A trilha de Bukhansan

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Seokjin descobriu o corpo e se espreguiçou ao meu lado. A noite havia sido longa, e a sala de emergência ainda estava lotada. Os plantonistas estavam tensos e agitados tentando acalmar a todos. Mas o meu horário já estava terminando. O de Seokjin também. Então, estávamos na sala de descanso antes de irmos embora, enquanto isso a troca de plantonistas acontecia na sala ao lado, o que gerava um barulho irritante.

Ocorrera no início da noite um grande acidente em uma ponte no meio de Seul, e praticamente todos os passageiros do trem-bala haviam saído feridos. Eu já estava na metade do meu plantão de 24h quando os pacientes começaram a chegar, e 12h depois alguns ainda estavam em cirurgia. No caso de Seokjin, ele já estava no final do plantão, quando foi chamado para a sala de cirurgia. Uma garota de 10 anos, com múltiplos ferimentos, algumas fraturas, e uma fratura exposta do fêmur. Uma cirurgia conjunta comigo de duração de 7h. Quando saímos da Sala Cirúrgica, e depois de conversarmos com a família da pequena dando a notícia ruim, tudo o que pudemos fazer foi sentar na sala de descanso e descansarmos o máximo possível. Algumas vezes fomos chamados para ajudar, mas nada que demorasse mais do que 1h.
-Acho que podemos ir... –Seokjin comentou, em pé e recolocando o jaleco branco. Ele estava rouco, e visivelmente cansado.
-Ao que parece, sim. –Concordei enrolando para me levantar. Minhas pernas ainda estavam dormentes devido ao longo tempo em pé.
Seokjin era um dos cirurgiões pediátricos do Hospital da Universidade Nacional de Seul, e eu era cirurgiã geral. Começamos a estudar medicina no mesmo semestre, mas em faculdades diferentes. Fizemos nossas residências no mesmo hospital, iniciando na mesma turma. Saímos na mesma época, e começamos a trabalhar no mesmo hospital com um diferença de 2 semanas.
Alguns chamariam de destino. Eu diria apenas que Gwacheon era uma provincia muito pequena. Nascemos lá, mas moramos em lados opostos durante nossa vida inteira. No início da vida adulta começamos a existência do outro e resolvemos nos apresentar.
-Quer carona hoje? –Seokjin perguntou, e concordei com um aceno. –Okay, te espero o carro.
Nunca assumimos um relacionamento, mas quem nos conhecia, jurava que éramos um casal que escondia nossa vida pessoal.

Seokjin saiu da sala de descanso, enquanto eu passava café. Isso me manteria acordada até chegar em casa, e a ele também. Coloquei o líquido dentro de uma garrafa térmica e levei comigo até meu armário que ficava na sala ao lado. Lá guardei a garrafa na bolsa, e troquei minha roupa, deixando meu jaleco pendurado ao lado de algumas roupas que eu deixava ali para emergência. Algumas enfermeiras conversavam em um dos cantos em um tom preocupado, mas não havia mais ninguém ali dentro.

Saí do hospital pela porta de limpeza. Lá não haviam familiares preocupados nem pessoas feridas.

Seokjin sempre estacionava no mesmo setor, então segui naquela direção. O dia estava bonito e ensolarado, diferente das últimas manhãs. Mas tudo o que eu faria naquele dia era descansar e cozinhar algo para jantar em casa. Quando cheguei até o carro de Seokjin, ele observava um pássaro num muro um pouco afastado do carro.

-Você já quis ser livre? -Ele perguntou.

-Livre? Mas somos livres.

-Livres de tudo isso. Do trabalho, das responsabilidades... -Ele suspirou e abriu a porta do carro para entrar. Fiz o mesmo, sentando no banco do carona. -Eu acho que preciso de férias. Já fazem uns 10 anos que não tenho férias nem dos estudos. Estava me perguntando, aonde posso ir, dentro de Seul, para me sentir em férias?

-Você poderia ir para algum passeio turístico. -Sugeri.

-No meio de um monte de turista? Isso seria estranho. Não acha?

Nós estávamos na estrada e Seokjin havia colocado uma música na rádio, quando notei o caminho que seguíamos, não era o que sempre fazíamos para minha casa.

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