Capítulo Único

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      A fila se estendia por toda rua.

      Ainda bem que Marc era o segundo. Em sua frente só havia uma mulher. Na verdade era uma garota. Devia fazer pouco tempo que estava apta a se casar. Aparentava ser uma bela jovem, porém parecia que ela tentava esconder a aparência ou camuflar quem ela era de verdade.

      Contudo Marc só pensava em, porque uma garota tão jovem e bela queria trabalhar em uma taverna? E o que ela fez para acordar tão cedo e chegar antes de Marc?

      O motivo dela ter chegado primeiro que ele para a entrevista de emprego, há muito anunciada pelos diversos cartazes pregados pela cidade, não mudaria o fato de que uma jovem tão nova pudesse ser uma escolha melhor que ele para o cargo.

      As portas da taverna se abriram e, lá de dentro, o taberneiro com longos bigodes e uma cara nada animadora surgiu. Olhou por sobre a fila e viu a quantidade de pessoas.

      Franziu o cenho.

      — Vou passar o dia nessa droga — resmungou espirrando saliva sobre a moça.

      De imediato começou um burburinho a correr pela fila. Aqueles que tinham presenciado a cena mais de perto começaram a propagar a notícia para os outros concorrentes que também estavam na fila.

      — Parece que ele é bem arrogante — comentou um velho, que estava pouco atrás de Marc.

      — É verdade — concordou um homem de cabelo desgrenhado que aparentava estar bastante cansado da noite anterior.

      Marc decidiu nada comentar, afinal estava bem próximo ao taberneiro e não queria se prejudicar, pois precisava do emprego mais que todos ali, já sua esposa logo daria a luz ao seu primeiro filho. Além do mais havia alguns meses que não conseguia pagar os impostos a coroa. E isso era preocupante.

      Sentia-se muito confiante de que o emprego seria seu.

      ― Ande menina ― rugiu o taberneiro ― o que está esperando para entrar? ― antes que ela respondesse ― eu não tenho o dia todo.

      A menina com jeito acanhado, olhando para o chão, entrou na taverna.

      ― Os demais aguardem sua vez ― finalizou batendo a porta às suas costas.

      Pouco menos de cinco minutos depois, a jovem saiu correndo e chorando.

      ― E não me volte mais aqui nem pintada de ouro ― gritou o taberneiro lá de dentro ― Próximo!!!

      Marc adentrava o ambiente. ― Porque demorou tanto pra entrar? ― indagou o taberneiro enquanto Marc fechava a porta.

      ― Eu... Eu estava... Estava esperando o senhor chamar ― respondeu Marc.

      ― Você é gago garoto? ― questionou o rude taverneiro.

      ― Não senhor ― respondeu Marc se esforçando para não tropeçar nas palavras novamente ― apenas fiquei assustado com a maneira como a jovem saiu desesperada daqui.

      ― Ah então você é daqueles que se compadece com os outros? ― interrogou.

      ― Às vezes sim ― concordou Marc ― é importante ter um pouco de compaixão vez ou outra.

      ― Deixemos disso de lado e vamos direto ao ponto ― falou o taverneiro. Ele estava sentado numa cadeira de madeira bem trabalhada que ficava posicionada logo atrás de uma grande mesa retangular.

      Esses móveis ficavam numa sala lateral que era uma espécie de escritório, armazém, depósito, estoque e arsenal da taverna. Tudo poderia ser encontrado ali. Desde seu estoque de rações e grãos que não se consumiam com o tempo, até algumas espadas velhas enferrujadas e lanças que provavelmente eram usadas para caçar os javalis, que era o prato principal de todas as sextas-feiras. Marc sabia desses detalhes, pois desde que havia visto o primeiro cartaz divulgando essa oportunidade, começou a observar e frequentar a taverna. Queria saber tudo sobre ela para não passar vergonha quando fosse entrevistado.

Conto - Emprego na TavernaWhere stories live. Discover now