• |CAPITULO 22|

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FAGNER SALVATÖRE

A identidade criminal pode ser divida em dois grupos: aqueles que mantem uma vida paralela á do crime, ocultando assim sua verdadeira face, e aqueles que não se escondem, esbanjam sem pudor algum todo o vulgarismo e luxo que conseguem no meio.

Eu me encontrava no primeiro grupo, e minha vida fora do crime era montada – para minha mor-infelicidade – em cima do estresse, da cobiça, do ódio e principalmente, da sagacidade.
Mais do que tudo, a vida de um herdeiro de uma grande empresa multinacional exigia acima de tudo malícia. Malícia para ver que nem todos ali estavam para crescer com você, alguns querem crescer às suas custas, ou, querendo afundar-te.

Para quem olhe de longe, a família Salvatöre, composta por mim, meus avós, dois primos mais novos e um mais velho, era só mais uma família normal. Se aproximasse mais um pouco, veria que a normalidade estava mais fraca do que se pensava: a empresa de meus avós transicionava cerca de 1,7 milhões à cada três meses.

Mas qualquer um ainda via resquícios de normalidade.
O normal saia de cena apenas quando se entrava naquela empresa de maneira íntima. E para quem estava acostumado, como eu, a loucura já era quase um vício pelos corredores.

E ess loucura que pedia sagacidade, malícia e cuidados. Você nunca poderia virar as costas, pois, caso o fizesse, corria o risco de ser apunhalado.

Essa sessão de estresse que tomou conta de boa parte da minha tarde, onde meus primos reuniram-nos para decidir se fechariamos ou não negócio com uma empresa nova na Arábia Saudita. E lá se foram várias horas de um karma interminável de ironias, onde eu e meu primo mais novo apoiavamos o patrocínio e meus dois outros primos não topavam.

Eu me sentia estressado para caralho sem ao menos ter motivo. Merda, eu havia transado e curtido uma noite ótima com Jade, e por Deus, agora tínhamos algo. Eu deveria estar feliz com a idéia de ter Jade só para mim no restante da semana, mas não, lá estava eu, curtindo um efeito colateral raivoso que provinha justamente da vida que deveria encobrir minha outra vida.

A porta de casa estava trancada ao abrir, e como não vi Jade e pela hora, cerca de 2:30 da madrugada, supôs que ela estava dormindo. Acertei em cheio.

A vi deitada, tranquila na minha cama. Vestia uma camisa e cueca minha, com o peitoral para baixo e enquanto seu cabelo desgrenhava-se no rosto. Me aproximo, retirando os sapatos, e a ouvindo roncar baixo, o que me faz rir. Deito ao seu lado, sentindo o cansaço da minha coluna se sobressair e depois desaparecer ao sentir o seu perfume, que eu poderia jurar ser o mesmo que eu usava algumas vezes.

Dou alguns beijos na sua testa, ela apenas resmunga alguma coisa e se acomoda automaticamente no meu peitoral, puxando a camisa como um bebê. E ela era realmente um bebê.

Quem soubesse o que ela faz e fez, não saberia o quão delicada Jade conseguia ser. Sempre se fazendo de forte e racional, eu sabia que ela escondia coisas sobre seu passado, coisas que sentia que nem ela suportava, mas que no fim, suportava.
Mas independente do que essa marrenta metida à durona fizesse, no final ela sempre acabava assim: puxando a primeira coisa que via, resmungando, sonhando como um anjo.

Acaricio devagar as suas costas, numa tentativa irracional de buscar asas nelas.

Onde foi que me meti?
Eu estava tão encantado por Jade, de uma forma que só me vi uma vez, e nunca achei que poderia se repetir.

Por que tão perfeita?
Questionava a mim mesmo sempre que sorria lembrando de Jade. Ela era realmente como um anjo, apaziguando tormentas de maneiras improváveis. Eu nem saberia o que seria de mim sem ela,estava completamente perdido. De certa, eu nem existiria. E agora eu a tinha, e ela tinha me dado mais do que eu poderia pedir, comprar ou sequer imaginar.

E dessa vez eu a protegeria, iria até o Inferno e voltaria por essa briguenta, romperia até comigo mesma para vê-la bem.

— Prometo te amar da melhor forma. – Sussurro, selando um beijo calmo no topo de sua cabeça.

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Bom dia, dorminhoca. – Sorrio largamente vendo Jade abrir os olhos, com a cara totalmente amassada. — Acordou tarde hein? – Zôo ela.

— Ãhn? Tarde... tipo que horas? – Pergunta já fechando os olhos novamente, sonolenta que só ela.

Olho para o relógio atrás de mim, vendo as horas.

— 8:21. – Respondo calmo, mas ela imediatamente abre os olhos e se levanta, indo até o banheiro e curioso, eu a sigo.

— Porra, Fag, meu amor, porque não me acordou mais cedo? Eu estou atrasada, droga droga. – Jade fala, atropelando boa parte da sua frase, e acabo rindo.

— Bom dia para a princesa também. – Implico, recebendo um olhar nada satisfeito dela para mim.

— Bom dia, seu idiota. Agora dá para me ajudar a colocar uma roupa decente? – Pergunta saindo do banheiro após fazer rapidamente suas necessidades e vai já procurando no meu guarda-roupa algo que coubesse nela, para a faculdade. Infelizmente não tinha. Resolvo ser uma alma boa e ao que ela se levanta eu a beijo.

— Posso te ajudar a tirar essa roupa, serve? – Provoco, mas logicamente ela não me dá idéia. Recebo um tapa de leve no braço, e mordo seu lábio inferior com cuidado, logo me afastando e indo até uma outra gaveta.

— Aqui tem uma calça sua, você acabou esquecendo aqui. Quanto às blusas, pegue uma camisa minha, é bom que vai ter a honra de sentir meu cheiro o dia todo. – Falo sorrindo de canto e buscando pela gaveta a calça. Era uma preta, colada ao corpo num material parecido com o látex, que ela havia esquecido ali depois de uma missão que fez à noite, cujo objetivo era por fogo em uma mansão. Jogo a peça para ela e sorrio. — Se bem que não vai ser o dia todo, uma hora eu vou tirar a camisa de você... E a calça... E tudo. – Ela me mostra o dedo médio e eu gargalho. Se troca rapidamente, e não pude deixar de notar seu corpo, que me fez ficar um pouco excitado, mas logo me concentrei na minha missão pessoal, no caso, levar as pressas Jade para sua faculdade.

Por algum mero acaso do destino, e não porque eu sou um puto exibido, o carro que escolho para a levar estava na garagem de trás, era nada mais nem menos que uma Ferrari laranja. Como o caminho da sua faculdade passava por sua casa, acabou que ela pediu para passar em sua casa e buscou seu celular.
Em alguns minutos já estávamos na Capperc'chio, recebendo vários olhares e cochichos curiosos.

— Merda, todos estão olhando. – Jade resmunga tímida quando passamos pelos portões da universidade. Logicamente eu não me incomodava com olhares, mas Jade era notável que se acostumasse com justamente a falta deles.

— Deixe olharem. É bom que podem perceber o quão gostosa você está, e o quão minha você é. – Digo a olhando. A camisa que ela tinha escolhido era uma oreta com riscos cinzas,ficava um pouco larga nela,mas parecia confortável.

Saí do carro, dando a volta para abrir a porta para ela, que sorriu com o ato.

— Um gentleman, diga-se de passagem.– Cochichou ao meu ouvido e também sorri, logo concordando. Sem mais demoras a beijei lentamente, e por mais que não quisesse, fui obrigado a cessar o beijo com selinhos pois ela estava realmente se atrasando.

— Te ligo mais tarde, certo? – Digo alto para que ela ouvisse enquanto entrava e ela concorda, me jogando um beijo no ar em seguida.

Vejo aos poucos os alunos entrarem, e resolvo ir para a empresa, resolver as "pendências".

Vulgo me estressar novamente.

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Info: Revisada dia 12/06 – 1312 palavras

Unidos no Crime - Fetiche Where stories live. Discover now