma pessoa com um coração puro e verdadeiro.

Os alunos se entreolharam e pareciam estar pensando em alguém para dizer, mas foi em vão. Todos pareciam estar nervosos. Quem diriam? Que explicação dariam?

MILLIE POV

Resmunguei com aquele jogo e pensei em colocar o fone de novo, mas seria total desrespeito a professora. Então preferi ficar na minha. Talvez a professora nem notasse minha presença.

Baixei a cabeça e comecei a rabiscar qualquer coisa no caderno, desde letras das minhas músicas favoritas até desenhos sem total sentido.

O jogo havia começado. Dava pra saber. A garota que estava falando quase chorava falando o quanto amava sua melhor amiga e a sala, amargurada do jeito que era, reclamava da demora. Era vez da melhor amiga falar. Tinha de dizer alguém que não havia sido ainda. Sem repetições.

Haviam se passado alguns minutos que pareceram horas pra mim, até ouvir uma voz masculina que eu conhecia muito bem. Era aquela voz que me levava a meus delírios todos os dias. Fechei os olhos e tentei aproveitar todo o momento que o garoto falava. Como eu senti falta daquela voz, meu deus!

— E então, Finn! Quem é a pessoa com coração mais puro que você conhece? — Falou a professora, cruzando os braços e lançando ao moreno um sorriso.

— Err... — Ele levou os olhos para a turma e todos o olhavam como se fosse o óbvio. Claro que ele deveria responder a namorada. Seus amigos riam da desgraça dele e Apatow o encarava sorrindo, satisfeita consigo mesma. Ele baixou o olhar e sem levantar nenhuma vez, ele disse baixinho. — Millie. Ela é a pessoa com coração mais puro que eu conheço.

Ouvir meu nome saindo da boca dele foi música para meus ouvidos. A vontade que eu tinha era de agarrá-lo ali mesmo, e dizer a ele o quanto o amava.

Alguns alunos me olhavam com certo interesse e algumas alunas, olhavam com desprezo.

— Porque ela consegue ser a pessoa mais sincera e verdadeira do mundo. Ela viajaria ao mundo para salvar alguém e eu sei disso. — Ele continuou a falar, assustando a sala toda e então disse baixinho: — Eu conheço ela.

Sorri para mim mesma e tentei encará-lo, mas ele não olhava pra mim. Iris bufou triste e foi confortada por Sophia.

Por um segundo, por um mísero segundo, jurei escutar uma voz dizendo “Eu sinto sua falta”. E quando virei, Finn me olhava.

Então tive certeza. Ele sentia mesmo minha falta

Ou era só a mente me pregando mais uma peça?

meant to be | fillie [✔]Where stories live. Discover now