3. Otário adorável

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— Você precisa descansar. — Jasper Presnell estava apoiado no balcão de mármore da cozinha vestindo um pijama velho da Turnbull & Asser com uma caneca de café Folgers na mão. Era a primeira vez nas férias que ele acordava antes das três da tarde, ou, antes de seu pai xingá-lo de vagabundo por não ter um emprego mesmo que Jasper chamasse suas apresentações de free style na Mouth, uma boate hipster próxima ao Prospect Park, de carreira bem sucedida. Ele observou seu irmão mais novo com olheiras de tanto ler uma porra de livro que não acrescentaria nada em sua jornada ao longo da vida. Principalmente se ele não fosse um daqueles mauricinhos da St Jude's. Depois de ser expulso logo no primeiro ano da mesma instituição por agressão física, Jasper se sentia uma pessoa sortuda por não ter dado tempo de ser contaminado com todas as frescuras de jogos de Lacrose e papos sobre peças de Shakespeare. Quem com menos de duzentos dólares na carteira ligava pra isso?

Bem, a resposta estava na sua frente.

— Você não sabe do que eu preciso. — rebateu Asher um tanto mal humorado após ter virado a noite tentando criar uma resenha de O Campo e a Cidade. Ele encheu uma caneca com água quente na torneira e misturou um pouco de café, caminhando até a janela da cozinha, onde admirou o sol começar a surgir entre os prédios vermelhos de paredes pichadas em Williamsburg. Não era uma vista agradável, mas ao mesmo tempo lhe trazia inspiração para escrever seus poemas românticos com versos tipo "A barata cruzou a rua. Você na janela, nua".

— Você precisa de álcool e menos pessoas usando suéter de cashmere no seu instagram — Jasper bebeu um pouco do café e abriu uma caixa de biscoitos Ritz.

Asher apenas se virou, deixando as costas apoiadas no parapeito da janela. O vento que entrava fez uns fios do seu topete estilo James Dean se soltarem. A frase do irmão o fez lembrar da ligação estranha que havia recebido mais cedo da garota que era conhecida por ser a abelha rainha da Constance Billard School For Girls, uma escola de meninas qual o pátio se juntava ao da St Jude's. Além da menina, lembrou da, ainda que breve, voz de Shell.

— A filha dos MacMillan ligou para cá para convidando nós dois pra festa de aniversário dela — Asher caminhou até o balcão, deixando a caneca de café ao lado da de Jasper e pegou um biscoito. — Até agora eu não entendi o motivo da ligação.

Jasper puxou um banco embaixo da bancada e se sentou, prendendo uma mexa do cabelo castanho atrás da orelha. Ele parecia uma versão menos sombria do Jack White.

— Com certeza é coisa da sua namoradinha. — disse Jasper, se referindo a Shelby. Eles haviam ficado amigos graças ao relacionamento dela com o irmão. Mas ainda assim, Jasper a considerava só mais uma menina mimada que passava horas comprando sapatos de cinco mil dólares em sites tipo o Net-a-Porter. Mesmo ele nem sabendo da existência do site.

— Você acha que ela está afim de me ver? —Asher tentou não demonstrar muita animação. Ele havia pedido para que Shelby se afastasse dele após toda a confusão do acidente. Ele não queria olhar nos olhos verdes da menina e lembrar que o pai da mesma — e quase seu futuro sogro — apoiou o cara responsável pelo fato dos pais estarem quase cegos e com queimaduras por toda a parte do corpo após uma explosão causada por uma reação química durante a fabricação de um novo medicamento.

Mas no fundo ele estava soltando mais fogos de artifícios que a Macy's no feriado de Quatro de Julho.

— Cara, você é lerdo às vezes. — reclamou Jasper, revirando os olhos. — É óbvio que ela esta afim de te ver.

Asher mordeu os lábios prendendo o sorriso e pegou sua caneca de café, dando as costas pro irmão ao caminhar direto para o quarto. Não queria ficar esperançoso, mas a festa serviria para fazer as pazes com Shell e dar continuidade ao que ele não deveria ter posto um ponto final. Ele sentia falta de visitá-la em seu apartamento as quartas e sextas na Madison Avenue. Sentia falta de sentar nas escadas do Met após as aulas e abraçá-la enquanto tiravam sarro dos turistas com roupas estranhas que fotografavam pombos e carrocinhas de hot dogs. Sentia falta de tê-la por perto nos momentos difíceis. Ele sabia que sem dúvidas, se não tivesse sido um otário com ela, Shell teria o apoiado durante os momentos difíceis pós-acidente.

Realmente. Ele era um otário.

Mas era tão adorável.

Jasper colocou a cabeça para dentro do quarto, vendo o irmão parado como uma estátua humana na Times Square. Jogou um biscoito na sua cabeça.

— Você não aceitou o convite, né? — Perguntou Jasper torcendo para que o irmão tivesse sido sensato pelo menos uma vez na vida. Asher apenas o olhou em silêncio, fazendo Jasper bufar irritado, e voltar pra cozinha.

Ele havia sido sensato. Mas do jeito que favorecesse ele.

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⏰ Last updated: Jun 13, 2019 ⏰

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