A Queda

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Eles caiam numa velocidade alta demais para qualquer um acompanhar. Rápido demais para quem estava em volta ter noção de que não estavam lutando durante a queda.

- Raphael! - Aziraphale gritou fazendo o outro que estava caindo abaixo se si abrir os olhos. Estes não tinham mais as pupilas que Aziraphale se acostumou a ver, seu cabelos também ficaram mais escuros, ainda que sem sair do tom vermelho. Os olhos de Aziraphale estavam cheios de lágrimas, não queria perdê-lo para o inferno.

- Oh meu anjo - as mãos de Raphael foram uma para o cabelo e outra para a cintura de Aziraphale, sua voz era calma. - Nunca se esqueça que nada é por acaso, tudo faz parte do Plano Divino. - Raphael sentiu sua túnica, que antes era do mais puro branco agora já estava se tornando mais escura, ser apertada pelo anjo do principado.

- Esse Plano Divino é muito cruel querido - Aziraphale chorava, não queria aquilo, nunca desejou ele longe de si, por que tudo tinha que acontecer agora que as coisas estavam indo bem? Não! Isso não podia ser algo bom.

- Meu anjo, olhe pra mim. - e Aziraphale olhou, mesmo não reconhecendo por completo a aparência que viu, ele ainda conhecia o sentimento naqueles olhos, conhecia o amor que ele aprendeu a apreciar e retribuir, sentia seu medo pelo que poderia estar por vir, mas acima do medo ele via compreensão. - Faz tudo parte do Plano Divino. Não vamos ficar muito tempo sem nos ver, isso eu prometo a você.

- Como pode-

- Só confie em mim está bem? - a mão nos cabelos de Aziraphale deslizaram até seu rosto, o polegar tocou-lhe o lábio inferior e pela primeira vez juntou os seus aos dele, um selo rápido, mas o suficiente para fazer ambos ficarem extasiados pela conexão. Raphael o abraçou quando os lábios se soltaram. - Por favor… Não esqueça de mim Azi…

- Eu não conseguiria. - Raphael sabia que era mentira, pois depois que caísse seria como se sua forma de anjo nunca tivesse existido, sua existência seria reiniciada. Ele lembraria quem foi assim como os arcanjos, mas os outros anjos… Nenhum saberia que ele foi quem foi. - Eu te amo Raphael.

Aquilo foi como uma faca cravada no peito de Raphael, lágrimas desceram por seu rosto, não queria deixá-lo! Não sabendo que ele não se lembraria dele, foi quando num último momento Raphael sussurrou algumas palavras de um feitiço angelical.

- Não se esqueça anjo - desfez o abraço e colocou as duas mãos uma em cada bochecha de Aziraphale, este estancou os olhos nos dele. - Quando ver esses olhos novamente saberá que sou eu, mesmo que isso não faça sentido ou não seja clara a mensagem você vai saber que sou eu.

Aziraphale ainda deixando as lágrimas rolaram assentiu com a cabeça e foi nesse momento que Raphael se soltou dele mergulhou no mar de enxofre infernal.

-x-

Algum tempo depois, no lado leste do jardim do Éden…

- Usaram uma bazuca para matar uma mosca - o anjo Aziraphale ouviu, mas não necessariamente assimilou aquelas palavras, estava preocupado com os humanos que via ao longe, foi quando virou seu rosto para ver quem falava, e seu coração saltou. Não entendia o que estava acontecendo, mas dentro de si algo gritava que já conhecia aquele demônio, ainda que para si nunca o tivesse visto.

- Oh… Bem, disse algo? - estava desnorteado, mas ainda conseguiu perguntar.

- Eu disse que usaram uma bazuca para matar uma mosca. - o demônio disse e olhou diretamente para os olhos azuis do anjo e este por sua vez engoliu em seco, antes de conseguir responder. - Foi um delitinho leve. E francamente, eu não vejo problema em saber a diferença entre o bem e o mal. - essa forma de falar, esse olhar, Aziraphale reconhecia, mas sempre que tentava lembrar algo puxava o pensamento certo de si.

- Deve ser errado… hã..

- Crawly

- Ah sim, Crawly… - ele realmente tinha mais alguma coisa pra falar em relação a isso, mas mudou o rumo das coisas. - Por acaso eu te conheço?

Crawly sorriu misterioso dando de ombros.

- Quem sabe? 

- Hum - mesmo não fazendo nenhum sentido o demônio sorrir por uma pergunta daquela, por algum motivo Aziraphale sentiu seu peito mais quente. Após isso se seguiu a conversa, mas Aziraphale não conseguia tirar da sua cabeça uma única pergunta.

"De onde eu te conheço Crawly?"

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