d e z e s s e t e

943 67 399
                                    

Pov Daniel

"... Então me ajude a segurar
Essa barra que é gostar de você
Então me ajude a segurar
Essa barra que é gostar de você, êh..."

Em cima do palco de um karaokê qualquer, cantava o refrão de "cheia de manias" com alguns caras bêbados que não faço ideia de quem são.

"...Didididiê
Didididiê ê ê
Didididiê..."

Quando a música terminou, desci do palco e andei até Elídio e Anderson, que estavam numa mesa próxima.

Faz mais ou menos 1 mês e meio que eu e Elídio estamos tendo uma amizade colorida e admito que está sendo muito bom.

Quando cheguei na mesa, notei Elídio parecendo estar meio que em choque e Anderson rindo. Fiquei confuso por um momento.

─ O que aconteceu com vocês? – perguntei, tomando um gole de cerveja.

─ Nada, eu só não imaginava que você curtia Raça Negra e que algum dia, eu iria ver você cantar essa música num karaokê estando vestido como se estivesse indo num festival de rock. – Elídio respondeu, me encarando.

─ Nossa! Agora eu tô ofendido! – exclamei, colocando uma mão no meu peito, fingindo estar indignado. Ambos riram. – Mas falando sério, não tem como não cantar essa música num karaokê. – falei, dando de ombros. – É tipo Evidências, um clássico.

─ É aquele ditado né: ninguém resiste quando toca Raça Negra. – Anderson comentou, nos fazendo rir. Realmente, ele está certo.

( ... )

Conversamos um pouco, comendo alguns petiscos. Essa deve ser a terceira ou quarta vez que saímos juntos. Anderson é bem legal, exceto quando faz insinuações de que eu e Elídio deveríamos namorar. Sei que daqui a pouco ele vai soltar outra dessas.

─ Mas então... – Anderson começou. – Quando vocês vão parar de enrolar e assumir o namoro? – perguntou. Eu e Elídio nos entreolhamos.

─ Andy, nós somos só amigos. – respondeu e eu concordei.

─ Por que não admitem que ambos querem algo a mais além da amizade colorida? Pelo amor de Deus! – exclamou.

─ ANDERSON! – Elídio gritou, como se o repreendesse por ter dito algo que não deveria. – Nós somos amigos e estamos muito bem com isso.

Após isso, senti a tensão se instalar no ar. Fiquei nervoso por um momento. Eu gosto das nossas noites juntos e das nossas conversas... Mas namorar? Ainda não tinha pensado nisso. Mas de qualquer forma, um namoro não iria dar certo... A amizade colorida está ótima.

Porém admito que talvez nós poderíamos tentar ter um lance mais sério mais pra frente... Quer dizer, isso se ele quiser...

─ Dani, Daniel... – escutei alguém me chamar. Acordei de meus devaneios, percebendo que Elídio me encarava.

─ Oi, que foi? – perguntei, me recompondo.

─ Ah, nada... É que você tava viajando... Tá tudo bem? – perguntou. Os dois me olhavam.

─ Ah... tá, tá sim. – respondi, bebendo minha cerveja e logo depois, mudei de assunto.

( ... )

Madrugada. Continuávamos no karaokê. Eu estava sóbrio, Anderson levemente alterado, agora o Elídio... Nunca vi um ser humano que gosta tanto de beber quanto esse cara.

Certo momento, ele saiu da mesa, andando com dificuldade até o palco. Ele falou alguma coisa com o funcionário que cuida das músicas e em seguida, pegou o microfone. Se posicionou no meio do palco e começou a cantar com a voz meio enrolada, mas ainda sim, conseguia entender o que estava cantando.

"... Eu sei
Que não era pra gente se envolver
Que não era pra gente se encontrar
Mas esse amor bandido não posso evitar
É coisa de pele, um lance criminoso
Um frio na barriga, arrepio no corpo... "

Cantava olhando diretamente na minha direção e vez ou outra, desviava o olhar para as poucas pessoas que sobraram no ambiente.

─ Ele realmente gosta de você. – Anderson disse, chamando minha atenção. – E você também gosta dele.

─ Talvez você tenha razão... – falei. Anderson sorriu.

─ Eu sempre tenho razão. – disse, me fazendo soltar uma risada nervosa. – Por que ficam nessa enrolação, então?

─ Sinceramente? Eu não sei... – suspirei. – Talvez eu tenha medo de dar um passo a mais e estragar essa nossa "relação". – fiz aspas.

─ Pois eu acho que deveriam tentar algo. – falou, terminando sua cerveja e ficando em pé. – Bem, enquanto você fica aí apreciando a belíssima voz do seu quase namorado, eu vou ali conversar com aquele gato que não tira os olhos de mim. – apontou com a cabeça discretamente para o lugar. Eu olhei, encontrando um homem alto, barbado e muito bonito que continuava olhando e sorrindo para Anderson.

─ Ele é bem bonito mesmo. Divirta-se. – lhe dei um sorriso de lado, ao que Andy retribuiu sorrindo malicioso.

─ Pode deixar, vou me divertir muito. – disse por fim, dando uma piscadinha e se afastou, indo em direção ao rapaz. Nesse momento, voltei a olhar para Elídio, que ainda cantava e agora rebolava, enquanto me olhava.

"...Aquele beijo, deixa em off
Aquele toque, deixa em off
Aquela sensação, aquela atração
Eu e você é tudo off... "

Elídio sorria pra mim e eu apenas retribuía.

"É... Eu gosto dele e quero algo a mais além da nossa amizade colorida..." pensei, aproveitando meu "show" quase particular.

Vizinho IrritanteWhere stories live. Discover now