DILÚVIO

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alerta de triggers! essa história fala sobre como uma pessoa doente se sente. se você é sensível, talvez seja melhor ler outra coisa, ok?

se você achou que eu romantizei o que o jimin sente em algum momento, peço desculpas. é tudo baseado nas minhas experiências com o que EU sinto diariamente. pode conversar comigo se tiver uma opinião sobre meu ponto de vista aqui.

enfim, boa leitura!

não se importava com os sons ao redor. jimin via somente seus pés e seu caminho, descendo as escadas da estação do yeonji park.

na verdade, os ruídos pouco importavam porque não os ouvia; seus fones de ouvido faziam todo o trabalho de mantê-lo isolado, mesmo no meio de uma multidão. e jimin não se importava, ah, não se importava de verdade com nada.

o que era sua vida, afinal? um rapaz de 24 anos, beirando os 25, morando em um apartamento decadente, trabalhando em uma loja inútil de departamento. trancou a faculdade porque não tinha dinheiro; não tinha amigos; sua mãe dava poucas fodas pra ele, só ligava pra saber se ainda estava vivo; também não tinha um amor.

não tinha nada, e não servia nem mesmo pra se perder em algum vício estúpido, como drogas, álcool ou sexo, porque nem saia de casa o suficiente pra dar de cara como isso. e se desse, provavelmente teria uma triste crise de ansiedade no meio de um bando de drogados, que provavelmente só achariam que ele estava... drogado. mas era seu eu de verdade. vivia esperando por alguma coisa, qualquer coisa; coisa que não tinha descoberto o que era.

só esperava e esperava. e nesse meio tempo tinha sua vida.

em resumo, jimin estava só existindo. e existir era repleto de um conjunto de cenas desagradáveis, poucas alegrias e uma rotina. todo dia era a mesma coisa, afinal. ele acordava, tomava banho, comia qualquer porcaria no caminho até a estação de metrô, fingia colocar em prática seu suicídio, e ia trabalhar. quando acabava, comia outra porcaria na volta, fingia que tinha coragem de se matar de novo, e retornava à sua própria e confortável miséria.

nos dias de pagamento comia um lanche mais encorpado, ouvia b-sides de uma banda antiga de kpop e fingia que não estava fingindo colocar em prática seu plano. o àpice da vida de jimin talvez fosse esse. e era bem deprimente, pra ser sincero.

ele sabia disso.

não era bonito, não era fofo. ele se sentia mal. e sozinho, o tempo todo, sem trégua.

se sorria por três minutos, passaria três horas tentando entender o motivo; não tinha. era um merda, um clichê, um folgado, um conformado, um ingrato, a definição do fracasso. por que tinha direito de sorrir? de se divertir?

não tinha ninguém pra compartilhar alegrias, bem como também não tinha ninguém pra compartilhar as derrotas. e mesmo se tivesse, manteria cada gota da dor que lhe preenchia o vazio para si mesmo. afinal, era melhor sentir dor do que não sentir nada.

agora que sabemos minimamente sobre as derrotas de park jimin, podemos entender melhor a sua mania estranha.

era um hábito quase que intrínseco. ás vezes fazia sem perceber e não percebia mesmo depois que tinha feito, que de fato era aquilo mesmo. ás vezes era intencional. as vezes esquecia. nos dias bons, do kpop e do lanche saboroso, ele se lembrava. e mentia pra si mesmo que não. fingia mesmo que eram dias doces.

jimin descia as escadas, mirando seus pés, alguma música triste dos anos 90 nos fones de ouvido e seus tênis velhos lhe guiando pra frente, um passo depois do outro. parava sempre na terceira porta do primeiro vagão, onde sabia que tinha um assento unitário se virasse à direita quando entrasse no trem.


deluge {jikook}Where stories live. Discover now