𝟒𝐭𝐡 𝐚𝐜𝐭: 𝐭𝐨𝐦𝐚𝐭𝐞𝐬

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pela memória me cai o chão e o orvalho escorrega os meus sapatos lisos no piso gelado do inverno rigoroso. aqueço a minha alma com meia dúzia de doses de qualquer baboseira transparente para poder entender qual a sede desalmada que encanta o mundo vazio e gélido. brisa fria escorre condensada pelo meu rosto, vazando pelos vincos que o estresse vem formando e formando pela pele descascada há um bom tempo. eu me engano pela primeira vez de mais umas setecentas mil e sei lá quantas.

XVI. eu já perdi a conta já na primeira palavra

de todo o coração eu quis te pegar pela mão e cortar cada um dos seus pedaços para pôr entre os dentes à fim de sentir o seu gosto como uma fruta. prometi para mim mesma que um dia você seria um tomate suculento o suficiente. que pudesse manchar de um vermelho divertidamente gostoso e doce pelos meus lábios para saciar a fome que eu tenho de você.

juro que as vezes eu morro de vontade de fazer qualquer tipo de veneno que você possua escorrer,
len ta men te
como sangue
pela minha língua

para sentir queimar as minhas cordas vocais e até não me deixar silabar nem mais uma melodia. eu posso cantar em quaisquer línguas existentes, inclusive a dos tolos.

eu vou cair no chão e quase bater a cabeça na quina de um azulejo.

fazer pingar veludo vermelho em terra fértil até que nasça um novo propósito e mais um novo sol que possa consumir com a minha alma de novo. e de novo e de novo todas as manhãs de um ciclo vicioso.

o sol corrói a alma depois de um tempo.

e é aí que você percebe que tomou o controle sob o meu corpo pequeno e frágil que gira no meio da casa, perdido e pedindo por favor para que você me coloque entre os seus dentes dessa vez.

e eu vou ser mais um dos tomates que nasceu dentro de uma caçamba de lixo no meio do nada. você vai me recolher como se tivesse pena de mim e vai me colocar na sua sopa de letrinhas que bem na verdade só possui uma letra.

o A de amor, que precede de maneira majestosa o A de arrependimento.

XVII. minha cabeça está girando, girando, girando e girando.

𝗃𝗎𝗅𝗒Where stories live. Discover now