Não tenho um bloco de notas

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28 de janeiro de 2018, 12h40 am - Miss Madalene College

Essa faculdade sempre tinha sido meu sonho, e de quebra era também o sonho dos meus pais. Na verdade, era o sonho de qualquer um. Miss Madalene era uma das universidades mais aclamadas da região.

Pra mim, eu estava vivendo o clichê adolescente (mesmo que já estando crescidinha). Aquele lugar era como um internato porém por apenas 4 dias na semana. Dormíamos, comíamos, vivíamos e tínhamos aula por lá de segunda à quinta. De sexta a domingo podíamos voltar para nosso lar, nosso doce lar.

Como qualquer casa, a universidade tinha suas regras e existiam os fiscais para que se certificassem que estávamos as seguindo.

Um prédio para os dormitórios femininos, um para os dormitórios masculinos e um prédio com todo o resto. Isso inclui bibliotecas, refeitórios, salas de aulas. Sem contar o espaço externo, extenso (era uma faculdade enorme) e feito de linda grama verde que tinha academia, piscina, pátio, árvores, cantina e por aí vai.

Isso tudo significa que não tinha aquela coisa rígida de meninos e meninas não se misturarem, até porque ninguém ali era mais criança. Meninos podiam ir no prédio dos dormitórios femininos e vice-versa, só deveriam avisar na recepção aonde iriam e não adentrar os dormitórios (eu compreendia, até porque tudo tem limite e não estávamos numa colônia de férias).

Tinham câmeras de segurança espalhadas pelos longos e lindos corredores pintados de bege claro. Os tetos eram brancos e delineados por sancas da mesma cor. O chão era coberto por um carpete marrom claro e assim se formava um ambiente leve que me fazia sentir como se estivesse em casa.

As portas dos dormitórios pareciam todas novas, como se as turmas de 2018 fossem as primeiras turmas que estavam ali habitando.

Abri uma dessas portas, a que trazia o número 6119 pendurado, número do meu dormitório e de mais uma menina que eu viria a conhecer.

Dei de cara com uma suíte não tão grande, um quarto com 2 camas, 2 armários e um banheiro. De baixo da janela, logo a minha frente, existia uma escrivaninha com 2 notebooks. Vibrei animada e segui naquela direção.

"Bem-vindo(a), aluno(a)!

Enquanto aluno da Madelene College, este notebook é seu! Mas calma, é emprestado! A faculdade fornece essa tecnologia como parte de seu material e deve ser muito bem cuidado e preservado para poder ser devolvido no final de seu curso.

Logo que abrí-lo, recomendamos que navegue pelo site da universidade (que já está aberto na página inicial do navegador) e prontamente faça seu login. Será por lá que você receberá informações, lembretes e notícias em geral.

Aproveite e boas aulas!"

Como eu teria minha primeira aula à 13h da tarde, larguei minha mala sobre a cama do lado direto (ficava ao lado do banheiro) e me joguei ali mesmo. No mesmo segundo, ouvi a porta do banheiro se destrancar e, literalmente, dei um pulo.

Vejo sair lá de dentro uma menina de cabelos pretos, vestindo uma calça jeans e um body colorido.

- Ai, meu Deus! Que susto! - Eu quase gritei e a menina riu.

Riu porém também tinha os olhos um pouco arregalados. Não sei se o susto foi comigo ou com o grito.

- Oi! - ouvi sua voz suave dizer entre risos - Tudo bem?

Ela continuou caminhando e puxando sua mala para fora do banheiro.

- Ah, me desculpa, você tava aqui primeiro e eu não sabia! Essa cama era sua? - perguntei apontando para a cama que eu já estava sentada.

- Não! Tá tudo bem, eu posso ficar com essa aqui mesmo, sem problemas.

- Se você preferir essa, pode ficar! Não tem problema não! Pode falar! É que eu pensei que o quarto ainda estivesse vazio!

Ela riu de mim novamente.

- Não precisa, pode ficar tranquila, eu tô bem aqui mesmo - respondeu com uma sorriso ainda estampado no rosto.

- Ah, eu me chamo Alice... - eu disse enquanto escolhia as roupas que eu levaria para trocar após o banho.

- Ah, meu nome é Renata! A gente nem se apresentou, desculpa! - A menina se virou em minha direção e apertou minha mão.

28 de janeiro de 2018, 16h42 pm - Miss Madalene College

A primeira aula do meu curso de Artes tinha sido um grande passo no meu processo de desinteresse pela faculdade (pensei que fosse demorar pelo menos 1 semana para isso começar). Até então, eu tinha esquecido que a faculdade era mais do que aquele cenário espetacular, também tinham as longas e cansativas aulas.

Quatro horas seguidas de aula... na primeira hora eu já estava olhando para a parede branca e contando os minutos que faltavam para que eu pudesse chegar no quarto e ligar pros meus amigos.

E essa hora finalmente tinha chegado.

- Renata, dá um tchau aqui pro meu amigo!

Eu conversava com um dos meus melhores amigos, o André. Virei a câmera do facetime para minha companheira de quarto e ela gritou um "oi!" empolgado e agudo.

- André, espero não decepcionar mas tenho que ligar para a Ana ainda... vou ter que desligar.

- Calma! Vamos sair na sexta quando você chegar? Chama a Ana também!

- Vamos! Vou falar com ela agora, mas me manda mensagem mais tarde! Te amo, beijos.

- Também te amo! Beijos! - ouvi a voz falhada do meu amigo antes da ligação encerrar.

1 de setembro, 22h32 pm - Lakestreet (Casa 21)

A sexta feira chegou como um jato e a buzina berrando em frente à minha casa anunciava o início do fim de semana.

Saí desfilando porta afora sobre meus tênis esportivos enquanto terminava de prender minhas argolas pratas e sorri quando cheguei perto do carro de André.

- Nem deu tempo de sentir saudades... - meu amigo disse revirando os olhos - Bate a porta de novo, meu amor! Não fechou!

- Que bom, não gosto de ver você sofrer... por isso escolhi a faculdade que me deixa passar praticamente a metade da semana em casa.

- A Ana vai mesmo?

- Vai, você vai passar lá pra buscar ela, né? Eu disse à ela que você ia.

- Claro que eu vou, só se for agora.

Vi um sorriso divertido aparecer no rosto de André por entre a barba por fazer.

- Vai começar a graça mesmo?

- Ah, garota, para. Já era pra ter começado há muito tempo.

Paramos em frente à casa de Ana e eu prontamente enviei uma mensagem avisando. Ao mesmo tempo, o garoto ao meu lado enfiava a mão na buzina.

A linda vem em nossa direção olhando para o celular e deixando à mostra pra nós apenas seus longos, escorridos e loiros cabelos esvoaçantes. Ana só levantou a cabeça quando sua mão tocou a maçaneta da porta de trás.

Conversa ia e vinha até que fomos interrompidas gentilmente por André:

- Ah - ele levantou uma das mãos e ergueu o dedo indicador -, desculpa interromper, é que um amigo meu vai encontrar a gente lá... Juro que ele é maneiro.

Eu e Ana nos entreolhamos e balançamos a cabeça em concordância.

- Beleza - dissemos em uníssono.

Sonhando AcordadaOnde histórias criam vida. Descubra agora