{ Página 5 - Ciúmes }

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{ O Diário de Uma Governanta }


{ Página 5 - Ciúmes }


1 Semana Depois

Bárbara era de um nível completamente baixo, uma perfeita golpista. Ela chorava de uma forma forçada e totalmente desnecessária, o pior era que doutor Afonso acreditava em todo aquele espetáculo.

-Ele me deixou sozinha com um filho no ventre!

Assistir aquela cena era deprimente, saí da sala sem pedir licença, eu já não aguentava tanta falsidade.

Eva me olhava com uma carinha, ela sabia que eu estava morta por dentro, e com seu olhar carinhoso tentava me dar conforto. Seus braços me acolheram, eu precisava de um abraço sincero e com carinho.

-Por que meu menino?

Eva suspirou me abraçando, com certeza estava sem palavras.

-Por que essa mulher foi encontrá-lo? Ele estava feliz, amando outra pessoa!

Eu estava indignada, muito indignada na verdade, e também revoltada. A minha vontade era de dar uns bons tapas na cara da Bárbara, e como ela merecia!


8 Anos Depois.


Doutor Afonso agora era um homem completamente mórbido, ficou ainda mais tirano e seco. As cicatrizes em nós nunca fechará, mas eu tentava continuar, porém, doutor Afonso parou ali, no amargor da dor, na angústia da notícia.

Otávio era o fruto de um relacionamento sem amor, e sua educação era péssima, uma criança desmotivada, sem carinho e fazia o possível para ser sempre desagradável. Doutor Afonso o detestava, pouco queria assunto com o pobre garoto, eu até insistia, porém, em vão.

-O senhor quer o seu chá agora?


Perguntei o tirando de seus afazeres, ele me olhou sério.

-Por favor!

Sua voz soou sutil, suspirei e sai em busca de seu chá. Entrei na cozinha e Eva me olhou sorrindo, seu tratamento comigo era como uma irmã, confesso que adoro esse modo como ela me trata. Voltei ao escritório e doutor Afonso seguia com seus papéis, coloquei a bandeja sobre a mesa e fui saindo, mas senti que seus olhos me acompanharam.

Dia Seguinte.


Nos últimos meses fiz um grande amigo, o seu Floriano, ele era muito gentil e cavalheiro, todas as vezes que nos encontramos na rua colocamos o papo em dia, sua companhia é sempre muito agradável.

-Me conte Germana, como você está?

Sua forma de falar era sempre muito amorosa, e perguntar como eu estava era de uma gentileza só. Respondi e a nossa conversa seguiu perfeitamente, conversamos sempre caminhando, isso me agradava, mas por descuido quase caí, seu Floriano me segurou firmemente, não pude evitar e comecei a rir, foi tudo muito engraçado. Fomos interrompidos por doutor Afonso, confesso que me assustei, ele desceu do carro completamente irritado, me olhou e ordenou para que entrasse junto a ele no carro.

-Não fale assim com ela!

Seu Floriano tentou me defender.

-Eu falo como eu quiser!

Doutor Afonso o encarava, eu nunca o tinha visto agir assim, e nem era por um motivo grave. Olhei para seu Floriano e suspirei.

-Está tudo bem, depois nos vemos!

Meu sorriso saiu tão desanimado, eu estava me sentindo humilhada, muito humilhada. No carro fiquei em silêncio, estávamos a poucos metros da casa, não era necessário todo aquele escândalo na rua. Quando chegamos, e entramos na sala Doutor Afonso ainda me olhava daquele modo, (até hoje não sei explicar aquele olhar!).


-Quem era aquele homem?

Sua voz soou grave.

-Me desculpe, mas não diz respeito ao senhor!

Fui grossa, ele não tem que saber da minha vida, ela não lhe interessa em absoluto.

-Você é muito velha, para ficar de namoricos na rua!

Ele foi impiedoso, cruel, quase um déspota. Me senti envergonhada, como ele poderia achar que eu estava de namoros na rua? De fato ele pouco sabia de mim.

-O senhor não tem o direito de fazer o que fez!

Eu estava nervosa, a minha vida pessoal fica fora dessa casa.

-Claro que eu tenho, você trabalha para mim!

Bateu no peito, me senti um objeto e seu dono cobrando a posse!

-Hoje é meu dia livre, bom, era!

Suspirei, eu não me calaria.

-E ainda que não fosse, o senhor não tem o direito de me tratar como tratou!

Pela primeira vez depois de anos me revoltei, eu queria refazer a minha vida, ter novos amigos, até quem sabe um novo amor? E eu finalmente havia tomado coragem, estava me permitindo amar outra pessoa, ou tentar amar outra. Mas meu coração insistia em querer o meu patrão.

-Eu apenas te livrei do ridículo!

Do ridículo? Era isso mesmo? Ele só poderia estar brincando!

-Do ridículo?

Indaguei indignada, quem ele achava que era? Só porque era meu chefe, não tem o menor direito de intervir em quaisquer que fosse minha decisão.


-Sim Germana, do ridículo!


Eu suspirei, ele era uma pessoa realmente amarga.


-Ache o que quiser, a minha vida realmente não diz respeito ao senhor!

Doutor Afonso me segurou quando fui saindo, eu o olhei assustada, por que todo esse escândalo?

-Você não tem o direito de...

Eu o interrompi.

-Não, eu tenho todo o direito do mundo!

Ele me olhou indignado, mas eu já não estava com paciência.

-Olha doutor Afonso, eu estava apenas conversando com um amigo, nada demais!

Suspirei vencida, pedi licença e me retirei, na cozinha Eva me olhava, aparentemente ela escutou as nossas vozes.

-O doutor Afonso está morrendo de ciúmes de você!

Eva disse com um sorriso faceiro no rosto, e então eu pude entender tudo, mas ciúmes de mim? De verdade de mim? Meu sorriso foi espontâneo.

-Mas ciúmes por quê?

Eva fez uma carinha, que também pude rir.

-Ele perguntou se eu sabia onde estava, então disse que havia saído a pouco.

Fiquei a olhando muito incrédula.

-Mas ele só foi, quando eu contei que você poderia estar conversando com um amigo.


Meu coração disparou só de pensar que doutor Afonso poderia estar com ciúmes de mim, logo eu, sua funcionária mais antiga.

O Diário De Uma GovernantaWhere stories live. Discover now