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As costas da jovem estavam repousadas no colchão, e seu corpo envolto por um fino cobertor. De olhos fechados, Destiny tinha a súbita sensação de ainda estar imersa na grande quantidade de água e, durante alguns segundos, ocorreu-lhe o pensamento que talvez fosse melhor ter se afogado do que estar em casa. 

Destiny Kish inspirou calmamente o ar, como se seus pulmões tivessem todo o espaço do mundo para abrigar a maior quantidade possível. 

— Quanto fôlego — comentou Laurence, fazendo a filha abrir subitamente os olhos e, em seguida, revirá-los. 

Ambas não tinham uma relação muito boa. 

Aos seis anos, quando Destiny começara involuntariamente a apresentar o dom da precognição, Laurence fizera questão de mudar-se de cidade, arrumar novas identidades e, principalmente, privar a filha de tudo que envolvesse outras pessoas que não apenas as duas. Desta forma, a jovem nunca teve amigos ou paqueras mas, graças ao seu dom, podia ver e ter experiências que iam além de tudo que já havia vivenciado até os seus atuais dezesseis anos. 

Destiny sente uma raiva eminente pela mãe. Entende seu posicionamento já que, quando tem visões, acaba aparentando um quadro de sonambulismo; se mantém na posição que está, mas os olhos se fecham e só tornam a abrir quando retorna do futuro. Ainda sim, acha injusto o fato de só poder sair de casa uma vez por semana, quando toda a vizinhança está dormindo, que no caso, é apenas três da manhã, porque ás quatro em ponto o Sr. Collins acorda religiosamente para sua corrida matinal e ás duas há um garoto fumando baseado no telhado. O bairro nem se quer sabe da existência de Destiny Kish, o que a faz se sentir uma alma penando por dentro da casa de dois pavimentos. 

Dest, eu sei o quanto essa idade pode ser complicada mas, ainda sim, eu estou aqui para lhe proteger — seu tom era doce e gentil, mas a jovem já havia se cansado dessa hostilidade obsessiva sendo disfarçada de carinho. 

Novamente, Kish revirou os olhos. 

— Não é a minha idade que é complicada. É você — disse olhando pela primeira vez nos olhos esverdeados da mãe. 

Laurence mordeu um lado da bochecha e ficou em silêncio durante alguns segundos, como se estivesse pensando em uma forma doce e gentil para o que quer que fosse que queria dizer. 

— Sabe, Dest, eu sacrifiquei muitos anos da minha vida para cuidar de você. Para cuidar de nós. Eu fiz isso durante dezesseis anos e irei continuar fazendo eternamente — seu tom fora forte, como uma leoa protegendo seu filhote mas, novamente, Destiny revirou os olhos. Desta vez deixando um riso debochado escapar por entre sus lábios. 

— Não poderá me proteger para sempre e, mesmo se pudesse, não iria querer.

Os olhos de Laurence sendo iluminados pelo sol que já se punha permitiu a Destiny de vê-los marejar e as bochechas ficarem rosadas. Com um aceno de cabeça, como se entendesse que a filha não quisesse conversa, apenas seguiu rumo a porta e fechou-a em suas costas. 

Destiny bufou e deu um soco no colchão macio. Amava a mãe, mas odiava a forma deveras cuidadosa que agia. E assim, ficava no impasse de como tratá-la; com frieza ou mostrando solidariedade? Bom, agora que ela já se retirou do cômodo, não faz a menor diferença - pensou. 

Se levantando da cama e ficando de frente para a janela, se deu conta de que, provavelmente, havia passado mais de uma hora em sua visão.  Como bem aprendera durante o decorrer dos anos, uma ida ao futuro demorava a passar o dobro no presente, e já que o sol estava quase escondido por trás das casas, era só somar dois mais dois. Fechou os olhos novamente e se deu a pequena oportunidade de sentir o sol sobre sua pele pálida, ansiando pelo dia que poderia andar livremente na rua sem sentir que estava fazendo algo errado.

Push me Harder ✧ Stranger ThingsOnde histórias criam vida. Descubra agora