Sobre o Amor...e Zumbis!!!

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"Quando as trevas descem e encobrem toda e qualquer luz, é o momento que todas as almas malignas despertam."

Acho muito engraçado que em todas as histórias de zumbis as pessoas estão bem contentes em seu dia a dia, na escola, no supermercado, na academia, enfim, em alguma atividade prática.

Comigo não aconteceu nada do tipo. Era um outono. Estava chovendo. E eu estava desempregado e dormindo até o meio dia. Não tive nem ideia de quando começou e provavelmente a chuva abafou todo e qualquer ruído. Como é mesmo que se diz? O mundo acabando e eu dormindo.

Acordei e, como sempre, liguei a TV. Achei que estava dando um filme de zumbis. Mas não. Meio tonto ainda percebi que era o jornal da tarde e estavam veiculando notícias de que estava acontecendo nada mais nada menos que o apocalipse zumbi. Na cidade INTEIRA!

Levantei de um salto e já inteiramente acordado liguei o computador para ver se essa loucura era realmente verdade. Era! A partir disso ocorreu uma enxurrada de pensamentos:

- Como eu queria ter plantas que assassinam zumbis!

- Finalmente vou poder usar meu bastão de beisebol!

- Será que aqueles filmes e seriados estavam certos?

- Por que eu não moro em um apartamento bem alto?

E fiz uma lista mental de prioridades:

- Conseguir comida e suprimentos;

- Conseguir armas e roupas que protejam;

- Identificar lugares seguros;

- E, sobretudo: Ligar para o Gabriel, meu namorado, já que como órfão, ele é a única pessoa que eu tinha.

Felizmente o celular estava funcional. Liguei para ele e como eu sei que o tempo é fundamental nessas ocasiões e perguntei -louco de medo que ele não atendesse- se estava tudo bem.

- Tudo bem. Disse ele.

Foi a frase de maior alívio da face da Terra.

- Gabriel, não saia daí que eu estou indo aí, só vou dar um jeito de pegar comida e chego aí para vermos o que fazer. Fecha bem a casa e se protege. Não se preocupe comigo e qualquer coisa me ligue.

-Tudo bem. Ele respondeu.

Corri ao meu quarto e peguei minha mochila. Fui até a cozinha e não tinha nada de comer... primeira coisa, passar no mercado... mas não sem antes pegar minha arma de pressão com chumbinho e meu taco de beisebol (esperei muito por esse momento)!

Já equipado minha ideia foi ir ao mercado da esquina, que de qualquer forma era a caminho da casa do Gabriel que morava apenas a 9 quadras dali. Abri minha porta com cuidado, carregando minha arma pronta para disparar a qualquer momento. Não parecia um cenário caótico, pelo menos não ainda, só via pessoas (ou zumbis) bem longe e para o lado oposto, então fui saindo com cuidado rumo ao mercadinho da esquina. Espiei pela porta da frente, que estava fechada e não vi ninguém ali, o que me deixou aliviado. Entrei, olhando para todos os lados e corri para o corredor das bolachas e salgadinhos, depois peguei alguns macarrões instantâneos e águas e joguei tudo na mochila.

Ao virar na prateleira para voltar eu avistei um zumbi no final do corredor... tranquei a respiração num ato automático. Voltei para trás da prateleira para me esconder tentando fazer o menor barulho possível. Espiei e notei que era uma guria, de aproximadamente 23 anos. Estava andando do jeito que os zumbis andam e vinha na direção de onde eu estava. Como eu não sabia que tipo de zumbi ela era, de que tipo seriam os zumbis da minha cidade, eu preferi esperar ela chegar perto para atacar. Não quis tentar sair correndo porque não sabia se ela podia correr, ou se era guiada pelo barulho ou enfim, qualquer outra tipo de zumbi que fosse. Não queria nem podia arriscar.

Fui para trás e fiquei escondido no corredor me guiando pelos passos dela... ela foi chegando perto e deu para ouvir que ela murmurava algo como: "eu quero o de queijo", e repetiu, já muito próximo: "eu quero o de queijo". Nesse momento eu saí e golpeei-a com o taco de beisebol bem na cabeça repetidas vezes. Ela caiu e nem deu tempo de gritar.

Todo mundo acha que o apocalipse zumbi seria a oportunidade única de extravasar e matar todo mundo indiscriminadamente... que seria o suprassumo da alegria não se preocupar e sair por aí sentando a porrada em qualquer pessoa que estivesse zumbificada (ou não), mas lhes digo que vendo essa menina estirada numa poça de sangue não foi nada agradável, e que a culpa se abateu sobre mim, mesmo eu sabendo que foi um ato de legítima defesa, um ato de vida ou morte. Única coisa que me consola é que tive que fazer para poder chegar logo (e vivo) na casa do Gabriel.

Mal tinha acabado de filosofar quando ouvi um ruído, tipo um rosnado alto e olhei para o final do corredor e vi que no último caixa estava sentado um menino-zumbi, e o pior, eu o conhecia, de vista, de tanto ir nesse mercado. Saí do corredor onde eu estava, fui em direção à saída e fiquei pensando... se eu sair rápido não preciso interagir com ele... mas... e se ele me segue. Ergui a arma de chumbinho e apontei para ele... e fui me aproximando do caixa devagar. Ele permaneceu sentado, me olhou e disse:

- Aqui está seu troco.

Dei o primeiro tiro. Acertei, graças à mira em cheio no meio da testa. Ele fez menção de se levantar e falou novamente:

- Aqui está seu troco. E eu atirei novamente umas 8 vezes... e ele caiu de cara no chão... não sei se estava morto mas eu fui até ali e bati na cabeça dele com o taco até tudo estar como uma massa disforme de miolos e sangue. Fiquei tremendo devido à adrenalina... não é uma sensação boa ter que fazer isso.

Saí do mercado, fui para a rua... olhei para os dois lados e felizmente não vi ninguém. Fui andando quadra por quadra até chegar à rua dele e dobrei, abruptamente dei de cara com outro guri, que me olhou com uma cara de puro terror (o que foi totalmente retribuído). Já ia sacar meu taco, mas ele se afastou muito rápido e correu para longe. Menos mal.

Entrei na rua do Gabriel e, às minhas costas aparece um carro com 3 pessoas. O carro para e aparecem 3 cabeças para fora me olhando. Eu aponto a arma para eles e berro:

- O que vocês querem? Não teve resposta, ficaram todos mudos. Houve um recolher de cabeças e o carro partiu, para minha alegria.

Cheguei a frente à casa do Gabriel e observei bem se havia movimento ao redor. Estava tudo parado. Entrei no portão e o fechei bem. Pensei em bater na porta, mas sem saber como estava a situação dentro da casa, pensei em abrir direto. Quando eu abri a porta ele estava ali. Senti tantas coisas ao mesmo tempo. Nada superior à felicidade. Comecei a chorar instantaneamente por ele estar ali, por ele estar bem.

Perguntei:

- Está tudo bem? E automaticamente corri para ele o abracei muito forte. Então veio a resposta:

- Tudo bem. Quando eu ouvi isso que eu me dei por conta do quão idiota eu fui. Recebi uma mordida na cabeça, perto da nuca. Invadiu-me uma sensação estranha, como se algo percorresse meu sangue e se espalhasse. Antes de perder o controle eu consegui cuspir minhas últimas palavras:

- Seu miserável, eu disse.

- Tudo bem, ele respondeu.

SOBRE O AMOR E... ZUMBIS!Where stories live. Discover now