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Tinha sido fácil fugir da minha família no fim de semana

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Tinha sido fácil fugir da minha família no fim de semana. Meus pais estavam viajando, e quanto aos meus irmãos, uma desculpa qualquer tirou o foco deles de mim. Mas claro que tudo estava bom demais pra ser verdade. Qual era a probabilidade de acabar no mesmo restaurante que os meus irmãos? Pelo que parecia, altíssima.

- Rodrigo. – Agatha sussurra próxima a mim.

Eu já a tinha olhado em um pedido de socorro, numa instrução do que fazer, afinal ela era a mentora de toda essa situação que estávamos. Mas já que ela não dizia nada e parecia estar esperando que eu fizesse algo, resolvi assumir as rédeas. Se ela achasse ruim, eu não poderia fazer nada. Alguém precisava se mexer e se ela não arrumara um jeito, eu resolveria do meu.

- Oi crianças. – puxo Madalena e Maria para perto de mim, e Joaquim segue a prima e a irmã. – Esses são meus sobrinhos. – Eu os apresento aos pais de Agatha. – Esse aqui é o Joaquim, e essas são Maria e Madalena.

- Ah, eles são tão lindos! – ouço a mãe de Agatha exclamar e não posso deixar de sorrir. Afinal, eles são lindos mesmo.

Vejo meus irmãos se aproximarem e aproveito que os pais de Agatha estão concentrados nos meus três sobrinhos para me levantar da mesa e ir até eles.

- O que você está fazendo aqui com a Agatha? – Felipe é o primeiro a me perguntar. – Quem são essas pessoas na mesa com vocês?

- Eu vou explicar com calma depois, mas por favor só sigam o fluxo. – peço, esperando que me acompanhem até a mesa.

- Rodrigo, então esses são seus irmãos? – o pai de Agatha me pergunta e eu apenas assinto em confirmação.

- Estes são Bruno e Felipe e essas são suas esposas, Yanna e Mariana.

Dou graças a Deus por não ter ido pela cabeça de Agatha e ter dito que não tinha mais ninguém da minha família. As coisas estariam muito piores agora. E o fato dos pais dela não terem se aprofundado nas questões familiares no dia anterior permitiu que eu pudesse apresentar meus irmãos pelo que eles realmente eram. Observo Agatha cumprimentar meus irmãos e também minhas cunhadas, que eu sequer sabia que haviam conhecido Agatha antes de mim. Por fim, suspiro antes de dizer a coisa mais difícil.

- Esses são os pais da Agatha. Antônio e Enilda.

- É um prazer conhece-los. Por favor, sentem conosco. Vai ser ótimo conhecer a família do nosso genro. – a mãe de Agatha fala e eu sinto vontade de fechar os olhos, esperando que a bomba exploda.

- Genro... – posso ouvir o sussurro de Bruno e o encaro esperando que ele me entenda apenas pelo olhar. – Claro, genro! – observo ele olhar para trás e as expressões confusas de Felipe, Mariana e Yanna se transformarem em sorrisos.

Sorrisos muito estranhos e forçados, mas eu os amo por tentarem.

Abrimos espaço e meus irmãos e cunhadas se juntam a nós. Durante todo o almoço eu e Agatha tentamos conduzir a conversa por assuntos seguros. Meus irmãos e minhas cunhadas foram maravilhosos e eu estava grato por isso. Tinha certeza que Agatha mais ainda. Quando nos despedimos ainda no restaurante, prometi encontra-los assim que os pais de Agatha fossem embora. Nos encaminhamos para seu prédio, para que seus pais descansassem um pouco antes da viagem. Enquanto estavam no quarto, Agatha e eu ficamos na sala esparramados em seu sofá, exaustos tanto pelo dia turístico, quanto pelo sufoco no restaurante.

- Meu Deus, essa foi por pouco. – sussurro para não correr o risco de ser ouvido.

- Eu achei que eu fosse morrer. – ela sussurra de volta. – Seus irmãos e suas cunhadas não devem estar entendendo nada até agora.

- Eu vou explicar tudo.

- E eu vou morrer ainda mais de vergonha. – observo ela fechar os olhos. – Com que cara eu vou encarar os seus irmãos na construtora?

- Com a cara de sempre. – digo. – Eles vão entender. – ou eu pelo menos esperava que sim. – Não precisa ficar assim. Já passou. Daqui a pouco nós terminamos esse relacionamento e seguimos com a vida, não é? – pego sua mão, chamando sua atenção.

- Sim, claro. – ela me responde.

- Eu só espero que quando “terminarmos” – fiz sinal de aspas – você não arrume outro pra continuar mentindo. – e falo sério, porque ela merecia um relacionamento de verdade, alguém que a valorizasse como ela merecia e a fizesse feliz.

- Deus me livre! Essa única vez já está me bastando. Dá mais dor de cabeça do que um relacionamento real. – ela fala e eu acabo rindo com suas palavras, pois eu não poderia concordar mais.

Pouco depois os seus pais nos encontram na sala, prontos para irmos ao aeroporto. No caminho até lá eles comentam o quanto gostaram da minha família, o quanto meus irmãos e cunhadas eram simpáticos e o quanto os meus sobrinhos eram fofos e espertos. E quando dizem que numa próxima vez querem conhecer os meus pais, Agatha e eu apenas nos entreolhamos.

Porque não haverá uma próxima vez.

Observei Agatha se despedir de seus pais e quando foi minha vez de abraça-los, a sensação ruim de estar mentindo para eles me tomou mais uma vez. Eles eram pessoas maravilhosas. Talvez realmente estivessem preocupados demais com a vida amorosa da filha, e eu sabia o quanto isso era chato, afinal eu tinha meus próprios pais me cobrando um relacionamento sério o tempo inteiro – não que eles me dissessem com estas mesmas palavras, mas na forma como eles agiam e se interessavam quando eu dizia que estava saindo com alguém, o contexto era esse – mas não deixava de ser ruim enganá-los. Se pra mim era difícil, imagine para ela.

- Fiquei muito feliz em conhece-los. – digo após abraça-los.

- Nós é que ficamos felizes, querido. – Enilda toca em meu rosto. – Você é maravilhoso. Obrigada por cuidar tão bem da nossa menina.

Ah, se eles soubessem...

Talvez um dia. Ou talvez não. Eu não sabia se algum dia Agatha chegaria a contar a verdade pra eles.

De toda forma apenas sorrio para eles. E quando nos despedimos mais uma vez deles e voltamos para o meu carro, Agatha e eu damos um suspiro aliviado. Tinha dado tudo certo, pelo menos na medida do possível. Estava feito.

Mas eu ainda precisava encarar os meus irmãos.

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Belzinha meu anjo, feliz aniversário

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