Capítulo 19 - Liberdade

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"Vem, vamos. Está na hora de pegar a sua liberdade de volta."


SER LIVRE É UMA DAS MELHORES SENSAÇÕES DO MUNDO. Não é à toa que tantos povos, na história mundial, lutaram por sua liberdade. Queriam ser donos de suas próprias vidas. Queriam controlar suas próprias histórias. Queriam ter escolhas. Porque é isso que significa ser livre: ter escolha sobre os caminhos que deseja seguir.

Porém, ser livre também implica sair do cárcere que nós mesmos criamos, destruir as muralhas que levantamos, enfrentar nossos medos. Significa deixar de viver em função de nossas histórias trágicas, de nossos traumas, da parte sombria de nosso passado. É um pouco difícil, é verdade, mas não é impossível. Eu ainda não estava completamente livre. O fato de ter contado meu maior e terrível segredo para alguém não era o suficiente para que a liberdade fosse inteira. Ainda faltava contar a verdade para minha família. Ainda faltava confrontar meu agressor. Apenas depois disso eu poderia superar o passado e voltar a ser alguém com sonhos.

Eu pensava na forma com que abordaria o assunto com meu pai e Jorge enquanto Guilherme me mantinha dentro de seu abraço amigável. Era reconfortante saber que ele se importava comigo de verdade, porque foi ele a pessoa que prestou atenção de verdade em mim a ponto de saber que havia algo de errado. Ele me ajudou na minha libertação e eu seria eternamente grata por isso.

— Estrelinha, você disse que me trouxe aqui por dois motivos. Qual o segundo? — indagou ele, tentando deixar o clima mais leve. Com certeza tinha várias perguntas a fazer. Sorri.

— Minha mãe me trazia neste parque quando eu era criança. Passei a maior parte da minha infância observando as estrelas aqui. Amava o planetário, mas aqui era onde eu me sentia mais próxima das minhas amigas. — revelei.

Guilherme desfez o nosso abraço e sorriu. Mas, logo em seguida, seu sorriso se desfez e suas feições tomaram um ar de preocupação.

— Estrelinha... tem algo que eu não consigo compreender nessa história toda. — admitiu ele — Como você conseguiu passar tanto tempo sem contar isso para ninguém? Além disso, como Jorge e seu Tiago não perceberam o seu semblante triste durante todo esse tempo?

Olhei para baixo e depois fitei os olhos castanhos mais doces que já havia visto. Não havia nenhuma sombra de julgamento ali. Guilherme só queria entender, e eu confiava nele. Suspirei e ajeitei meus óculos de grau sobre o nariz.

— Quando você sofre uma violência como a que sofri, a primeira coisa que você pensa é em se encolher em posição fetal até a dor passar. Depois, você começa a pensar na dor que algo como isso causaria em sua família e no julgamento da sociedade. — suspirei e mais uma lágrima grossa rolou por minha bochecha — Você se sente culpada. Você se sente envergonhada. Se você é mulher e é estuprada, as coisas são piores ainda. Todas as vezes que eu pensava em contar para meu pai e meu irmão, minha memória trazia à tona uma colega de escola que havia sido estuprada dois anos antes, e ela ouviu coisas do tipo "aposto que provocou" ou "com certeza ela estava usando roupa curta, estava pedindo para isso acontecer". Mesmo que eu soubesse que não era culpa minha, era como eu me sentia. Eu só tinha dezessete anos e estava assustada. Depois, quando os anos passaram, eu só queria esquecer tudo, ou, pelo menos, fingir que nada havia acontecido para não magoar as pessoas que amo.

Quando Eu Contava EstrelasWhere stories live. Discover now