Londres; Dockland; Quinta-feira; 4:41 da tarde;Tom caiu de costas na cama, encarando o teto mesmo que não o enxergasse. Claro que não o enxergava. Sua mente estava longe demais.
Lembrou-se do ano anterior. Lembrou-se de estranhar o fato do jardineiro ser acusado, ainda mais de ele mesmo assumir a culpa. O jardineiro sempre fora gentil com ele e Ivane. Que sentido tinha ele ter matado a garota?
Nenhum. Oh, Deus. Nenhum! E isso nunca esteve tão claro para o rapaz. Ele teria sido preso no lugar do Sr. Andrews se o mesmo não tivesse assumido a culpa. Claro. E também é claro que seu pai não ficaria nada satisfeito em pagar fiança ou ter seu sobrenome sujo. Imagina, o filho do grande dono das empresas Stein preso por assassinar a namorada. Se Tom não tinha imaginado isso até o momento, bom, seu pai tinha. Não só tinha imaginado como armou tudo para que essa situação desagradável não viesse realmente a acontecer. Ele sabia muito bem que a filha do jardineiro estava com problemas cardíacos, e que Andrews devia ser um pai muito dedicado. Sabia muito bem disso. Por isso fez um acordo com o homem. Esse assumiria a culpa enquanto senhor Stein seria o responsável financeiro por todos os tratamentos da garota, que, por sinal, eram bastante caros, e era improvável que um mero jardineiro pudesse pagá-los. Esse era o ponto em que o detetive Daves queria chegar. E Thomás o avisaria de que ele estava absolutamente correto.
E se ele mesmo não era o assassino de Ivane e o jardineiro também não, então era óbvio que o verdadeiro culpado continuava a solta. Tom sentiu uma cólera doentia se formar em sua garganta e a exteriorizou com um rugido. Um rugido de dor e ódio. Dor e ódio que ninguém mais saberia dizer a intensidade. Qual era a probabilidade de duas pessoas próximas a ele terem sido assassinadas por pessoas diferentes? Qual? O rapaz julgou que mínima, quase nula. Mas quem teria algum motivo para assassinar Ivane e a senhora Paskin? Teria até pensando na possibilidade de ser um aluno revoltado. Mas, caso fosse, ele teria ido primeiro atrás do senhor Johnson, não da Paskin. Não fazia sentido. O que ela e Ivane tinham em comum? Nada. Apenas o fato de que eram as mulheres daquela escola mais chegadas a Tom. Mas quem o odiaria tanto assim para tirá-las dele? Quem?
Seja lá quem fosse, os assassinatos giravam em torno de si mesmo. E seja lá quem fosse, não gostava de quem quer que fosse próximo a Thomás Stein. Ou à Ivane. Ou que soubesse alguma coisa sobre o assassinato. Talvez fosse isso. Talvez a pobre senhora Paskin tenha descoberto alguma coisa. Mas o quê? E quem seria a próxima vítima?
Os pensamentos de Tom se voltaram imediata e involuntariamente para um único rosto. O único rosto feminino pelo qual ainda nutria algum tipo de sentimento. Malu.
Ela estava em perigo.
Londres; Highgate High School; Sexta-feira; 7:30 da manhã;
Ele estava lá desde sete horas. Desde as sete, Tom estava parado no estacionamento da escola, escorado ao seu Audi preto, apenas observando as pessoas que passavam, e, se seu esforço fosse compensado com um pouco de sorte, ver Maria Luiza chegar ao colégio. Ele precisava vê-la, vigiá-la, protegê-la. Era mais do que uma simples culpa pela morte de duas mulheres, muito mais. Era um instinto protetor o qual ele tinha se afogado, e esse instinto girava em torno dela. Era a única pessoa a qual Thomás não queria ver ferida. E por isso ficaria na escola, atento, com olhos de lince analisando a todos que pudessem ter, por uma fração de segundo, a intenção de feri-la. Não permitiria que alguém fizesse mal a Malu. Porque, se isso acontecesse, sabia que não teria mais razões para lutar.
Quando o Civic prateado de Rod estacionou em sua vaga habitual, Tom endireitou suas costas no carro pouco antes de seguir o mais tranquilamente possível para perto de onde Malu estaria. A garota saiu do carro lhe lançando um olhar frágil, que foi rapidamente desviado pelo seu primo, que lhe dirigia a palavra. Thomás viu Rod e Malu seguirem juntos para a entrada da Highgate, e não demorou, nem se incomodou, de seguir atrás dos dois como uma sombra, olhando sorrateiramente para Maria Luiza e todos que a encaravam.
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Ópera
Teen FictionOlhou-se no espelho, tendo certeza que estava sozinha. Examinou-se de cima a baixo: Seus cabelos claros caiam pelos seus ombros como cascatas, cobrindo as alças da pequena camisola cor-de-rosa e o meio sorriso escondido. Ah, o sorriso. Aquele sorris...